quinta-feira, 4 de julho de 2013

… 2970 e a descer...

foto: A&M ART and Photos

(este cabrão deste censor é mesmo um grande filho da puta)
O povo gritava,
Revolução, revoluçãoooooo...
O povo farto, eu, eu que sou o povo, apenas nesta história, cansado, apenas num dia perco cinquenta e quatro amigos no Facebook, pergunto-me, porquê,
Porquê questiona-se ele,
Porquê?
Todos, hoje, resolveram remover a amizade que tinham comigo, ou apenas por motivos de censura, algum idiota, para não o apelidar de (cabrão e filho da puta), resolveu, hoje mesmo, remover os meus amigos, telefonou a uns quantos, uns quantos, como as ovelhas, passaram a palavra, e aí está, 2971 e a descer, noutros tempos, ficaria muito chateado, hoje, hoje sinto-me alegre, contente, porque podem remover-me todos os amigos... mas não podem tirar-me as palavras, mas não podem encerrar o Blogue Cachimbo de Água, não podem, não podes, e a descer
Agarra-te minha querida, agarra-te, e coloca o cinto segurança,
Não, não vamos morrer, não chores, oh... não chores que as lágrimas deixam o teu lindo rosto tristonho, como uma rosa, depois da chuva, sim, vamos conseguir, olha meu amor, olha para mim
Estou a olhar, meu querido,
Eles, eles não vão conseguir,
Juras?
Juro, acredita, acreditar sempre, olha sabes quem está em Alijó?
Não, não sei meu querido,
O meu “rating” de amigos está a descer, como o Ex-espião Americano Edward Snowden que tenho a informação acaba de aterra neste momento no Aeroporto Internacional da Chã e vai ficar uns dias hospedado numa unidade hoteleira da linda Vila encastrada no coração do Douro Vinhateiro,
É só o facto...
Diz, minha querida, diz,
Refiro-me à sujidade das ruas, e ao mau cheiro dos contentores do lixo, isso?
Sim, isso,
Isso ninguém vai notar...
Revolução, revoluçãoooooo...
(este cabrão deste censor é mesmo um grande filho da puta)
Isso ninguém vai notar... o cheiro é uma sombra invisível, indolor, como a paisagem, olha meu amor,
Sim, meu querido,
Acreditas em gaivotas?
Acredito,
Acreditas?
Sim, acredito...
Pois... não devias acreditar...
Porquê?
“Todos, hoje, resolveram remover a amizade que tinham comigo, ou apenas por motivos de censura, algum idiota, para não o apelidar de (cabrão e filho da puta), resolveu, hoje mesmo, remover os meus amigos, telefonou a uns quantos, uns quantos, como as ovelhas, passaram a palavra, e aí está, 2971 e a descer, noutros tempos, ficaria muito chateado, hoje, hoje sinto-me alegre, contente, porque podem remover-me todos os amigos... mas não podem tirar-me as palavras, mas não podem encerrar o Blogue Cachimbo de Água, não podem, não podes, e a descer
Agarra-te minha querida, agarra-te, e coloca o cinto segurança”,
“FODA-SE...”.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

P.S. A foto que acompanha o texto dá direito à perda de 250 amigos...
(Quero lá saber, o censor que se foda)

Blogue Cachimbo de Água


Blogue Cachimbo de Água

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Como tu, refugiada em palavras mortas

foto: A&M ART and Photos

Como tu
refugiada em palavras mortas
mórbidas borboletas de veludo
voando
sonhando câmbios e orgasmos das neblinas filhas da madrugada
sou
como tu
embriagado pelas luzes do extinguido habitáculo de nylon,

Como tu
uma árvore em silencio no recreio da velha escola
sentamos-nos? Podíamos entrelaçar as mãos como fazem as andorinhas
quando
como tu?
Acordam as letras envenenadas das canções de amor...

Não sou nada
parecendo uma pedra lançada ao vento
e cai gravemente sobre o teu peito...
e da ferida... uma pequena rosa sobrevive aos teus lamentos,

(Como tu
refugiada em palavras mortas)

E insignificantes espelhos da eira triste
dançando como as bailarinas das fotografias suspensas no gesso alicerçado às mãos de um inocente homem com barba branca
dançamos?

(mórbidas borboletas de veludo
voando)

Nunca mais regressarei aos teus abraços braços
porque agora sou um barco
sem leme rumo ou velas
sem motor marinheiro ou perfume teu dentro de mim
caminharei sobre os cedros apodrecidos de uma lápide significando a minha ausência
nunca
regressarei ao porto de abrigo
para ser ancorado e aprisionado a uma corrente enferrujada com sintomas de tuberculose...

Fumamos?

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Tão linda e tão bela, ela...

