quarta-feira, 27 de março de 2013

Corpo Moliceiro

A&M ART and Photos

A loucura das rochas frias e escuras
entranhadas no meu corpo moliceiro
procura a chuva que acompanha o vento
e navega sobre os telhados da aldeia,

Esta frieza grande corrida da paixão
este cansaço
esta tristeza
que a noite deixa cair sobre o meu cabelo sonolento,

Fingir que amo as ervas orvalhadas dos oceanos invisíveis
caminhar sonhando voar sobre as nuvens de vidro
e que nada tenho
percebendo que os abraços morreram entrelaçados no meu pescoço,

A loucura das rochas escura e frias e solitárias
onde me sento e adormeço e finjo viver
não voando não amando os versos do mar
não tendo as palavras a culpabilidade de existirem na minha mão.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 26 de março de 2013

A banheira insónia da paixão

A&M ART and Photos

Imaginava-te uma sombra de luz rodeada por leões e cavalos e abelhas, imaginava-te selvagem como as acácias do madrugar vento da cidade pintada de amarelo, imaginava-te hirta, morta, abandonada, numa tela de prata com fios invisíveis de chocolate e café depois do jantar, imaginava-te sentada numa pedra com cinco esquinas, três andares, e uma cave
Uma casa de banho e uma banheira, uma janela para o quintal da vizinha, velha e rabugenta, imaginava-te sentada na banheira a confidenciar segredos às pétalas de água em gotas minúsculas, e lá fora habitavam as grandes nuvens de tédio, brincavas com a espessura do sonho, e fechavas a mão no meu peito de xisto,
Imaginava-te no espelho da cave abraçada ao piaçaba, e teias de aranha, e o soalho em decomposição, imaginava-te o putrefacto esqueleto das flores apaixonadas pelos olhos do leão, e com sorrisos construídos em mentiras e finais de tarde imaginários, brincavas com o cavalo e com as abelhas, como o fazias em criança, e como o fazíamos enquanto amantes por correspondência, um curso suspenso no tecto da noite corpuscular, uma menina de celofane embrulhada em relógios a pilhas, e tudo quando depositávamos os pertences mais secretos num armário incorrecto, em pedaços de lixo, sem porta, como as lareiras de trás-os-montes
O frio silêncio em meus braços,
Imaginavas-me sentada na banheira, olhava a torneira e sentia o vazio da água a correr, imaginava-te como um rio, entre pedras e curvas, até que ao longe, da janela, sabia que encontravas sempre, que encontravas o mar, mas hoje, hoje percebo que perdeste-te nas imagens brancas de uma cidade inexistente, uma cidade sem casas, uma cidade com fome, sem amor, e eu, parva, imaginava-te a subires os quase cinquenta degraus, ouvia-te o pulsar do coração, ouvia-te a voz pregada ao corrimão e quando batiam à porta
Ele está?
Mentia-lhes e dizia-lhes que deixei de ver-te como quem abandona um álbum de fotografia, com histórias, com corações e nas traseiras dela inscrito “EU + TU”, mentia-lhes e dizia-lhes que a última vez que estive contigo foi nos rochedos junto ao cais dos homens apaixonados, onde sempre que vem a trovoada de incenso, uma boca procura docemente os inocentes poemas da menina que passa as horas sentada na banheira a brincar com a água, a imaginar
A praia, o mar em decomposição, as janelas do ciúme às portas da ruína, os automóveis procurando alimentarem-se de saliva, beijos e outros pequenos organismos, sempre, vivos,
A imaginar do longínquo campo de trigo, um corpo, nu, deitado entre a terra e as pedras ao redor da eira, o canastro dorme com as espigas de milhos colhidas no ano anterior, às vezes, desaparecia e escondia-me lá dentro, deitava-me em cima do milho e imaginava-te
Nos teus braços, lábios,
Imaginava-te sobre mim como as pequenas sombras de luz que as fendas das ripas construíam nas doiradas espigas, pedia que começasse a chover, e o sol fazia de mim um boneco cansado, um boneco de palha seca, e um chapéu com três ou quatro buracos, estava de pé e encontrava verticalmente com a ajuda de um cabo da piaçaba,
Na cave, entre teias de aranha, imaginava-te mergulhada no círculo trigonométrico e traçava ângulos no teu peito, calculava a tangente três meios de pi, e entre os teus seios, sabia que dois triângulos rectângulos brincavam como duas mãos de milho, seco, dentro do espigueiro, com ranhuras de luz,
Nos teus braços, lábios, a carlinga pesadíssima poisada nas pedras abandonadas das tardes encobertas, pedíamos sol, e tínhamos chuva, pedíamos beijos, e infelizmente, nunca tínhamos beijos, nem água, nem a banheira para ela brincar, imaginava-lhe uma banheira e imaginava-a sentada à beirinha como se estivesse dentro de um barco a remos a olhar distraidamente os finos papeis de esperança onde escrevíamos recordações com marisco, bebíamos cerveja e sonhávamos com papagaios de papel sobre o Céu, logo pela manhã, mesmo antes de acordarmos,
E acordávamos ressacados, dávamos conta que não tínhamos banheira, o pequeno barco a remos encontrava-se estacionado junto ao contentor do lixo e a janela da casa de banho, onde eu a imaginava sentada esperando pelo meu regresso, nunca
Existiu,
(tínhamos medo da solidão, comprávamos cigarros avulso e líamos os jornais da semana anterior, tínhamos alguns livros que íamos vender para comermos, e um dos teus cachimbos queria fugir, tentou cortar os pulsos com um isqueiro, não o conseguiu, não teve coragem para o fazer, e, mentia-lhes e dizia-lhes que deixei de ver-te como quem abandona um álbum de fotografia, com histórias, com corações e nas traseiras dela inscrito “EU + TU”, mentia-lhes e dizia-lhes que a última vez que estive contigo foi nos rochedos junto ao cais dos homens apaixonados, onde sempre que vem a trovoada de incenso, uma boca procura docemente os inocentes poemas da menina que passa as horas sentada na banheira a brincar com a água, a imaginar)
E imaginava-a, sem roupa, dentro da banheira com espuma de Primavera.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Sótão da Insónia

