quarta-feira, 19 de março de 2014

Sombras cristalizadas


Aqui, permaneces intocável, como o guião de um filme em construção,
aqui sentes-te o herói térreo das sombras cristalizadas,
funestas palavras, os cigarros voam sobre as árvores do quintal,
há uma nuvem de açúcar quase a evaporar-se nos teus lábios,
e sentes?
sentes as palavras não ditas, aquelas que escrevíamos em noites de ninguém?
sentia-te perto, e tu longe,
tão longe que nem as estrelas conseguiam abraçar-te,
dar-te um beijo,
simples, tão simples como adormeceres no cansaço da vida,
e a vida é o esconderijo da dor,
habita em ti e de ti se alimenta...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 19 de Março de 2014

terça-feira, 18 de março de 2014

Pigmentados beijos

foto de: A&M ART and Photos

Pigmentados beijos de ti, Sereia adormecida,
Oceano retalhado dos teus lábios amanhecer,
mulher que sonha e inventa palavras nos muros de xisto ao luar,
regressa a ti a noite, e dela, todas as fotografias mais belas que se alicerçam no teu peito,
beijos, bocas renegadas e sem jeito,
árvores poisando pássaros apressados e apaixonados...
louca, tu, quando acordas e vês no espelho da poesia os seios desgrenhados do poeta,
inventas,
e finges orgasmos nos socalcos mergulhados em lágrimas,
e alimentas...
e sentes... sentes lá fora o deambular da chuva miudinha,
que os pigmentados beijos de ti..., Sereia adormecia, essa... constrói a neblina.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 18 de Março de 2014

Blogue Cachimbo de Água em destaque – Sapo Angola


segunda-feira, 17 de março de 2014

Panfletos negros

foto de: A&M ART and Photos

Liberto-me dos panfletos negros que habitam nos muros tuas mãos,
há pedacinhos de silêncio, pequenas gotículas de solidão invisíveis ao meu olhar,
escrevo-te, escrevo-te sabendo que hoje existe luar, e palavras impregnadas nos seus lábios,
e que... e que o amor morre, como eu, como tu, como... como os rios antes de adormecerem,
sonharem...
liberto-me percebendo que às palavras dar-lhe-ei o descanso eterno,

E que o meu envelhecido corpo, esse, coitado... cinza,
dispersa,
voando sobre os imaginários telhados de Luanda,
liberto-me,
sim, claro que sim... liberto-me dos panfletos negros,
sombrios, nuvens de chocolate mergulhadas em nocturnas estrelas sem pálpebras,

A cidade submerge da tua boca de cristal puro,
o vidro dos teus olhos... parte-se... e sinto-o descendo a calçada em direcção a uma rua sem saída,
uma penumbra fresca de água e estanho embalsamam o teu corpo em papel vegetal,
e oiço a tua voz em pequenos grunhidos...
como um calendário ardendo na fogueira do desejo,
e dizem-me que estou em liberdade.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Março de 2014