Um dia, qualquer dia, tanto faz…
Não tenho pressa de
partir,
Um dia, qualquer dia,
tanto faz…
Um dia as acácias da
minha infância deixarão de chorar,
E nesse dia de qualquer
dia,
Eu,
Eu possa vestir-me de
mar…
FL
11/06/2023
Da minha janela,
Da minha janela deixei de
ver o mar;
Não me importo…
Aos poucos comecei a
odiar o mar…
E odeio a minha janela.
Da minha janela,
Da minha janela ouvia os
pássaros,
Hoje,
Hoje nem sequer tenho uma
janela…
Hoje nem sequer sei o que
são pássaros.
E hoje,
Hoje nem sequer me tenho
a mim.
Da minha janela recebia o
dia,
Umas vezes vestido de
poesia…
Outras vezes,
Muitas vezes…
Abraçado à madrugada,
Hoje,
Hoje nem recebo o dia,
E tão pouco… sei o que é
a madrugada,
E a minha poesia é uma
merda,
Tal como a minha janela…
São pedacinhos de nada,
São pedacinhos de tudo
nas mãos de uma caravela.
Da minha janela,
Coitada da minha janela…
Tal como eu, um tolo
perdido na alvorada…
E tenho pena dela,
Da minha janela,
E tenho pena de mim,
De mim…
Sem janela com vista para
o mar.
Francisco Luís Fontinha
11/06/2023
Vou por aí, andando e
pensando, quando me dizem que não devia pensar, porque um tolo não pensa,
porque quem pensa, é um tolo pensante…
Vou, vou andando e por aí…
ao som de Black Magic Women,
Vou por aí, andando e
pensando, pensando e voando… e enquanto voo, eu penso, penso que se não
existisse a gravidade, que se diga, não era grave, no entanto, eu penso,
Que não precisava de asas
para voar, não, nada disso, penso que…
Em tanta coisa que penso,
Mas penso.
E que sim, que avencem as
tropas de Santarém em direcção ao Terreiro do Paço,
Sentava-me e pensava, e
contava todos os cacilheiros que invadiam os meus olhos, meu Deus, eram tantos
e tantas…
Para a frente,
E para trás,
Uns eram cegos, outros
eram lindos… e outras,
Outras pareciam uma
pequena bolha numa mísera folha de alumio, no entanto, muito depois, o AL,
perceba-se, símbolo químico do alumínio, em criança…
Sabíamos na ponta da
língua qual era o símbolo químico da navalha,
K2ou3,
As tropas de Santarém
estão a fazer a aproximação ao Terreiro do paço, e eu, e eu aqui sentado em
frente ao Terreiro do Paço, como se fosse uma criança com cabelos compridos e
loiros…
Nada de bom tenho,
pensava, do pouco que me sobeja, não me sinto… digamos, discriminado,
Tenho mais sonhos
sonhados do que a maioria de todos estes cacilheiros, e mesmo assim, querem que
eu seja…
Deus.
Raio.
E se Deus quiser, um dia,
qualquer dia, tanto me faz… o dia, desde que seja de noite, com luar, sem luar…
As tropas começam a
desenhar sorrisos nos lábios da noite, eu tinha ficado por aquelas bandas,
talvez tivesse adormecido num qualquer banco de jardim, não seria a primeira
vez,
E a bolha, como os
cacilheiros, dançava nas mãos de uma criança, que não gostava que as acácias
chorassem,
Mas elas, teimosamente,
Choravam.
Vou por aí, andando e
pensando, quando me dizem que não devia pensar, porque um tolo não pensa,
porque quem pensa, é um tolo pensante…
E tanto as tropas como
eu, estávamos a cagarmo-nos para o tolo, se pensava ou não pensava, se fodia ou
não fodia, e a maior parte das vezes, era fodido,
Escrevia cartas durante a
noite, para a noite. Eles e elas e os cacilheiros…
Indiferentes que eu
tivesse dormido num banco de jardim.
Erguia-me, olhava-me no
espelho da manhã, desenhava com um lápis de cor um pequeno sorriso na mão, e
voava…
Quando nos teus braços,
já as tropas de Santarém colocavam as algemas nos teus lábios,
Um baixote, muito baixo e
muito gordo, que agora é proibido de dizer e de escrever,
Mas claro, eles querem
que eu me foda, e claro também, eu, eu quero que eles se fodam,
Nomeadamente quando esse
mesmo baixinho e gordo das tropas de Santarém informa a madrugada,
Alô, comando territorial
do sono,
Lisboa é nossa.
Bravo, bravo…
Que sim. Que felizes eles
estavam…
E eu, dormia num banco de
um qualquer jardim da cidade dos sonhos.
Abraçava o Tejo, o Tejo
abraçava-me, e sabíamos que numa qualquer manhã daquela Primavera… morreria a
insónia.
Por aqui, cacilheiro
número três mil e oitocentos, calça quarenta e quatro,
E na boca,
Na boca esconde um pedaço
de sargaço.