Foto: A&M ART and Photos

Há um amontoado de espelhos e cobertores
que me levam até ti
há um corrimão onde poisamos as nossas mãos
e juntos
procuramos o sol,

Há um sótão
onde supostamente habita esse procurado sol
tem uma janela com pequeníssimos vidros de cetim
e uma fotografia para o mar
onde partem e regressam os barcos de brincar,

Leio os livros espalhados nesse sótão
onde às vezes adormecemos vaiados pelo cansaço da noite
mergulhados em palavras
e imagens
e sonhos suicidados dentro das tempestades do inferno,

silêncios dentro do sótão
fragmentos de porcelana abraçados a pedaços de cola
há uma jangada com velas de linho
que dentro do sótão pedem clemência ao vento traiçoeiro,

Há beijos disfarçados de solidão
e bocas em desejo
nos lábios da insónia...
há em mim coitados pássaros loucos
pássaros que só o nosso sótão consegue alimentar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 25 de março de 2013

Paixão Geométrica

A&M ART and Photos

É da tua voz difusa que os traços de suor
acordam nas pétalas loucas que os poetas inventam
misturam-se nos teus lábios (sem que eu saiba se são doces ou amargos) sílabas
de água perdidas entre rochas e árvores de candeias
à luz semeada pelo diáfano silêncio dos desertos cansados da tua boca,

Há dias que não percebo esta solidão de areia
que o vento levita das pequenas junções das lajes de granito da eira de Carvalhais
e no entanto
acompanha-me o melódico sorriso do melro alegremente
penso eu (apaixonado) porque faz balançar os pinheiros dos sonhos,

Atravessas a cidade sobre o arame da saudade
e deixas cair sobre mim
as madeixas de papel que se desprendem do teu cabelo revoltado
com palavras misturas-lhe palavras em constante equilíbrio
e sofrimento de dor,

Inventas o rio para me alegrares
mas até isso me entristece como me entristecem as amarra de aço
que prendem os barcos apodrecidos
(também eles de aço)
a um cais de desassossego que tu dizes ser meu quando nasci das finas cordas que as gaivotas engolem,

Apetece-me subir ao andar superior onde habitam os gemidos da tua voz
que definem os traços de suor
que a pobre ardósia escreve construindo a geometria do amor
Dois quadrados podem ou não podem apaixonarem-se um pelo outro?
E dois triângulos de Luz?

