segunda-feira, 25 de maio de 2015

O poema


O corpo morre

Embrulha-se nas palavras

E foge

Caminha na ausência do amanhecer

Senta-se

Abre um livro

Saboreia o poema

E sem o saber

O corpo

Levita

Saltita na montanha

Até o dia nascer,

 

Até o dia morrer…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 25 de Maio de 2015

domingo, 24 de maio de 2015

Tarde clandestina do silêncio


Em cada noite

A noite

Em desespero

Entre paredes

E o medo

Da noite,

 

Em cada noite

Ouvir

Sentir

De ti

E em ti

As palavras

Amargas

E belas,

 

Noites

Entre paredes

Descendo Calçadas

E veredas

Algumas verdes

Sonhos

Nos sonhos da Ilha

Outras verdes nos sonhos da ira,

 

Sem o saber

Nas palavras mortas embalsamadas e castanhas

Nuvens de prata

Na boca

Louca

Dos bairros em lata

E nada

E nada a atormenta…

 

Ela lamenta

A perda do livro

Na fogueira do corpo

Em brasa

Em chamas…

De nada,

 

De nada interessa saber

O calendário da noite

Que a noite engole

E come

Como um homem

Sentado à beira do rio

Desce

Sobe

Morrer

Afogado

Na tarde clandestina do silêncio

Do silêncio amargo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 24 de Maio de 2015

De imaginar…


Não mereço

O

O teu preço

O que significam as palavras

Os livros

Os poemas

Os poetas…

Quando a vida

É

Quando a vida é tão curta


Prostituta,

 

Sempre

Ele

Sempre ele em luta

E labuta

Na vida que é “puta”

Sem perceber a beleza dos teus lábios,

 

Meu amor,

 

Sem perceber as lágrimas

Do meu olhar

Meu amor,

 

Sem vista para o mar,

 

Não mereço

A tua mão no meu rosto

E é lindo

E pareço

Que esqueço

O Agosto

Dos nossos fictícios encontros

Nas palavras

Entre palavras

Meu amor

Meu amor

Dentro de ti,

 

Sem vista para o mar,

 

Sem casas

Ou ruas

Para conversar,

 

Sobre ti

Em ti

Meu amor,

 

Sem vista para o mar

O silêncio da tua boca

Argamassada no espelho da dor

Sem ti

Meu amor

Em ti

A dor

O medo

Das coisas impossíveis

E possíveis

De

De imaginar,

 

E de… e de acreditar.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 24 de Maio de 15

sábado, 23 de maio de 2015

Por ti


Não sei o que sinto

Enquanto vivo e respiro

Pareço uma máquina

Em pedra adormecida

Sem vida

Triste

E esquecida

E nesta vida se ontem chorei

Não o sei

E nesta vida se ontem sorri

Não o sei

Por ti,

 

Ali

E aqui…

Nesta casa

Neste Universo sem palavras

Não há conversas

Sem… sem lágrimas,

 

Não sei o que sinto

Quando me embrulho num lençol de mar

Com barcos

Gaivotas

E ossos… e ossos para recordar

Não sei o que sinto

Sem vida

Triste

Ali

E aqui

Por ti

Por ti…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Maio de 2015

Sem morada


O amor das pedras

Quando as pedras são pessoas

E as pessoas

Pedras

Sombras

Noite

Clara

Escura

Negra

A paixão

Das pessoas

Das pedras

Boas

Voar

Sobre

Voar sobre os telhados de vidro

E sonhar com pássaros em papel

O fumo

Do teu olhar

Regressa aos meus lábios em sono

A alegria

De chorar

Porquê

Se amanhã

Voar

No mar

Sobre o mar

Das pedras

Boas

Voas

Tu

Voar…

Voar sobre o meu peito de xisto

E ao longe

Socalcos

E luz

Entre candeias

E palavras

De nada

Obrigado

O poema ama

É vida

É viver

Em nada

Com nada

A morte

A morte ensanguentada

E sem morada

Nem chegada…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Maio de 2015

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Vento invisível no teu olhar


Começo a ficar cansado destes corredores, do metro de superfície e das árvores, enquanto fumo, nem consigo ouvir os pássaros; ou já não existem pássaros, ou não querem falar comigo.

 

Sinto-me entalado entre o meu corpo de sombra e o silêncio,

Caminho na estrada da solidão

Na ânsia de encontrar a noite,

E pergunto-me…

Porque não é sempre noite?

Não regressam a mim

Nem os pássaros,

As árvores,

E apenas vivo com o medo poisado nos ombros,

Fingir,

Sorrir a cada sorriso,

Sem vontade de o fazer,

 

Sem vontade de sorrir

E viver,

Nas árvores,

Nos penhascos pintados de Primavera,

Quando é sempre tempestade,

Esta cidade,

Esta terra sem memória,

Cintilações nos meus braços

Das lágrimas envenenadas,

Conversar…

Chorar…

Ai os pássaros,

 

Ai as árvores,

Em sentido proibido,

Sem saída,

A minha rua,

A minha casa,

A minha estadia… por aqui, e ali…

 

Esqueci a minha morada,

Perdi todas as minhas palavras

No mar,

No rio

De sangue,

E sem vontade de falar,

E sem vontade de brincar

Nas árvores,

E com os pássaros,

Nos pássaros,

Abros a janela do meu peito…

E adormeço embrulhado no vento invisível.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 22 de Maio de 2015

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Quadriculado destino


Tumultuosos riscos de luz

Sobre a pedra adormecida do luar

Não há vento

Nem há mar,

 

Que alimente

Esta gente

Sem tecto

Sem… sem maré para abraçar,

 

E este triste barco

Fundeado no teu corpo de espuma,

Não há vento

Nem há mar,

E da bruma,

Apenas uma sombra entre palavras e cidades obscuras,

Deambulo nas desertas ruas

Que os teus lábios escondem,

 

Esta gente

Sem tecto

Sem… sem maré para abraçar,

 

E no entanto,

 

Ninguém o consegue parar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 21 de Maio de 2015