sábado, 21 de janeiro de 2023

Veleiro

 Encosto a cabeça à tua pele envenenada

Quando nos olhos de uma ribeira

A tua mão aquece as primeiras lágrimas da manhã,

Sento-me na tua mão

E escrevo todo o teu corpo

Com as palavras que a ribeira me segredou,

 

Sobre mim

Tenho as pedras cinzentas dos edifícios em ruínas

Ossos de betão

Cansados de serem as sombras dos corredores de vidro,

 

À janela,

Os teus seios mergulhados nos meus lábios…

Perfumados poemas

Que se destroem no teu púbis,

 

Encosto a cabeça

Ao teu cabelo de argila

Que na água fria,

Durante a noite,

Insemina o meu destino,

O destino de ser um veleiro dentro da tempestade,

 

Um veleiro com asas

Que voa sobre o derramado sémen

Na boca de um pedaço de silêncio

Em busca do amanhecer,

 

Encosto a cabeça à tua pele envenenada

Quando nos olhos de uma ribeira,

 

Os meus olhos se abraçam.

 

 

 

 

Alijó, 21/01/2023

Francisco Luís Fontinha

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