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Como Andorinhas

foto: A&M ART and Photos

É vê-los partir como andorinhas envergonhadas, fogem, escondem-se como as ratazanas debaixo das pedras frágeis das calçadas de areia, inventam o sono, memorizam números como do primeiro beijo se tratasse, recordam as portas calafetadas e as janelas com os vidros estilhaçados pelos suspiros que o amor provoca nas primeiras horas da manhã, uma parede sem palavras escritas, mórbidamente suspensa numa corda de nylon, diz o povo que se enforcou, de uma casa, e do primeiro andar, uma varanda, uma grade em ferro, e imagens desfocadas, mortas, que nunca existiram na realidade, tocava o telefone, uma enorme e velha campainha como o sono quando demorava a regressar, aproveitava entre toque para contar os carneiros que deambulavam no tecto do quarto, e quase sempre
Faltam-me dois carneiros, E a esposa dizia-lhe Deixa lá marido, o que são dois carneiros?
Tirando a lã, nada,
E antes de pegar no auscultador mais pesado do que um saco de cimento, queixava-se da dor sobre os ombros, e mentalmente não se recordava de qualquer esforço extra, mas claro, como ele às vezes fazia menção de dizer, A idade avança e os meus ossos já precisavam de reforma, e de tempo, e de melancolia, e das noites, e avariadas quando entravam porta adentro um esquadrão de
Ratazanas?
E tirando a lã, nada,
Não, claro que não,
Pegava no auscultador e do outro lado da ardósia parede de gesso, ouvia a voz mais pequena quase do mundo, mas neste caso, a voz mais pequena da aldeia dos macacos, Tou, Tio?
Sim, Sou o Francisco!
Saudades tio, saudades...
Deve estar a precisar de dinheiro, só me conhece para isto, este miserável,
Diz lá rapaz, alguns problema?
(É vê-los partir como andorinhas envergonhadas, fogem, escondem-se como as ratazanas debaixo das pedras frágeis das calçadas de areia, inventam o sono, memorizam números como do primeiro beijo se tratasse, recordam as portas calafetadas e as janelas com os vidros estilhaçados pelos suspiros que o amor provoca nas primeiras horas da manhã, uma parede sem palavras escritas, mórbidamente suspensa numa corda de nylon, diz o povo que se enforcou, de uma casa, e do primeiro andar, uma varanda)
Era só para o ouvir, respondia-lhe ele, e claro, pensativamente vinha a desconfiança, porque ninguém telefona a outro alguém, apenas para o ouvir, ou
Saudades da sua voz,
(Chaleiro)
Ou,
Ratazanas?
E tirando a lã, nada,
Não, claro que não,
Saudades, claro, também eu, do granito clandestino de que eram construídas as clarabóias com pedaços de cartão reciclado, e quando alguém batia à porta, ele
Tou?
Sou eu, tio Francisco!
Agora este deve pensar que sou o novo Papa, Sou Francisco, claro, mas um simples Francisco, menos do que as flores e os pássaros e as pontes, menos ainda do que as
Ratazanas?
Claro, sim, talvez,
É vê-los partir como andorinhas envergonhadas, fogem, escondem-se como as ratazanas debaixo das pedras frágeis das calçadas de areia, inventam o sono, sinto nas minhas coxas calcinadas pelo odor do primeiro beijo as nuvens de porcelana que Deuz se esqueceu sobre a mesa da cozinha, sentada, não sei, o que fazer
Talvez, claro, quem sabe,
Porque não me amas, e confesso que não sei responder-te, não sei, tal como tu não consegues perceber a razão do teu sobrinho segredar-te que tem
Saudades?
Sim, claro, talvez,
Não sei,
Tou? Sou eu tio Francisco, Diz lá rapaz?
Digo,
Quem pode ter saudades da voz de um homem velho, cansado, com duzentos e seis ossos pesados como chumbo, húmidos, pronto no cais de embarque, quando ele tem a certeza que não regressará mais
Aquela manhã de Novembro,
Aquele sonho de açúcar,
Ou,
O toque do telefone, Saudades da tua voz, tio Francisco, nada mais...
Ou,
Saudades de voar, querido sobrinho.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Cachimbos de Prata

pag. 465 (poema de Francisco Luís Fontinha – Cachimbos de Prata)


