sexta-feira, 27 de junho de 2014

Hoje, hoje... nada para escrever!


Hoje,
sou um marinheiro sem embarcação,
um pedaço de madeira sem mar,
hoje, hoje... nada para escrever,
faltam-me as palavras,
faltam-me... os teus silêncios sem madrugadas,
hoje,
sou um marinheiro sem embarcação,
um rio sem encontrar as tuas lágrimas,
hoje, nada... nada para escrever,
porque hoje,
hoje sou um ínfimo cadáver nas páginas de um livro...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Junho de 2014

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Desenhos de Francisco Luís Fontinha


Espelhos desventrados


Porque teimas em silenciar-me,
se amanhã não existo...

Porque não percebes que o meu corpo são pedacinhos de xisto,
milímetros de muro com sorriso para o rio,
porque dizes que as minhas palavras são cadáveres em movimento,
cabelos enrolados no vento,
esperando o acordar da madrugada,
espelhos esmigalhados com mãos de amar, espelhos... espelhos apodrecidos na calçada,

Espelhos desventrados,
esperando que a janela da insónia se abra,
e... e entre a claridade nos teus lábios,

Porque teimas em silenciar-me,
se amanhã não existo...

Se amanhã sou espuma,
cansaço,
e... e mar,
porque amanhã os pedacinhos de xisto que habitam no meu corpo...
são... migalhas,
pó,

Nada...
agulhas,

E... e não me esperes mais,
porque os muros... porque os muros depois de morrerem...
jamais renascerão para o teu desejo de me cansar,

Nada...
agulhas,

Se amanhã sou espuma,
cansaço,
e... e mar,

Se amanhã sou... se amanhã sou o teu amante disfarçado de luar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Junho de 2014

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Projecto de Livro (Ficção)

Noites de Mim – Francisco Luís Fontinha

Desejo não desejando


Desejo o coração de arroz doce que habita em ti,
desejo-te sabendo que é impossível desejar-te,
amo-te sabendo que...
é impossível amar-te,
acaricio-te sem te acariciar,
poema vagabundo,
texto de ficção não revisto,
palavras,
palavras de vidro espetadas nas tuas pálpebras de azoto,
desejo o coração, aquele que está encerrado na caixinha de vinil,
transparente como as lágrimas do luar,
perdidamente triste esperando o sol junto ao leito do rio,

Desejo não desejando,

Desejo o teu coração como desejo os versos de uma canção,
melódica,
poética...
apaixonada pelo agreste amanhecer dos dias sem madrugada,

Desejo não desejando,
desejar que me desejes, desejar que amanhã um relógio de pulso se canse,
e grite...
morra o tédio,

Desejo não desejando,

O coração de arroz doce que habita em ti,
os pedacinhos de saudade que voam sobre o Tejo adormecido,
desejo todas as pedras da calçada,
aquela..., aquela onde andei perdido,
desesperado,
quando cambaleava ao som de uma prostituta sem nome,
deitava-se e..., desejava-te não o sabendo,
havia lâmpadas no teu olhar,
havia livros nos teus braços,
nos seios teus de encantar...
Desejo não desejando,
que um dia apareças... apareças sem me avisar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Junho de 2014