sábado, 14 de novembro de 2015

musseque da esperança


este rio de sangue

em direcção ao musseque da esperança

o cacimbo envergonhado na solidão

o triste amanhecer esperando nas mãos da manhã

um novo dia a acordar

novas palavras prontas para a vida

um livro sobre a secretária no silêncio a arder

nos teus lábios

junto ao mar

um barco amarrado aos teus braços

neste rio de sangue…

… impossível de zarpar

Sonhar

E crescer

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 14 de Novembro de 2015

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

o sofrer no corpo do sofrido


o viver do sofrer

no corpo do sofrido

a partida de um amigo

querido

sem fronteiras as imagens do silêncio

querendo fugir da multidão

quando ele


sente-se acorrentado ao luar

e tem não mão

uma rosa em papel

e tem nos lábios

um beijo de amanhecer

o viver

do sofrer

no corpo clandestino do sofrido…

o querer

não o poder

viver

sem ter

de mendigar o corpo do amigo

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 13 de Novembro de 2015

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

sombra


o infinito prateado teu corpo

quando desce a noite sobre o cabelo argamassado de silêncio

cerras os olhos

fincas os lábios na minha sombra…

e beijas-me

até dar-me conta que partiste

e já é manhã no meu pulso

e já é passado nos teus seios

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 12 de Novembro de 2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

mulher do meu saber


sofrer

morrer na vaidade da vida

quando a vida é uma vaidade desmedida

sofrer

sonhar e sofrer

mergulhar o corpo na clandestinidade da saudade

vivida

sonhada

sofrida

sofrer e morrer

na vaidade da vida

quando o sonho pertence à saudade

ser

não sendo o ser perfeito

aquele que todos querem que eu seja

um tonto

um desnorteado

sem o saber

absorto

mergulhado no sofrer

sofrendo

não ser

a abelha amestrada do silêncio

a gaivota da solidão sobrevoando a montanha

não o tenho

o amor

e a paixão

de amar

e ser amado

pelos pássaros da madrugada

ao amanhecer

o prazer

de fundir o meu corpo no teu

um só

um corpo

dois destinos

e três maços de cigarros

amanhã

não sendo

sendo o dia da despedida

a carta sem remetente

à deriva

a diva

mulher do meu saber

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 11 de Novembro de 2015

terça-feira, 10 de novembro de 2015

invenção de um corpo perdido


não percebo porque me sufocam estes cordéis de prata

enquanto desce docemente a noite

não percebo porque te escondes atrás de um cortinado invisível

quando o teu corpo me deseja

e me inventa a cada momento perdido

não percebo

me sufocam

estas palavras que giram à volta dos teus lábios

entre círculos

quadrados

e triângulos desassossegados

entre beijos e espelhos apaixonados…

não percebo

enquanto desce a noite

porque dança o teu corpo entrelaçado no meu

em viagem

quando o teu corpo me deseja

quando eu desejo o teu corpo

assim

dócil

transparente…

como nuvens envergonhadas

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 10 de Novembro de 2015

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

prateleira dos sonhos


sentir que aos poucos o teu corpo se despe de mim

e se despede em frente à mórbida madrugada

sentir que perdi as estrelas e as palavras

o sorriso

e a alvorada

dentro de um pequeno livro

tão fino como a tua pele desnuda

em pergaminhos desejos

o sorriso

e os beijos

e a alvorada

sentir que aos poucos

eu

não sou nada

como os outros

os que habitam as prateleiras dos sonhos

que vão procurar na insónia

a solidão

e o esquecimento

desse corpo

meu

despedido

despido

arrependido e suspenso no céu…

as cordas do inferno acreditando na misera gratidão

sentir que sim

sentir que não

sou

capaz

sentir que não sou capaz de despedir-me desse corpo camuflado numa qualquer sanzala

entre zinco e sombreadas flores

entre cigarros e pontes de luz

e belos amores

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 9 de Novembro de 2015