Um pedacinho de névoa
entranha-se na tua doce boca vestida de alecrim
e das algibeiras insónias madrugadas
acordam as imagens fictícias do orvalho incendiado pelo incenso doirado
olho-te vagarosamente no espelho mental das árvores danificadas
pelos ventos e tormentos que em ti navegam
perdidamente como uma gota de água
esquecida num banco de pedra debaixo de um plátano tresmalhado
e doente apaixonado
pelos orifícios indistintos do velho jardim
um pedacinho de névoa
entre os teus lábios narcisos e a tua língua rosa com pétalas de amor,

Oiço a tua mão voraz desenhando letras nocturnas
em nuvens de seda
oiço os teus gemidos transversais contra as paredes do velhíssimo relógio
suspenso no peito cansado e triste do homem das sete patas de madeira oca
oiço a voz rouca de um cachimbo de prata
saltitando
dançando
nas eiras graníticas das canções que a infância comeu
em pequenos torrões de açúcar
misturados com sílabas de céu estrelado
e sandes de marmelada
ao pequeno-almoço,

Pedia-te sossego e tu desaparecias de mim
dançando
saltitando
como um cachimbo de pedra adormecida pelas vagas contra os rochedos
dormíamos dentro dos ouvidos da praia
e antes de encerrarmos definitivamente os cortinados da Aurora Boreal
entrava em nós o Rossio vestido de gente
com mãos de noite
ouvíamos o rio nas catacumbas do amor
a pintar estrelas de luz
e luas de papel
e eu sabia que tu nunca mais irias regressar das salivas amargas do primeiro amor...


@Francisco Luís Fontinha

domingo, 24 de março de 2013

Fingidas tristezas

A&M ART and Photos

Fingias tristezas
no planalto imaginário das palavras incompreendidas
desenhavas as árvores e os arbustos que a despedida levou
quando regressou a tempestade de areia
e o teu corpo permanecia absorto ou morto ou simplesmente infinito,

Perdido nas íngremes amargas letras vermelhas
imagens a preto-e-branco projectavam-se-lhes como dentes de marfim
em crocodilos de madeira negra
húmida
também ela ausente da Primavera tarde que o silêncio amanhava,

E hoje
ninguém
coragem
ninguém o apanha do cinzeiro vestido de abelhas flutuantes
quando me escrevias insignificantes palavras desconexas,

Velhas
cansadas
mentiras de anda
como as madrugadas de cimento
e a marmelada caseira,

Minhas manhãs de nada
ou nada sabendo que não estás nas fingidas tristezas
de livros ou papel amarrotado como as lanternas da solidão
e que sim que simplesmente levitou
às mágoas uivas maçãs do prazer...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Um carrossel de vinho dentro de um corpo preguiçoso

