domingo, 5 de abril de 2015

Para ti meu amor


Desce a noite pelos teus ombros de silício

Percebo na tua voz

O silêncio poema da paixão

O falso livro

Embrulhando-se nos teus seios

Em prata

A sombra

O prateado fugitivo

Descansando o olhar numa livraria

Livros

AL Berto

Lobo Antunes

 

Saramago

Pacheco

Livros

Estórias

Cesariny

A sombra

Lapidando o teu corpo

Oceano de palavras

Mergulhadas no teu púbis

A madrugada

Livros

Perdidos

 

E achados

O amor

Meu amor

O significado verdadeiro da saudade

Nos dardos envenenados da solidão

A fala

Não

A sanzala mergulhada em lágrimas de cartão

O vento trazendo as coxas do capim

Oiço-a enquanto durmo

Os seios minúsculos

Masturbados na poesia nocturna da alegria

 

A noite

Não

A fala

Os lábios incinerados na lareira do prazer

O suor alicerçado à tua pele

A húmida vagina em imagens tridimensionais

O PET

O maldito PET

O juízo

A mentira

A insónia

Novamente

 

Triste


As ruas do teu sofrimento

A lotaria da vida

Morres

Não morres

Vives

Em mim

Meu amor

Vives nas minhas veias semeadas de tempestade

A saudade

Novamente

 

No meu corpo

O pénis encarcerado numa estrofe

O enjoo da solidão

Quando à nossa volta gravitam

Sombras…!

A penumbra tarde de Novembro

Nas janelas do Hotel da Torre

Belém

A vagina procurando cacilheiros de luz

Um cigarro

Dentro de mim

Aso beijos

 

E eu sabia que a carta

Sem destino

Morreu

O amor das sílabas encarnadas…

Travestis amigos numa mesa

A vertigem do amanhecer

Acariciando pássaros e cavernas de medo

Não tenho morada

Cidade

Casa

Rua…

Mas tenho um poema para ti meu amor.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Abril de 2015

sábado, 4 de abril de 2015

O último beijo


A barca desgraçada

Recusa-se a regressar

Inventa palavras

Desenha gemidos nas pedras

Vãs

E cansadas

A barca

Não

Sabe

O horário da morte

Finge dormir debaixo de uma lápide

De espuma

Canta a cidade

Os húmidos sorrisos da madrugada

A barca

Desgraçada

Recusa-se

Regressar

Aos teus braços

Ao teu corpo

Noite

Cama

A janela enclausurada nas tuas mãos

Mão

De veludo

As cabeças dos ventrículos de vidro

Nas fretas da insónia

Há sonhos

Há… há um esconderijo no teu peito

Os olhos te prendem

E não consegues liberta o sofrimento

Adeus

Ontem

A mão

De veludo

Recusa-se

A beijar-me

O vício curvilíneo dos telhados de zinco

As crianças lançando bolas de farrapos

Em chamas

Balas

A espingarda do silêncio

PUM…

Nas camufladas salas de jantar

O cadeirão sem pressa para descansar

Cerra os prateados ombros

Deita-se

Deita-se nas linhas transversais do infinito

Não

Espero

Nada

Teu

Olhos

Mãos

Mão

Não


Suicídio nas tuas coxas

A claridade dilui-se docemente na tua boca

Finas

Cores

Da tela em supérfluas marés de medo

O sono

E a alma de não ter alma

Desamadas

As flores do jardim do último beijo

A última carícia do teu perfume

As calças de ganga

Sentadas no cadeirão em fuga

E depois de terminarem os cigarros

Nada

Hoje

Finjo e fujo

Saltando o muro dos teus lábios…

E nos teus lábios

STOP

O vermelho semáforo envenenado na tua pele

Os pregos

Os sítios obscuros do teu corpo

Dançam e cantam

Hoje

Não

Mão

Mãos…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 4 de Abril de 2015

Confissão


Sinto o teu olhar

Nas madrastas canções de amar

O silêncio beijo escondido na tua boca

As palavras minhas

Percorrendo o teu corpo

A tua imagem melancólica

Nas vidraças dos rochedos

O segredo

O amor em segredo

Nas pálpebras do fugitivo

Amanhã não venho

Aos teus braços

Cansei-me das tuas alegres noites

Quando a sinfonia do orgasmo tricolor

Poisa docemente no Tejo

O amor

O amor sem compreensão

Que os orgasmos de lata

Cintilam

Nas árvores da saudade

Eu só

Esperando-te sem perceber quem és

Uma conversa em triângulos soníferos

Os fósforos

E os cigarros

Na aldeia da paixão

Mergulhar o teu corpo nos lençóis da tristeza

Acreditas?

