domingo, 16 de julho de 2023

Poema do silêncio

 

Encosta a cabeça ao meu peito

Enquanto com a minha mão

Escrevo no teu corpo

O poema do silêncio

E do desejo,

 

Escrevo nos teus lábios

Com os meus lábios

A história deste poema

Que procura na escuridão da noite

O silêncio do teu olhar,

 

Encosta a cabeça ao meu peito

Doce flor em papel perfumado

Pedacinho de Primavera

Encosta a cabeça ao meu peito

E finge que as tuas lágrimas são estrelas,

 

São palavras de amar.

Encosta a cabeça ao meu peito

Enquanto há luar

E marés a esconderem-se

Na tua mão,

 

Que procuram o meu olhar,

Encosta a cabeça ao meu peito

E imagina o meu corpo

Sepultado dentro do teu

E nos braços do mar.

 

 

 

16/07/2023

Poema

 Este poema é teu

Menina do mar

Com olhos de mar

E lábios de mar,

Este poema é teu

Menina com olhos de mar

Menina com lábios de mel,

 

Este poema é teu

Primeira lágrima da manhã

Silêncio de te amar

Na sombra do luar,

Este poema é teu

Menina do mar

Com olhos de mar

E medo de me amar.

 

 

 

16/07/2023

Comboio para Nova Iorque

 O comboio para Nova Iorque acaba de partir da linha seis

Santa Apolónia em convulsão

Apeada de gente

Que geme

Que tem fome

Que ama

Não ama

Sem nome

 

O comboio para Nova Iorque apressadamente

Em corrida

Com um pequeno silêncio no peito

No centro de massa do coração

 

Santa Apolónia olha o Tejo

Mete os dedos na algibeira

Masturba-se

Enquanto o comboio para Nova Iorque

Descansa na Marateca

 

Uma gaja cantarola um pedacinho de luz

Faz-se ouvir na escuridão

De toalha na mão

Pensa que tem futuro como cançonetista

O comboio para Nova Iorque

Retoma o seu adorado destino

Enquanto um cacilheiro embriagado

Em círculos

Nunca chegará ao Seixal

Às mãos do adorado menino

 

O vento amua

O comboio apita

O cacilheiro

Morre

E Santa Apolónia

De olhos cerrados

De braços cruzados

A gaja que cantarolava

Deixou de o fazer

Agora passa as tardes no jardim

A vender cigarros de poesia

E poemas de framboesa

E charros de alecrim

 

O comboio para Nova Iorque

Esconde-se na neblina

Faz escala em Luanda

Depois passa pelo Mussulo

Que com sorte

E vento

Chegará a Nova Iorque pelas três da madrugada

 

São dezoito horas na rua Dr. César Ferreira

Quatro na Avenida Sá Carneiro

E zero horas na Senhora dos Prazeres

O vento é de 10 nós

E a temperatura da água

Cerca de vinte graus

 

Centigrados

 

O comboio apita

O cacilheiro geme

Grita

O comboio para Nova Iorque abre os braços

E começa a voar nos lábios do luar

Sobre o mar

Amém

Que o dia morre

Que a noite é uma prostituta com olhos de vergonha

Que o Tejo de tanto me esperar

Zarpou

E correu para o comboio para Nova Iorque

 

Onde está sentado à direita do pai.

 

 

 

16/07/2023

O olhar do mar



Amo-te nesse esconderijo de mar

Com medo de te amar

Com medo de te perder

Quando nunca te tive

Nem sei

Se algum dia te vou ter.

 

Amo-te nesse esconderijo de mar

De palavras de silêncio

E em silêncio

Com medo que os teus doces lábios de mel

Se transformem em fel

E o teu olhar seja apenas um olhar

E não o olhar do mar.

 

 

 

16/07/2023

Castelo

 

Um castelo de silêncios

Habita no teu olhar

Que nos teus lábios procura

Sem se cansar

Uma janela para o mar,

Da janela de te amar.

Um castelo me medo

Esconde-se nas tuas mãos

E foge do castelo de silêncios

Que habita no teu olhar…

Sem saber se um dia

Os meus braços em poesia

Te vão abraçar.

 

 

16/07/2023

Versos em luar

 

Escondo o meu silêncio nos teus seios de prata,

Na promessa,

De amanhã regressar,

Não ter medo desta janela em lata,

Nem ter medo de te amar.

 

Escondo no teu desejo,

O meu desejo,

Escondo as minhas mãos dentro dos teus gemidos…

Sem perceber se este poema,

Se estes versos…

Um dia terão um pedacinho de ti,

 

Escondo-me no teu corpo em delírio,

Quando com os meus lábios escrevo nele o primeiro poema da manhã…

 

E o mar nos abraça.

Escondo-me de ti, dentro de ti…

Neste mar de inveja que nos assombra,

Deste mar que os assusta,

Deste mar de te amar,

Enquanto no meu olhar

Dançam as estrelas dos teus lábios.

 

Escondo a minha arte

Nos teus lábios de primeira lágrima da manhã,

E lanço neles as cores que a noite deixa em mim,

Escondo-me em ti,

Dentro de ti…

E de mim.

 

Escondo o desejo de te amar

Nas tuas mãos,

Quando me acaricias e nos perdemos na noite…

Quando somos envenenados pela noite,

E de dentro de ti…

Erguem-se os versos em luar,

E a vontade de te amar.

 

 

 

16/07/2023

sábado, 15 de julho de 2023

Oceano de Luz

 

Não sei o nome deste Oceano,

Frio,

Escuro,

Onde me escondo,

Não sei o nome deste Oceano

Onde se escondem todas as minhas fotografias,

Mortos,

Quase mortos, outros,

Todos.

 

Não sei o nome deste Oceano,

Onde todas as noites vêm a mim…

Todas as palavras,

Todos os nomes,

Os vivos,

Os mortos,

Cemitério de poemas…

Deste Oceano,

Inventado,

Em delírio.

 

Não sei o nome deste Oceano,

Das madrugadas sem luar,

De luares sem nuvens,

De nuvens sem poesia,

E pergunto-me,

Como poderá a noite viver sem poesia…

Neste Oceano de luz,

De rochedos travestidos de noite,

Quando a noite te pertence,

Também tu, adormecida,

Morta.

 

Dentro deste Oceano.

Não sei o meu nome,

Não sei o nome deste Oceano…

De petroleiros em sono,

Quando um pedaço de insónia

Entra pela janela,

Ao cair da noite,

Nas tuas mãos

Este Oceano de enganos,

De outros tantos pedaços de luz,

Quando o meu nome

É pincelado nos teus lábios.

 

Não sei o nome deste Oceano,

De ruas sem janela,

De janelas sem os doces cortinados do desejo,

Escondes-te dentro deles,

Sacias a tua sede com o silêncio do meu olhar,

Neste Oceano onde te escondes,

Neste Oceano de montanhas e planícies em fuga…

 

Não sei o nome deste Oceano,

Onde brinco com os meus traços envergonhados,

Quase a desfalecerem de sono,

E, no entanto,

Dentro deste Oceano,

Há uma vírgula que me aprisiona…

Aos versos deste Oceano.

 

 

 

15/07/2023