Deixaste-me uma simples caixa de sapatos com alguns dos meus segredos, os poucos sonhos que sobejaram da grande viagem aos montes das pedras mortas, nenhum sobreviveu, nenhum conseguiu atravessar a ponte espacial, o famoso túnel de vento onde com o meu corpo, tu, experimentavas as leis aerodinâmicas, e nunca, nunca conseguiste que eu voasse, e confesso hoje, sem qualquer medo, que te mentia, porque nunca me imaginei a voar, mesmo quando me ias buscar ao sono das noites das madrugadas sem movimentos pendulares, olhavas-me, e eu
Percebia,
Que
Que um carrossel de vinho girava dentro do meu corpo preguiçoso, e sabia-o, sabia-o nas traições murchas palavras que as flores deixavam cair quando o vento era muito, regressávamos às tempestades de suor, e diziam-nos que o barco com asas de íris tinha mergulhado num buraco espesso, escuro, fundo, cinzento, que
Percebia,
Que este carrossel tinha cadeiras de madeira presas a correntes, que este carrossel rodava em torno de um veio de aço com duzentos e seis ossos, trinta e dois dentes de marfim, e um par de unhas de gel,
Irra? Vinte Euros por isso...
Compravas dois livros,
Mas mamã, com as unhas de gel fico lindona, e com os livros... quem me vai ver com os livros, e mamã... para que me servem os livros? O que eu preciso é de um homem rico, como o teu, que paga todas as nossas contas, Contas?
Sim, um, dois, três, quatro, cinco vezes três, vinte e cinco a dividir por três, o cosseno de três pi radianos..., ou que nos revolva a raiz quadrada de três mil quinhentos e quarenta e cinco, vês? Contas, o que nós precisamos são de contas pagas, com a respectiva factura, Factura?
Claro, factura,
E Fatura?
(Não, chinês não saber o quê fatura)
Numa simples caixa de sapatos, sonhos, berlindes, fotografias a preto-e-branco, bonecos, vestidos para os bonecos, tudo, tinha lá todos os meus pertences, e agora?
Nada, perderam-se as fotografias, agora são a cores, não gosto, odeio, e detesto,
Berlindes?
Rebuçados de água e açúcar, mangas ao final da tarde, chovia-nos no quintal porque a lona da tenda com alguns problemas de sonorização, e pelas ranhuras entram sons externos ao espectáculo,
Sons? Não era a chuva?
Também, também, e quando era em demasia transbordava da caixa de sapatos, e hoje, abro-a, e olho-a, e sinto (o famoso túnel de vento onde com o meu corpo, tu, experimentavas as leis aerodinâmicas, e nunca, nunca conseguiste que eu voasse, e confesso hoje, sem qualquer medo, que te mentia, porque nunca me imaginei a voar, mesmo quando me ias buscar ao sono das noites das madrugadas sem movimentos pendulares, olhavas-me, e eu), e sinto as cancelas da noite a encerrarem-se depois de ela me despir e deitar,
Eu sonhava,
Ela desesperava,
Eles,
Cruzavam os braços em direcção ao pôr-do-sol, e como o correio, só tínhamos pôr-do-sol duas vezes por semana, e quanto a marés, essas, apenas três ou quatro vezes por mês, e mesmo assim, éramos tão felizes, e mesmo assim éramos as gaivotas embalsamadas que, também elas, só apareciam dez vezes por semana, quando acordava o dia e quando a noite desaprecia
Em ti,
Como ainda hoje desaparecem todos os meus berlindes de chocolate, como ainda hoje
Em ti,
Barcos de papel perdem-se no oceano teus seios de amêndoa, flutuam como algas em desespero, levantam voo, abrem as asas, e caem sobre as madrugadas filhas dos cortinados de Inverno, barcos, perderam-se, no
Teus,
Oceano,
Seios de papel que as gotinhas da chuva deixam ficar sobre as pétalas mortas, eu inseria a moeda na ranhura, ele devagarinho começava a girar, e eu, aos poucos, sentia-me envergonhado, redopiava, e de vómitos suspiros, girava e girava e girava..., até que terminadas as voltas, e a duração da moeda, estonteante, cambaleava, e ela ia buscar-me ao sono das noites das madrugadas sem movimentos pendulares, olhavas-me, e eu
Percebia,
Que,
O carrossel tinha cessado os seus movimentos dentro do corpo dela., como o mar, quando desiste de viver e suicida-se contra os rochedos dos sexos recheados com insónia.


(texto de ficção não revisto; qualquer coincidência com a realidade é pura ficção)
@Francisco Luís Fontinha


P.S.
(mamã, parti uma unha..., ai minha filha, valha-nos Deus, valha-nos..., porque se ele descobre, se, amanhã, podes ter a certeza que estamos sentadas no passeio junto à Marilú, a pedirmos esmola, e depois, mamã, quem nos vai fazer as contas? Talvez, ai... valha-nos Deus, talvez nos apareça outro palerma bom em matemática).