Sempre

Amanhã

Outro dia

Outros homens

E outros barcos

O teu corpo polvorizado pelas pálpebras de cinza

O amor

Os beijos

As metáforas embriagadas nos cortinados da cama

Nua

Desfeita

Calibrada nos imperfeitos botões de rosa

Amo-te…

Como?

O sonolento poeta

Nas coxas da literatura

As canções

Os poemas

O teu corpo na minha cama

Sofrendo

Insónias e vapor de medo

Ao deitar

A fotografia da noite

Vivíamos debaixo de um cortinado de sémen

As cartas

E os telegramas

Infestados de viagens

E alegrias ruas do Rossio

Cais do Sodré

Putas à vez

Da cidade dos imbecis currículos de areia

Perco-me

Finjo

Nada

Morto

Nas palavras.

“Foder-te contra o espelho do infinito”

A vastidão das estrelas

Camufladas rosas de ensurdecer

Coloridas

No amanhecer

Voando

As gaivotas

No teu ventre…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 4 de Abril de 2015

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O carteiro


Vivíamos como dois círculos

Descendo a madrugada

Tínhamos no olhar

Todas as palavras do Universo

O corpo

Teu

Fervilhava entre duas rectas transversais

As paralelas sombras dos teus seios

Em cubos de medo

Quando a mão te acariciava

E da mão

A húmida esfera de sémen

As gaivotas pinceladas no teu ombro esquerdo

Voávamos nas montanhas do abismo

O exílio da luz

Que as tuas coxas absorviam

Nas imagens prateadas

Encarceradas num cinzeiro de vidro

Escrevia-te uma carta

Esquecia-me das palavras

Respondias-me

Nada

Como poderias responder-me

Se a cidade se tinha transformado em morte

Camuflada nas ruas e avenidas dos teus gemidos

O carteiro dizia-me…

Respondias-me

Nada

O carteiro respondia-me que hoje

Nada

Como poderias responder-me

Se deixaste de ter alvorada

Secretária onde escrever

E papel

Ardeu

Na tua boca em baloiços beijos

A loucura atravessava a cidade

Vivíamos entre cartas

E

E desenhos de chocolate

Em finas películas

Dormindo na tua pele

Domingo

A cancela do desejo

Encerrada

Reabrimos amanhã

Hoje

Nada

Papel

De parede

Com olhos de centeio

O vento abraçava-te e tu

E tu Domingo

Sem fala

Escondida nos barcos clandestinos da saudade

A água nas pétalas do teu sorriso

Tínhamos

A vida na vida

E a vida em papel

Hoje

De parede

Enferrujados poemas no púbis da maré

A casa inanimada

Dói-lhe?

Sem resposta

Nada

Sem fala

E tu Domingo

Suspensa no calendário da solidão…

Uma criança de luz

Nos teus braços

Fim.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 3 de Abril de 2015

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Entre paredes


O sono

Do soalheiro destino da palavra

O inferno

E a cabana

No vulcão do silêncio

Procuro

E perco-me nas tristes luzes da cidade

Amar-te se existes

E só se ama quem existe?

