domingo, 15 de setembro de 2013
a navalha do sofrimento
foto de: A&M ART and Photos
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colocas-me a navalha do sofrimento
sobre os meus lábios ensonados
sinto-te fria e distante
sinto-te além
ausente
e aqui ao lado
lá fora perto de uma árvore que acaba
de tombar
um pequeno sorriso ergue-se no meu
jardim
e de um simples olhar
os teus olhos entram juntamente com a
maré
em mim
e o meu corpo pertence-vos...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Setembro de 2013
sábado, 14 de setembro de 2013
Doce face em claridade alface
foto de: A&M ART and Photos
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Não respiro, as tuas calças sufocam-me e entro no
vazio da melancolia que deixaste ficar sobre a mesa da sala de
jantar, sento-me e adormeço até que sinto acordar o dia vestido de
tristeza, a agonia entranha-se no soalho junto à lareira, imagino-te
caminhar descalça no pavimento encerado sobre a madeira estrangeira,
vejo no chão o espelho que nunca vi e que pensava não existir,
caminhas, nua, só minha, só para
Para ti, meu querido, apenas,
Só,
Como as árvores não plantadas do teu quintal com
vestígios de silêncio, e ao longe, imaginamos o mar entrar-nos pela
janela do quarto, oiço a tua doce voz no tal
Espelho em soalho encerado?
No teu corpo, no teu corpo como ontem existiam
peixes no aquário que tinhas no Hall de entrada, a porta evaporou-se
e todas as janelas
Morreram?
Voaram como lágrimas em queda livre da tua doce
face em claridade alface,
Morreram... como morrem todas as paixões e todos os
esqueletos com duzentos e seis ossos, expirou a validade dos teus
beijos, e a cidade respira ingenuamente como uma planta esquecida num
dos imensos jardins em Belém, não respiro eu, e sei que as tuas
calças deambulam como desassossegos verdes contra as paredes de
gesso dos compartimentos que nunca saíram do papel, projectos,
desenhos concebidos milimetricamente para se afogarem no rio da
saudade, hoje, hoje dizes que sou eu, hoje sinto-me um barco a
flutuar nas tuas coxas, hoje
Só...
Hoje percebi que as imagens de mim são reflectidas
nos fantasmas dela, e que ele pertence à cidade, é filho do ciume,
ele
Só?
Hoje percebi que as imagens de mim são reflectidas
nos fantasmas dela, e que ele pertence à cidade, é filho do ciume,
ele delicia-se com as mensagens secretas dos pensamentos travestidos
telepaticamente depois de cair a noite sobre os largos ombros,
sento-me e adormeço até que sinto acordar o dia vestido de
tristeza, a agonia entranha-se no soalho junto à lareira, imagino-te
caminhar descalça no pavimento encerado sobre a madeira estrangeira,
vejo no chão os barcos enferrujados, vejo no teu chão palavras,
muitas palavras para mais tarde escrever, ler, rasgar, pintar,
palavras em pequenos molhos e vendidos nas ruas ímpares, e hoje
Só, eu, perdido na cidade com dentes de marfim e
garganta de xisto, oiço-te quando me chamavas e eu acordava
embrulhado em cobertores de lã, era verão, questionavas-me
Tens tanto frio, meu querido, estamos no verão...
Imaginava o que pensarias, imagino hoje o que
pensas... quando percebeste que eu era uma paixão impossível,
quando percebeste que eu era um pássaro em aço e impossível de
destruir, tens... frio... no verão,
Só, então!
E vi no teu soalho encerado as lágrimas que foram
minhas, quando tu ainda criança, eu, eu voava sobre as nuvens e as
gaivotas, e quando acordava, percebia
Percebias...
Querido, tu estás na lua?
Claro que não, apenas frio, frio...
Percebias que eu era de pano, que eu era um
espantalho que decidiste queimar numa fogueira juntamente com alguns
dos livros que sobejaram das vendas clandestinas,
O jardim
Só,
Ardia, ardia como ardem as cidades de palha...
