A
via não regressa mais aos teus braços, meu amor, sentíamos os gonzos da insónia
acorrentados aos nossos lábios, o dia consegue alimentar-se das ardósias sonsas
do olhar, a noite envergonha-se nos nossos medos, de amar, ser amado, amarmo-nos
sem percebermos que amanhã o amor é uma lápide de lágrima, tive um sonho esta
noite, estávamos sentados na saudade
Saudade,
meu amor? Sim, sim meu amor, sentados na saudade, as cancelas da morte
entreabertas, sentados na saudade,
Amanhã,
meu amor, os pássaros brincando na janela virada para a Quinta, ao fundo o Rio,
o Douro envergonhado galgando os socalcos do desejo, a vida
Não,
não regressa mais aos teus braços
Meus
amor?
Sim,
claro, amanhã, amanhã sentiremos o odor dos sufixos aprisionados ao Dicionário
da paixão, a encosta, o medo de perder-te, meu querido, enquanto lá fora a
noite vomitava fotografias da tua infância,
Saudade?
Os
brinquedos, os primeiros beijos e cartas de amor, o papel, os poemas em
pequenos suicídios, milímetros de suicídio, aos poucos, a partida, o Adeus, a
brincadeira,
Não,
não meu amor, amanhã não
Não
consigo absorver-te como te absorve a noite, as laminadas fragâncias
enferrujadas no cabelo da invisível maré de Azoto,
Saudade?
Os
brinquedos
Saudade,
das vitrinas cobertas de sono, os bonecos e bonecas visíveis nas vitrinas
cobertas de sono, e a saudade regressava como um apito, a dor, o sofrimento, a
morte…
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
domingo,
14 de Fevereiro de 2016
in
“Amargos lábios do poema”