Ou o amor é inexistente…

Procuro

Nos teus seios

 

A delapidada canção do desejo

Sinto

Nas pálpebras

O cheiro do teu corpo

O “tesão de papel” mergulhado na inocência

Das coisas

Dos coisos

A manhã imerge nas tuas coxas de assalariada

A esplanada

Vazia

Com livros

E poesia

 

E lágrimas

(crocodilo)

O amante da insónia

Sentado na cabeceira do adeus

Aceno-lhe

E penso

Não regresses mais

Meu amor

As canónicas carícias

Do calendário “Gregoriano”

As plantas solidificadas no beijo da mediocridade…

Não tenho imagens

 

Desenhos

Ou pontes de cansaço

O transversal esforço

Na cama

Em gemidos

Meu amor

Não

Não regressava mais

Sabia-o

Como sei que hoje são dois de Abril de dois mil e quinzes…

E mesmo assim

Desprezei-a

 

Como sempre o fiz

Entre paredes

A simbólica melodia

Nas calças do amanhecer

Amanhã

Não

Meu amor

Sabia-o

Sempre

Sabia-o

Como sempre o fiz

Entre paredes…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 2 de Abril de 2015

Vertigem


A vertigem

O dia triste

Quando é envenenado pela saudade

Há no olhar da esperança

Um cigarro poético

Derramando palavras

E nuvens cinzentas

A rua perde-se em mim

Como eu me perdi nos teus braços

De aço

Prisioneiro dos cadeados invisíveis

O marfim dos dentes do crocodilo

Esperam-me sobre a mesa da sala de estar

Não estou

A porta encerrada

Sempre

Sempre

Como o mar submerso na neblina de sal

A vertigem

Apodera-se dos meus sonhos

Não há rios nesta cidade indesejada

Os peixes

Não

Não estou

Hoje

Nunca

À tua espera

Porque não espero nada

Nem ninguém

Como nunca esperei a madrugada crescer

Nos teus cabelos

A vida me come

A vida me mata

A fome

E…

Será que tens cabelos?

Fios de xisto

Descendo o Douro

O meu pensamento está longe

O Tejo

Aguarda serenamente a sombra do meu corpo

A ponte iluminada

Dançava

Quando o vento se alicerçava

E eu

Brincando numa parada militar…

Soldado de pedra

Com uma espingarda de nada

A vertigem sonolenta das coisas belas

Quando o dia

Hoje

Não

Nunca

Os peixes

Não

Não estou

A casa desassossegada

Com a minha ausência

Parti

E ninguém

Percebeu que não estou

Os livros na intimidade do desejo

A vertigem

Nas minhas veias

Caminhando apressadamente

Como os homens acabados de regressar

Do infinito

Os cubos e os círculos de gelo

Palmilham as lâmpadas do medo

Na ardósia

As equações do amor

Sem resolução…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 2 de Abril de 2015

Diário de hoje


Sem sentido

Os alfinetes da solidão

Espetados nas esplanadas dos enforcados

A vida

Um barco

Sem amarras

Dormir na cidade

Quando as ruas pertencem à madrugada

As palavras

Viagens

Regressar

Não regressarei

 

Nunca

Os corpos à poeira

Do adeus

Sem sentido

As mulheres que me abraçaram

E hoje

Sombras

Sémen de prata

Semeado no destino

Escrevo-lhe

E

Meu amor

 

Não acredito nos adormecidos continentes

Na chuva

A neve

Sobre a mesa

Rompendo as narinas camufladas na insónia

O pó

Branco

Sem estória

Ou regressar

Nunca

Mais

Vou desenhar o teu olhar de sentinela de papel

 

Na cama escrevíamos poemas no corpo

As mãos

Húmidas

Percorriam os livros de “Lobo Antunes”

Perdi-me

Regressarei?

Sem saber que amanhã

Às oito horas e trinta minutos

Tu

Meu amor

As sentinelas

Letras

 

Voando

Como os apaixonados casebres de nata

Extingue-se a luz dos milagres

Eu não acredito

Na tua língua

O casaco

E a algibeira

Pigmentos soníferos dos corações do sono

O casaco

E a algibeira

O amor

No amor

 

Letras

As avenidas

Os homens de negro

Os pássaros

As mulheres mais belas do meu cansaço

(Passou-se… oiço-os)

Mas esta vida é uma “merda”

Comestível pelas circunferências dos anzóis de Níquel…

Silencio-me

Cerro os olhos

A partida

Dois abraços e um beijo.

 

Beijo

Beijo

Beijo

Beijo

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 2 de Abril de 15