segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Coxas de xisto
(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
Nato
chato
imbecil eu
ignóbil
sonífero das
andorinhas em flor
esqueleto das
habitações sem amor
nata
chato
ignóbil eu
poeta das mandíbulas
comestíveis pela madrugada
calçada
imbecil habitante
das coxas de xisto!
Francisco Luís
Fontinha . Alijó
Segunda-feira, 12 de
Janeiro de 2015
domingo, 11 de janeiro de 2015
Acorrentado
(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
Habito este cubículo
de areia doirada
sem porta
sem janelas
sem jardim nem
palavras
habito este cubículo
iluminado pelo sofrimento
a cidade lá fora
fervilha
e vomita pedaços de
vento
… e melancolia
lágrimas de papel
encaixotadas num
círculo com olhos verdes
lápides escondidas
nas sombreadas avenidas
dos poemas
envenenados pelos seios da saudade
a liberdade
habita
neste cubículo sem
poesia
sem... sem noite
sem dia
habito
e vivo
acorrentado aos
braços de um marinheiro faminto
descendo calçadas
subindo montanhas de
algodão
habito neste
cubículo de solidão
e desenho nas
paredes do meu quarto...
o meu rosto
envelhecido
e espelhos negros
sem corpo
sem coração.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de
Janeiro de 2015
Corpos de Luz
(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
Esse teu corpo de
luz
algures no espaço
da solidão
ouvindo as lágrimas
sem nome
que anoitecem na
minha mão
esse teu corpo de
vulcão
descendo a montanha
do vento
depois...
alicerça-se nas árvores negras da tua boca
sílabas
estonteantes
e loucas
na ardósia tarde da
melancolia
a eira em ferida
o trigo em chamas
salivadas pelo
silêncio das palavras
e das vergonhosas
gaivotas sem asas
esse teu corpo de
luz
dançando na
alvorada meus lábios
demoradamente sós...
perdidas
esquecidas
mortas...
como todos os corpos
de luz
como todas as
palavras...
murmuradas
… e amadas.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de
Janeiro de 2015
Equações sem nexo
(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
O sangue comenda o
amor
um mecanismo
complexo
matrizes
equações sem nexo
integrais
equações
trigonométricas
em solidariedade com
a geometria das coxas em silêncio
dentro das tuas
cuecas...
Francisco Luís
Fontinha
Domingo, 11 de
Janeiro de 2015
sábado, 10 de janeiro de 2015
Esta noite
(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
Esta noite
desconhecida
quando há palavras
que se entranham no meu peito
estas veias onde
correm avenidas
e gajos sem jeito
e néones
travestidos de solidão
esta noite
a tua noite
sem janelas
sem... sem
entardecer
e no entanto
sou laminado pelos
teus lábios
incandescentes
a arder...
esta noite
vou voar no teu
silêncio
(se ainda existir em
ti silêncio)
caminhar na neblina
como se eu fosse um
fio de luz
em translação
as cinco primeiras
pedras do amanhecer
cinco apenas
nas palavras
estonteantes
mergulhadas em cubos
de gelo
e...
e... cabanas de
porcelana.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 10 de
Janeiro de 2015
O enforcado barco da insónia
(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
Habito nesta cáfila
cúbica de palavras envenenadas pela insónia
oiço o cheiro das
sílabas camufladas pelos rochedos da madrugada
não me perguntes
porquê...
quando deixo de
sentir o sorriso nocturno dos candeeiros em flor
há neste jardim
pássaros ferozes
incendiados pelo
incenso
que gritam
guerreiam... e
sonham
e sonham como se
estivessem esquecidos numa ilha sem nome
um barco desnorteado
enforcado
nos lábios da
cidade de vidro...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 10 de
Janeiro de 2015
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