(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Setembro de 2013
nuvens de azoto
foto de: A&M ART and Photos
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existes porque eu quero que existas
choras
não porque eu quero que chores
abraças-me porque eu quero que me
abraces
amas-me
não porque eu quero que me ames
existes
insistes
e não desistes...
choras porque há nuvens de azoto nas
pálpebras do Sol
porque eu quero que tenhas asas
e que voes e que voes.., como uma
gaivota em desejo
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Setembro de 2013
um livro húmido sobre a cama da paixão
foto de: A&M ART and Photos
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os medos teus absortos molhados olhos
os sofrimentos dele embrulhados em
pedaços de papel cansados pelo peso das palavras
um livro húmido sobre a cama da paixão
liberto e amorosamente flutuante nas
clandestinas janelas do desejo
o mar suspenso na tua mão de pétala
cidade com telhados de vidro
o cubo onde te escondes
e dormes
transformado em insónia
os medos das nuvens encarnadas
como das flores pedestres nos abraços
dela
e mesmo assim... escondo-me em ti
fujo das rochas xistosas que vivem nos
teus cabelos
desço socalcos até acariciar os
lábios do rio
deito-me na garganta invisível dos
túneis onde os corpos deles escrevem quando lá fora chove
há lâmpadas indesejadas nas ruas da
cidade
como homens e mulheres
também eles e elas
indesejados e indesejadas
por outros homens
por outras mulheres...
os medos teus... molhados olhos
e deitas a cabeça no ombro que dizem
pertencer-me
e deitas as pálpebras cinzentas
como gotas de água...
na minha boca de luar
pelos molhados olhos... teus
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Setembro de 2013
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
as palavras que sussurras em mim da madrugada marginal
foto de: A&M ART and Photos
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a ditadura do teu olhar
arrependido nos cortinados das palavras
embriagadas
uma corrente de medo enrola-se ao teu
peito de incenso
e à janela
acorda a noite vigiada pela tempestade
dos teus lábios
sou um pequeno barco enferrujado
vagueando entre pontes e carris
desmantelados
sinto em mim a tua língua à poesia
mendiga
que vou escrevendo no teu vagaroso
corpo
como as teias de aranha do púbis que
engole a manhã
sou o pulso dos gritos uivos que
desabitam a tua mão com sabor a paixão
e entra em nós o silêncio desejo
o caranguejo que se esconde na
velhíssima carapaça de aço
voando sobre a cidade em ruínas...
e sei que tu recordas as palmeiras do
largo em lágrimas dos paralelepípedos como sandálias escorregadias
ou montículos de areia
deitados junto às rochas em
desassossegos cansaços de sémen
esperamos a maré desajeitada
sobre uns míseros lençóis de cartão
escorregadias... as palavras que
sussurras em mim da madrugada marginal
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Setembro de 2013
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
se o vinho é Grimalde... só ela o sabe
Foto de: A&M ART and Photos
(se o vinho é Grimalde... só ela o
sabe)
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bebo-te quando mergulhas nas doces
gotículas do orvalho
silencio-me nas tuas mãos híbridas
e húmidas entre fantasmas e canções
de amor
amo-te nas pétalas clandestinas dos
olhos azuis
que os teus dedos deixam adormecer no
meu rosto cinzento
e triste porque pareço um relógio de
pulso perdido na algibeira da poesia
bebo-te sabendo que és uma flor
emagrecida dentro do espelho da saudade
parecida com as gaivotas dos rios
nocturnos que a insónia semeia no teu peito de areia
amo-te como amo as palavras
insignificantes
palavras dispersas voando debaixo dos
arciprestes nas lareiras da paixão
bebo-te como se fosses o melhor vinho
dos socalcos envenenados pela tristeza...
e tu pareces uma tela suspensa na
parede do meu segredo
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha - Alijó
Quinta-feira, 12 de Setembro de 2013
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
esquecer-me em ti de ti
foto de: A&M ART and Photos
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um cigarro esquecido
na tua boca de serpente
envenenada pela solidão
em ti
um cigarro ardido
de ti
ausente
quando o coração
de uma árvore parte e voa em silêncios
de espuma
um cigarro mordido
em teus lábios de ternura
em ti de ti... senti
em ti
e de ti
a claridade mente
a madrugada distante
como as águias dos esconderijos
mergulhados em ténues mãos de areia
ardem como as palavras incandescentes
e as sereias
parvas
em pequenas sementes
do corpo embrulhado em tristes
larvas...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 11 de Setembro de 2013
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