quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Elas as bailarinas

foto de: A&M ART and Photos

Imaginas-me?
descreve-me como és se ainda não o és
isto é
imaginas-me imaginando caminhar mar adentro
escrever na areia os verbos emagrecidos das pétalas doiradas
descreve-me
e imaginas-me... como um barco que se afoga no Oceano
imaginas-me como um náufrago sufocado com imensas palavras
desenhos
ruas
portas e janelas
e bancos de jardim

Belas
as flores
e os canteiros das intermináveis manhãs de Outono...

Elas
as bailarinas sem sono
imaginas-me?
candeeiros de papel
fios
meias...
cobertores imaginados quando me imaginas...
imaginas-me... deitados
o silêncio entrelaçado na tua mão
o beijo entalado nos teus lábios
imaginas-me?
eu... eu apaixonado?

Belas
as flores
e os canteiros das intermináveis manhãs de Outono...

Imaginas-me sendo o Sol?
mulher criança velho doente?
pigmeu cansado ausente...
sombra árvore e presente
imaginas-me... farto das palavras
dos versos
dos poemas e das... putas
parvas...
traiçoeiras madrugadas
nocturnas drogadas as tílias em chá...
e eu... esperando que me imagines...
… descreve-me como és se ainda não o és.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 18 de Dezembro de2013

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Janelas envenenadas

foto de: A&M ART and Photos

Aqui sei que me esperas como janelas envenenadas
aqui sei que me amas
e desejas
sempre que o cortinado tomba e dele se derrama o líquido chamado de solidão...
aqui tenho-te dentro de mim
aqui sou eu
aqui... aqui somos livres de amar
desejar
possuir esqueletos com asas em papel
e és gira com vestidos de napa
derretida nos límpidos tecidos do teu insignificante corpo encurvado
ao leme o velho monstro de quatro cabeças...

Confessas-me que tens velas de seda
… e desejas tanto o vento como a sombra da minha mão...
vaidosa
pareces uma pomba com sandálias de porcelana
Princesa
invejosa...

Aqui confundo-me com as árvores envelhecidas
onde poisam pássaros recheados de reumatismo
e bicos de papagaio...
aqui sou feliz
aqui
aqui vivo percebendo que a vida é uma roldana
uma velha roda dentada
gasta
sem dentes
sem nada
aqui sei que me esperas como janelas envenenadas
e quando desce a lua sobre os teus seios... apenas oiço o suspiro das calçadas

Aqui já fui o Príncipe das Avenidas gastas
o velho escorpião dos bares nocturnos do prazer
aqui fui o velho marinheiro
o cachimbo de água do confuso poeta escritor aldrabão e impostor...
aqui vivo
e aqui morrerei como uma serpente enrolada no pescoço da saudade

Aqui
aqui... serei o teu cadáver depois de travestido em fúnebre jarra parda com flores plastificadas
cansadas e tristes e aqui...
aqui... perdi-me de ti enquanto voavam as gaivotas dos círios cabelos castanhos da montanha.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Dezembro de 2013

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Nada mais

foto de: A&M ART and Photos

Fingíamos o sossego quando dentro de nós habitavam tempestades
fugíamos para o cume da montanha mais próxima
abríamos uma das quatro janelas da ginga
fundeávamos junto ao corpo emagrecido que a madrugada acabava de expelir
fingíamos
e fugíamos
e uma chaminé alicerçava o vento à copa das árvores
os pássaros pareciam agulhas enfeitando panos de renda
e os poucos galhos dos desenhos queimados...
apenas sobejaram os lenços de papel
lágrimas
e nada mais para recordar...

A saudade morria...
e aos poucos erguia-se o desejo cansado
virgem...
atraiçoado

Fugíamos das cavernas com carris de prata
abríamos o livro dos sonhos na página duzentos e sessenta e três...
a ginga vomitava soníferos gonzos com alegres pregos de aço
a árvore de Natal tinha desmaiado...
tonturas
talvez devido ao excesso de luz
ou... com medo das sombras que todos nós sabíamos existirem no nosso corredor sem portas
ouvíamos vozes que provavelmente tinham a sua origem no presépio da loja Chinesa...
e confesso que não percebi patavina do que elas diziam...
apenas percebi que a vaca sofria de cólicas renais
e
nada mais.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Dezembro de 2013