foto: A&M ART and Photos

Oiça, olhe o que eu lhe digo, está a ouvir-me? Gostava da disposição das mesas, do alinhamento dos talheres, da preciosidade dos prato, uns sobre os outros, fazendo-me recordar as fatias de espuma sobre a crista das ondas, gargalhando como pequenos soluços, ouviam-se horrores transformados em montanhas desavergonhadas, olhávamos os céu, e víamos o cansaço dos anos em pequenas travessuras de crianças, doidos, correndo na peugada de uma sandes de marmelada, ouvíamos, e nada dizíamos, porque éramos pobres, porque éramos melancólicos, porque
Oiça,
E é tão bom, saber que sobre nós, voa uma voz de silêncio, vestida de noite, e ouvir sem perceber porquê... o bater de asas em papel crepe, oiça
Oiça, olhe o que eu lhe digo, está a ouvir-me? Todos loucos, porque os pássaros deixaram de voar, porque as flores nunca mais senti que sorrissem para mim, para os outros é uma coisa... agora, para mim? Eu, o único solitário que lhes pegava com todo o cuidado, acariciava-lhes as pétalas doiradas de olhar envergonhado, eu, eu que me sentava em frente a elas, eu que cruzava os braços, e sorria
Inventava-lhes abraços,
Oiça,
E é
Oiça o que eu lhe digo,
Diz lá, Carlitos,
E é tão bom quando chegamos a casa, abrimos a porta, nada lá dentro, e tudo cá fora, entramos, deixamos as roupas transpiradas no cabide exposto no Hall de entrada, ficar nu, cá dentro nada existe, apenas um espaço vazio, sem vozes, sem livros, e palavras
Oiça o que eu lhe digo,
Diz lá, Carlitos,
E é tão bom, percebermos, que ninguém nos espera, e é tão bom, tão bom, e palavras voando pela janela até desaparecerem entre as roseiras do quintal da Augusta, parecem borboletas vagueando os sonhos do meu corpo desnudo, ósseo, filho de um esqueleto de vidro, finas partículas de areia, um alto-forno a temperaturas elevadíssimas, eu, no centro do forno, borbulhas de azoto, películas de pele levadas pelo vento, panfletos a anunciarem uma greve geral que nunca chegou a acontecer, um dia, de um País que nunca existiu, e morreu dentro do alto-forno... todos lá dentro, o meu esqueleto, a areia, e eles, claro,
Oiça o que eu lhe digo,
Diz lá, Carlitos,
(isto está fodido!)
Isto, isto o quê?
Isto, isto tudo!
Tudo não, porra, porra não, quase tudo, mas nós ainda estamos de boa saúde, pensa Carlitos, pensa que ainda existem pessoas em pior situação do que a nossa
A nossa, qual nossa?
A minha e a tua, porra, porra não, é que...
Oiça o que eu lhe digo,
É que ainda estamos vivos, percebes? E nos tempos que correm... estar vivo é a maior vitória, depois da águia, claro, claro, claro, não porra, porra não, claro, ah...
E é
É o quê?
Tão linda, ela, mais bela que o mar, mais leve que o vento... e voa, voa como as gaivotas, e navega, e navega como os barcos quando entram na barra
Nos teus braços?
E é
É o quê?
Tão linda e tão bela, como ela, como ela quando entra em casa, tudo vazio, as vozes ofegantes das minhas personagens, todas elas, dormem, digamos que
Talvez não durmam todas, mas tenho a certeza que algumas delas, dormem, oiço-as, oiça, olhe o que eu lhe digo, está a ouvir-me? Gostava da disposição das mesas, do alinhamento dos talheres, da preciosidade dos prato, uns sobre os outros, fazendo-me recordar as fatias de espuma sobre a crista das ondas, gargalhando como pequenos soluços, ouviam-se horrores transformados em montanhas desavergonhadas,
Tão linda e tão bela, ela...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 2 de julho de 2013

e corações com o marcador encarnado

foto: A&M ART and Photos

Vivíamos não percebendo que das marés de Inverno
habitava em nós o tédio
construíam-se-nos alicerces envenenados por doces lábios de incenso
como Primaveras desenhadas num papel esquecido em ti
eu
de esquadro e régua
tu
deitada sobre o estirador do desejo
delineava-te em curvas com sombras de trapézios
e dos poucos ângulos que sobejavam em ti
davam para alimentar-me quando chovia nos lençóis da espuma infância
e sorrias como os milímetros de noite inertes entre pilares de granito e luzes ancoradas pelo suicídio,

Vou deixar de escrever
(confesso-o apenas a ti)
porque tudo tenho perdido com as palavras
hoje
(confesso-o apenas a ti)
olhei-me no espelho do meu guarda-fato (que te garanto, nada guarda)
e vi os meu olhos em pedaços de lume
como a lareira de Carvalhais
(lembras-te do Inverno?),

Sorrir para quê?
Se todas as minhas fotografias são tristes
inexpressivas e doentes
até parecem (disseram-me um dia)
cadáveres voando sobre os Oceanos onde mergulhavas em busca de cardumes inexistentes
de peixes
e lobos descendo a Serra
aldeias perdidas em ti
como eu
(disseram-me um dia, que as madrugadas não eram todas iguais)
apelidei-te de PARVALHONA e hoje percebo que errei
(peço-te desculpa)
porque nenhuma madrugada consegue ser decalcada no estirador onde habitas
digamos que (onde ainda consigo ver o teu corpo no esquisso),

Abro a janela
(para quase todos eles, já é noite)
para mim (para mim acorda agora o dia)
começam as brincadeiras dos meninos enquanto mães desassossegadas
habitam como tu no estirador semi-nu das estrelas de plátano adormecido,

(confesso-o apenas a ti, tenho fome)
fome daquela que estávamos habituados a saciar
coisa que conseguíamos resolver com dois ou três livros
alguns beijos
e corações com o marcador encarnado
deixando no teu peito uma rosa
um silêncio
sem queixumes
saudades
ou pieguices...
abro a janela
e deixaste de descer a Serra
como os lobos
(quando ouviam a velha máquina de costura Singer),

Hoje
Que dia é hoje, (se posso apelidar-te de amor)?
Não sabes ou não queres responder...
deixei de perceber se é Sábado
Terça-feira
não o sei porque não o desejo saber
(Vivíamos não percebendo que das marés de Inverno
habitava em nós o tédio
construíam-se-nos alicerces envenenados por doces lábios de incenso
como Primaveras desenhadas num papel esquecido em ti
eu
de esquadro e régua
tu
deitada sobre o estirador do desejo)
porque se o soubesse
perceberia o quanto feliz eu era sem as malditas palavras...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha