Encosto a cabeça à tua pele envenenada
Quando nos olhos de uma
ribeira
A tua mão aquece as
primeiras lágrimas da manhã,
Sento-me na tua mão
E escrevo todo o teu
corpo
Com as palavras que a
ribeira me segredou,
Sobre mim
Tenho as pedras cinzentas
dos edifícios em ruínas
Ossos de betão
Cansados de serem as sombras
dos corredores de vidro,
À janela,
Os teus seios mergulhados
nos meus lábios…
Perfumados poemas
Que se destroem no teu
púbis,
Encosto a cabeça
Ao teu cabelo de argila
Que na água fria,
Durante a noite,
Insemina o meu destino,
O destino de ser um veleiro
dentro da tempestade,
Um veleiro com asas
Que voa sobre o derramado
sémen
Na boca de um pedaço de
silêncio
Em busca do amanhecer,
Encosto a cabeça à tua
pele envenenada
Quando nos olhos de uma
ribeira,
Os meus olhos se abraçam.
Alijó, 21/01/2023
Francisco Luís Fontinha