Milimetricamente falando,
Sou uma simples
quadrícula sem memória,
Nas mãos de uma criança.
Sou uma flor
Dançando,
Sou estória,
História morta à
nascença.
Semeio palavras na eira
madrugada,
Quando das nuvens acordam
os pássaros vagabundos,
Milimetricamente falando,
Sou uma página cansada,
Cansada das palavras sem
rumo,
Sou uma velha enxada,
Enxada que transforma o
mundo.
Tenho na mão
A equação do adeus
ingrime da solidão,
Tenho na mão, a mão da
minha mão,
À mão do meu coração.
Sou, então, uma velha
página a arder,
No corpo da serpente,
Sou uma página de
escrever,
Escrever o que ela sente.
Tenho na mão,
Milimetricamente falando,
Todo o cansaço de viver.
Tenho na mão,
Na minha mão,
Palavras para escrever,
Escrever para não sofrer.
Sofrendo, ela percebe que
pertenço aos números primos.
Sou estátua que dança na
neblina,
Sou equação que brilha na
escuridão;
E todos nós sentimos,
A cidade menina,
À cidade minha canção.
Tenho nesta mão,
Um pedacinho sorriso beijar,
Tenho na outra mão,
O desejo simples de amar.
Escreves-te entre uma recta
paralela
E finas lâminas de geada,
Escreves-te quando nasce
o sol na nossa triste aldeia;
E sabes, rosa amarela?
Do teu jardim vem até mim
uma rosa cansada,
Cansada e tão bela…
Tão bela essa Sereia.
E, entre equações
E palavrões,
Deus não mete a colher.
Não se importa,
Nem quer…
Não quer que eu abra esta
triste porta.
Sendo assim,
Todas as equações,
Todos os palavrões
E todos os trambolhões,
São cremados
E sepultados,
No meu alegre jardim.
(o jardim das ilusões)
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 5/11/2021