segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O barco da paixão


O cordel em desassossego
no arresto do teu olhar
o barco da paixão em pequenos movimentos
espera o regresso do vento
como os teus olhos desesperam...
enquanto não nasce o dia,

o cordel consegue ludibriar o mar
e todas as canções dos teus lábios,

há uma campainha em desordem
uma planície nos teus seios que grita
e chora
porque hoje não há pássaros
nos teus cabelos cinzentos
e o esquizofrénico sono suspenso na madrugada,

lá fora saltitam as sílabas helicoidais de um poema vazio
triste como as lápides graníticas com finíssimas fotografias a preto e branco,

(o cordel em desassossego
no arresto do teu olhar
o barco da paixão em pequenos movimentos)
soluços avulso...
e rebuçados para esquecer a solidão
que gira... que gira como um canhão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 15 de Dezembro de 2014

domingo, 14 de dezembro de 2014

A estátua do medo


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sinto as tuas finíssimas lâminas de agonia
sobre os meus ombros de xisto
tenho nos versos a enxada do silêncio
e no peito a espada do cansaço
sinto as tuas lágrimas de estanho
descendo a calçada
como uma fotografia
morta
rasgada
e a noite constrói-se no teu cabelo
sempre que um relógio engasgado
adormece no pulso da insónia,
não existem imagens nas minhas mãos
tenho medo da cidade depois de se erguer a madrugada
sinto as tuas finíssimas lâminas de agonia
sinto as tuas lágrimas de estanho
nesta triste parede embriagada
pelo medo
pelo tédio...
morta
rasgada
uma algibeira sem nome
perdida na estrada
sem nome... esquecida na perpétua estátua da liberdade.




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 14 de Dezembro de 2014

Medo


Não tenho medo das tuas garras
não tenho medo das tuas hélices de marfim
que habitam em mim
não tenho medo da tua boca
dos teus lábios
do teu sorriso farsa
não tenho medo das tuas palavras
nem dos teus braços
não tenho medo da forca
da espingarda...
mas tenho medo...
da palavra “amo-te”!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 14 de Dezembro de 2014

sábado, 13 de dezembro de 2014

A minha rua


Esta rua que me alimenta
esta rua que me corre nas veias
esta rua sem sombras
esta rua sem candeias,
tem plátanos embalsamados
tem gaivotas em papel
esta rua que me alimenta
esta rua dos silêncios embriagados,
das plumas enfeitiçadas
esta rua construída com sorrisos de vento...
a minha rua tem casas
e... e flores em sofrimento,
esta rua das noitadas
e dos cinzentos olhares com odor a poesia
na minha rua habitam canções...
e palavras em agonia,
ai... esta rua dos alentos em evaporação
e das barcaças em melodia
esta rua é vida
... esta é a rua da fantasia,
sinto a sinfonia
das tristezas disfarçadas de madrugada
esta rua nunca está cansada
esta rua... esta é uma rua apaixonada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 13 de Dezembro de 2014

Sonolência saudade


Sou o carrasco adeus
da sonolência saudade
tenho nas mãos o papiro
e no olhar
uma espada invisível
não percebo porque choram as acácias
e os plátanos da minha terra
não percebo porque gritam os rochedos
que se alicerçaram aos meus braços...
se eu sou frágil
se eu... se eu sou um simples fio de luz
embrulhado numa lápide sombreada,

sou o carrasco adeus
da sonolência saudade,

sou o presente envenenado
que deambula pela cidade
sento-me junto ao rio
e imagino barcos em papel
que não regressam mais...
quem parte
quase sempre não regressa...
como os comboios de areia
esquecidos no mar
sou o carrasco adeus
da sonolência saudade
… sou a madrugada antes de acordar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 13 de Dezembro de 2014

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Palavras em vão


Estas palavras
são as tuas lágrimas
disfarçadas de anoitecer,
estas palavras
pertencem ao teu corpo
suspenso na escuridão,
estas palavras
são as tuas lágrimas...
entre as palavras... as tuas palavras de viver,
estas palavras
são as raízes do teu coração,
palavras, palavras... palavras em vão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A prisão do “Adeus”


Na prisão do “Adeus”
velhas flores são torturadas pelo silêncio da luz,
não existem janelas, não existe uma porta,
frestas,
ou... ou literatura,
lá fora, na rua,
ouvem-se os gritos dos pássaros e das abelhas,
há um subscrito negro onde alguém escreveu...
“para a morte”
as velhas flores não precisam de saber qual é o significado da morte,
elas são velhas flores torturadas...
pelo silêncio da luz,
(e a morte é o anoitecer de cheiros e sons
que só as velhas flores conseguem desenhar
nas húmidas paredes da prisão do “Adeus”)
na prisão do “Adeus”
velhas flores são torturadas pelo silêncio da luz,
não existem janelas, não existe uma porta,
frestas,
ou pedaço de areia com sabor a mar...
e as grades de ferro transformam-se em madrugada vestida de branco.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2014