Sou um gajo de mau
feitio, pensava eu enquanto me entretinha a olhar o espelho convexo da noite,
olhava pela janela,
Em voz alta,
Ela parecia ter saído dos
banhos nas Termas de S. Pedro do Sul,
Em criança,
O livro comprado no Café
Tavares, em frente ao rio, lia o sorriso dos patos bravos acabado de acordar e,
mal sabia o que era a paixão.
Duas coisas eu já sabia;
ser filho único e com mau feitio,
A noite trazia-lhe as
mentiras das montanhas adormecidas, sexo só à noite, junto aos pinheiros e, ela
sempre que acordava,
Ele,
Não sabia nada à cerca do
ciúme. Tinha fome. Alimentava-me de cigarros adormecidos, café envenenado por
uma cidade esquecida na tempestade e, debruçava-me no parapeito da forca,
estendia a cabeça, colocam-me a corda no pescoço e, voava até ao infinito.
Morreu de quê?
A saudade da mãe, os dias
intermináveis junto a um rio ancorado na neblina, folheava todas as fotografias
e, nada a dizer; amanhã ele estará melhor.
O avô questiona-o se já
tinha terminado a tropa e, com sorrisos embrulhados em mentira
Já, avô, já estou em
casa.
Não sabia o que era a
geada, tinha medo da neve e, pensava que as primeiras botas calçadas pertenciam
às forças especiais de qualquer ramo das forças armadas. Feridas. Dor. Das mãos
regressavam as aldeias em frieiras,
Calça as luvas, Luisinho!
Podia ter nascido em Trás-os-Montes,
mas não era a mesma coisa.
Olhei este vosso, meu,
Rio Douro. Mais tarde mostravam-me os encantos do Tua e, nunca mais chorei por
ela.
Uma cidade abandonada,
musseques engasgados no capim envelhecido, ao longe, o velho Zacarias, fumava
pedras da calçada,
Tão lindos os mabecos!
Numas longínquas férias
da Páscoa apaixonei-me por uma trapezista de um circo sem nome, no seu enlace,
Caminhei até às proximidades
do Ujo, perdi-me,
E, talvez hoje fosse
Presidente do Conselho de Administração do Circo sem nome, além, as gaivotas
dormem nos braços das mães que espreitam as mãos nocturnas da montanha, chovia
derradeiramente e, não havia nada a fazer; pelos vidros invisíveis das janelas
regressava até mim o silêncio travestido de frio, a porta de entrada sempre
aberta, alguém tinha furtado a fechadura e, em dias de geada, ao descer as
escadas embebidas no fino oiro geada, tombava e, rebolava até ao chafariz.
Na praça. Da praça.
Fotografaram-me junto à
Gricha, sentei-me em cima do burro e, tombei.
Todas as manhãs navegava
nas gavetas da paixão, escrevia palavras nas paredes do quarto, levei nos
cornos da minha mãe e, pedia ajuda ao meu pai: estava salvo. Mais um livro que
trazia na algibeira, quase sempre adquirido na papelaria Grifo. O hiper dos
anos 40, 50…, sentado na parte mais estreita do meu corpo, sentia o baloiço dos
meus ossos contra a manhã, dias seguidos enclausurado nas paredes amarelas da
hepatite.
À noite, percebia que de trapezista
eu nada percebia, chegar um dia a Presidente do Conselho de Administração, pior
ainda.
Sou um poeta.
- Novamente atrasado, Sr.
Fontinha
Sou um gajo de mau
feitio, pensava eu enquanto me entretinha a olhar o espelho convexo da noite,
olhava pela janela,
Em voz alta,
Ela parecia ter saído dos
banhos nas Termas de S. Pedro do Sul,
Em criança,
Foi o trânsito, meu
Capitão, as mulas estavam furiosas.
O avô Domingos espetava
pregos nos machimbombos, nos bolsos guardava a fotografia das filhas, mulher e
netos, sem que eu percebesse, que junto a eles e a elas, habitava um ascendente que tinha nascido em Lisboa e era cocheiro. O meu bisavô.
Hoje, quase todos, pó.
Eu, transeunte modificado
geneticamente, espero que acordem as ruas de Carvalhais.
Fui. Disse ele.
E, nunca mis regressou à
cidade da saudade.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 12/08/2021