Tenho
no peito o cansaço da manhã ensanguentada,
Semeio
as palavras como se elas fossem sementes,
Cubro-as
para as proteger da geada,
Falo-lhes,
acaricio-lhes o cabelo com desenhos de serpentes…
Sento-me,
e espero que acorde a madrugada,
Amanhã
crescerão e nascerá um louco livro de poemas,
O
meu livro, o meu filho, a minha alegria,
Fumo-as
enquanto crescem,
Fumo-as
enquanto ejaculam a triste poesia,
Ai…
ai como eu queria…
Abraça-las
como se fosse o amor da minha tarde junto ao rio,
E
só de pensar que elas me esquecem,
Como
me esqueceram todas as palavras que semeei…
Desenhei
nos teus lábios,
Cantei
nos teus beijos,
Entre
gemidos e desejos,
Entre
silêncios e sábios…
E
perplexos adágios.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sábado,
24 de Outubro de 2015