De um pequenino nada,
Quando esse nada…
Quando esse nada é tão
pequenino…
De um pequenino nada,
Acorda o mar,
E o mar…
Transporta nos seus lábios
Todo o silêncio em
pequenos círculos de luz…
Francisco
Procuro nas minhas mãos
O sono e o silêncio das
primeiras lágrimas da madrugada.
Procuro nas minhas mãos
Vazias
Distantes…
Procuro nas minhas mãos
A luz diáfana das marés
de engano
E todas as tristezas da alvorada,
Visto-me de zé-ninguém
Sabendo que um outro
alguém
Também vestido de uma
outra coisa qualquer…
Me persegue neste
labirinto de insónia
Devoluto
Frio…
E escuro como os túneis
de vento,
Procuro
Procuro nas minhas mãos…
A sombra
E o além,
Procuro nestas mãos inventadas
Por alguém que não
conheço
Que nunca vi
Mas que existe
E está lá
De lá
Onde este navio
apodrecido
Ainda resiste
Ainda procura nas minhas
mãos…
Um pedacinho de mar
Antes que o mar…
Antes que o mar morra
E este pobre barquinho…
Adormeça
E das minhas mãos…
Um sorriso de alguma
coisa…
Cresça.
Alijó, 15/06/2023
Francisco Luís Fontinha
Há um gemido-uivo
Em cada olhar do teu cabelo
Em cada silêncio dos teus
lábios.
Há um gemido-uivo
Que pertence à noite
Que é construído em aço
laminado
E no peito
No peito brincam os
meninos da sua infância…
Há um gemido-uivo
Triste
E coitado
Um gemido-uivo em cada parêntesis
da tua mão
Depois da tempestade
zarpar.
Há um gemido-uivo
Em uivos-gemidos de medo
Quando o tédio desce à
cidade…
E a cidade
Entre outros gemidos de
medo…
Come o gemido-uivo
Que existe em cada olhar
do teu cabelo.
Há um gemido-uivo
No Oceano do teu sorriso
Um gemido sem Pátria
Que fez o serviço militar
em algures por aí…
E crucificaram-no num
belo dia de silêncio
Junto ao peito da saudade.
Há um gemido-uivo
Um pequenino gemido-uivo
Com medo
Com fome
Que grita
Que chora
Que não come…
Um gemido-uivo do
além-mar
Deste mar que não morre.
Francisco
14/06/2023
Podia apelidar-te de nada
Simplesmente de nada.
Olho este pedaço de papel…
E vejo os traços que
semeiam em mim
Estes traços que são meus
e que só a mim pertencem…
Enquanto a noite em sofrimento
Se esconde num qualquer olhar
de espuma do teu corpo.
Olho este pedaço de papel
Que era branco
Que não tinha nome
Agora deixou de ser
branco porque tem os meus traços…
Mas continua a não ter
nome.
Também eu
Também eu gostaria de não
ter nome
Mas os meus pais
Teimosos
Apelidaram-me de (nada ou
de tolo)
Tal como este pedaço de
papel…
Durante a noite
Durante a noite visto-me
de marinheiro
Saio de casa
Entro no teu Oceano…
E por lá ando
Em busca de crocodilos
amansados.
Na adolescência apaixonei-me
por uma trapezista
Sei lá…
Eu ficava horas a olhá-la
em pequenos círculos de desejo… sobre o mar
E depois
Depois escrevia-lhe
poemas
E se eu tivesse fugido
com ela
Como ela queria…
Hoje talvez fosse alguma
coisa
Tudo trapezista
Menos ser nada.
Podia apelidar-te de nada
Simplesmente de nada.
Olho este pedaço de papel…
E vejo tanta coisa
Meu amor
Vejos estrelas
Vejo rostos que me
solicitam…
AJUDA…
E eu
E eu não os posso ajudar
(tal como não os pude
ajudar).
Vejo animais
Muitos animais
E vejo uma coisa curiosa…
meu amor…
Vejo a equação do sono
Poisada nas tuas mãos…
Das tuas que rezam…
Nas tuas mãos onde choram…
As acácias da minha
infância.
Luís
14/06/2023
Neste pedacinho de luz
Que às vezes se esconde
Se esconde no teu olhar…
Que às vezes brinca
E alimenta o meu olhar…
Neste pedacinho de luz
Onde escrevo o teu nome…
Vêm a mim
(Quando cai a noite sobre
a sombra das minhas mãos…)
Vêm a mim
Todas as estrelas do
silêncio.
Neste pedacinho de luz
Que é ausente
Que é carente
Que ainda não tem nome…
Neste pedacinho de luz
Escondo o teu olhar…
E a paixão em fome.
Neste pedacinho de luz
Deste pequenino pedacinho
de luz
Que sofre quando a
madrugada se abraça à insónia
Quando a insónia me
abraça
E me beija
Neste pedacinho de luz
Ao cair da tarde
Junto ao rio…
A este pequenino
pedacinho de rio…
Que tem nome
Que ama
Que deseja…
E apenas o conheço…
Como o rio luz.
Francisco Luís Fontinha
14/06/2023
Sabe-se lá porquê,
O porquê de tudo,
Quando tudo…
Quando tudo é quase nada.
Sabe-se lá porquê,
Da noite escura, porque é
triste a noite…
Na tristeza do porquê,
Sabe-se lá porquê…
Porque morrem as
estrelas,
Porque nascem cada vez
mais imbecis…
E cada vez mais tolos,
Sabe-se lá porquê…
Porque tanto tolo há,
No Reino do porquê…
Sabe-se lá porquê,
Sabe-se lá de quê…
Quando do porquê…
Um livro se lê,
Do livro do porquê.
Francisco Luís Fontinha