Somos muitos, ouvia-os, e
mesmo assim, não aconteceu nada…
Vou por aí, outras vezes
por aqui, e de tolo em tolo, tínhamos tomado a cidade dos sonhos e toda a cidade
era apenas nossa,
Não acreditava em
janelas, não acredito em Deus,
E às vezes, converso com
Deus…
E que não devia pensar, e
que sou um tolo pensante, penso,
Penso como apareceu toda
a matéria do Universo, toda ela concentrada num pequeno espaço como o da cabeça
de um alfinete, e claro, eu acredito…
Eu acredito.
No entanto, o tolo que
pensa, pensa
Quem colocou toda a
matéria do Universo dentro daquele pequenino espaço do tamanho do da cabeça de
um alfinete?
Claro que não foi Deus,
porque naquela altura, certamente
Andaria muito ocupado.
Mas penso.
E admitindo que numa
qualquer tarde, enquanto Deus se deliciava com o seu cigarro, ele, ele
resolvesse colocar nesse mesmo pequenino espaço do tamanho do da cabeça de um
alfinete,
Toda a matéria,
Será?
E toda a matéria, de onde
veio?
Das mãos das tropas de Santarém
que agora mesmo tomaram Lisboa aos cacilheiros,
Que porra.
O alfinete de tanto
esperar, dizem que Deus é tão perfeito e ao mesmo tempo,
Muito vagaroso,
Diferente
De preguiçoso,
O desgraçado do alfinete,
espirrou… um grande espirro…
E voilà,
E definitivamente
É criado o Universo,
Há bebidas grátis, há
porco no espeto…
Claro que as coisas
menores,
Aos poucos,
Foram crescendo no
arvoredo da tarde.
Por aqui, por aí,
Os tolos que pensam, são
os mesmos tolos que Deus enviou para Marte.
E até hoje,
Ainda não regressaram,
nem regressarão mais.
Para concluir, senhor
professor, diria que toda a matéria que existe no Universo veio do nada,
Portanto,
Do nada,
Um pouco de anda,
Poderá nascer tudo,
Acredita nisso, Francisco?
Acredito, professor,
acredito…
E há quem duvida de toda
a beleza criada por Deus…
E há quem duvide da existência
de Deus.
Francisco Luís
Terreiro Paço, 10/06/1013
(ficção)
Entre os parêntesis da
manhã
Peço a Deus que me abrace
E desenhe no meu simplório
olhar
Uma pequena lápide de
sono
Uma lápide quase
invisível
Com letras negras
Negras e muito pequeninas
Bem negras e bem
pequeninas…
Nasceu a…
Faleceu a…
Depois
Depois peço a Deus que
escreva nos meus lábios
O silêncio da noite
envenenada…
Peço a Deus que não me
traga a madrugada
Não
Hoje não me apetece ter a
madrugada,
Entre os parêntesis da
manhã
Peço a Deus que me abrace
Nem que seja um fictício
abraço
Quase invisível
Quase… quase nada,
Depois de pedir a Deus
tanta coisa
Das poucas coisas que tenho
E de ele saber que eu não
acredito em Deus…
Ele ri-se…
Ri-se da minha ignorância
Do gajo nada
Pedir tudo
Quando o tudo não existe
E é apenas uma equação
Na espuma dos dias
Quando os dias… são o
nada
E o nada…
São estes pequenos dias.
Francisco
10/06/2023
Somos pequenos instantes
Nos lábios de uma gaivota
Somos momentos
Das noites estonteantes
Somos as palavras
Das palavras amantes
Somos pequenos nadas
Dos nadas…
Sobrantes.
Somo o poema na vagina da
madrugada
Somos a flor
Somos o dia
E a noite…
Somos momentos
De pequenos instantes
E de um pequeno nada.
Francisco
10/06/2023
Não desistas,
Não desistas se tens
sobre ti as nuvens cinzentas da dor…
Repentinamente,
As nuvens podem ficar
transparentes…
E a dor…
Passageira.
Não desistas,
Não desistas se as árvores
do teu jardim não têm pássaros…
Um dia…
Um dia poderão ter discos
voadores.
Não desistas,
Não desistas se as tuas
noites são um pesadelo…
Um dia,
Qualquer dia…
As tuas noites poderão
ser o silêncio quando dança nas mãos de uma criança…
Não,
Não desistas.
Luís
05/06/2023
Não,
Não tenho pressa de
beijar os teus lábios de mel,
Não tenho pressa,
Não tenho pressa de tocar
nos teus olhos de mar,
Não…
Não tenho pressa,
Não tenho pressa de pegar
na tua mão de Primavera…
E voar…
Não tenho pressa de
escrever,
Não tenho pressa de desenhar…
Não,
Não tenho pressa,
Não tenho pressa de
morrer,
Não tenho pressa,
Não,
Não.
Não tenho pressa de saber
o dia exacto,
A hora exacta…
Do acordar das estrelas,
Porque elas vão acordar,
Não,
Não tenho pressa…
De tanta coisa…
De ter pressa…
Luís
04/06/2023