terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sílaba louca

foto de: A&M ART and Photos

A mágica sílaba louca
da ardósia tua boca
desenhando
escrevendo
construindo palavras nas pálpebras do sono,

A mágica sílaba louca
correndo à fonte a água pouca
saltitando
sonhando
as madrugadas de veludo em seu tão distinto trono,

A mágica sílaba louca
como nunca ninguém a viu nas manhãs sem touca
humedecendo
comendo
os censurados cobertores do absorto mono...

A mágica sílaba louca
sabendo que terminaram todas as rimas do silêncio em poupa
a cabeça dançando
e os braços... e os braços abraçando
as insígnias maleitas do desejo nono.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 14 de Janeiro de 2014

Blogue Cachimbo de Água em destaque na Rede – Sapo Angola



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Esqueleto apátrida

foto de: A&M ART and Photos

Nas pálpebras do silêncio um fino fio de tristeza,
mergulha, insemina e cresce como pétalas cinzentas,
corre na límpida água fresca dos seios encastrados na montanha do desejo,
morrem todas as palavras terminadas em OR,
morrem as nuvens de chocolate e os sinos ásperos do sofrimento...

Ouvem-se-lhes nas migalhas do dúctil granito as mágoas de um final de tarde,
sem luzes amarelas, sem néons alicerçados à cidade do medo,
ouvem-se-lhes os ditongos gagos nas planícies desnorteadas do corpo adormecido,
sem luzes amarelas, sem... nas migalhas do dúctil granito as mágoas... de tarde,

A dor veste-se de negro, e o vértice do prazer desalinha-se em relação ao centro da Cárcoda espalhada pela serra da Arada,
lobos uivos distraem-nos como pedaços de vento saltitando de pedra em pedra...
tropeça-se no buraco da nocturna habitação esquecida junto à ribeira,
e... o Inverno, e o Inverno transforma-se em esqueleto apátrida.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 13 de Janeiro de2014

domingo, 12 de janeiro de 2014

Não... não... não... não te quero porque és uma migalha de pão sobre a pedra mesa da solidão

foto de: A&M ART and Photos

Não quero ser a lágrima inventada pelo teu putrefacto corpo
a palavra escrita na tua lápide de silêncio como uma gaivota em sofrimento
não quero ser o teu desejo inacabado
a porta encerrada do jazigo da tua minha loucura...
não quero as tuas cinzas embrulhadas em prata
numa urna calafetada
um cortinado chorando
não quero ser a estrada onde permaneces invisível
erva comestível... folha de jornal húmida das tempestades da paixão
não
não quero ser a chave do teu coração
a tua mão,

Não quero ser o teu corpo de porcelana
envenenado
com sabor a poema
não
não... não quero que tu me digas – Amo-te... quando eu não quero ser amado
não
não quero os teus cabelos
fecho os olhos quando imagino os teus lábios
e sinto no teu olhar a ravina até ao poço da desgraça
és a cidade empenhada
a pulseira sem nome no braço do condenado...
não,

Não quero ser o teu amado
prefiro um cadeado
um cão
um livro
mas não
não quero ser o que tu queres que eu seja
um doente mental
um quarto desabitado...
um punhal espetado
não
não o quero...
não,

Não o quero no meu peito
os beijos
as carícias
vestidas de milícias...
não... não... não... não te quero porque és uma migalha de pão sobre a pedra mesa da solidão
não te quero porque pertences às brancas montanhas dos alicates em aço.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 12 de Janeiro de 2014

Granito censurado

foto de: A&M ART and Photos

Não me perguntem porque desejo tanto o mar
porque sou uma lâmina em papel voando sobre a alvorada embriagada
não quero pertencer aos corações de areia
às janelas sem vidros ou... ou com eles estilhaçados...
não... não me perguntem o que são noites em solidão
masmorras com sabor a limão
mesas candeeiros e portas de entrada em constipação...
não me perguntem pelas palavras mortas
suicidadas
esquecidas
velhas...
… ou cansadas,

Não me perguntem pelo verdadeiro amor
embrulhado em lençóis de paixão
não quero saber do luar
da luz
das calçadas com pedras de chorar
não... não me perguntem pelos sábados à noite entre uísque e lágrimas de poesia
corpos despidos pedindo clemência às cordas de nylon em fantasia...
… ou cansadas
não
não me perguntem pelas tristes madrugadas
cintilantes seios no meu peito em granito censurado...
não me perguntem porque desejo tanto o mar.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 12 de Janeiro de 2014