Uma casinha habitada
por pequeníssimas lâminas de papel,
um coração de
cacimbo voando sobre as sanzalas com telhados de insónia,
um homem, um
poeta..., e a amante do poeta,
um corpo pendurado
na preia-mar,
que espera o
regresso do sonâmbulo cansaço da madrugada,
o silêncio
disfarçado de mendigo passeando-se pelas ruas da cidade,
uma janela que
nunca, que nunca se abre,
um poema nas mãos
da clarabóia com braços de luar,
uma casinha,
e lâminas de papel,
um sorriso, um
desejo... e três círculos de luz nos lábios do pôr-do-sol,
o sonho...
As paisagens
pigmentadas nas paredes da casinha,
as palavras
acorrentadas no estendal poético,
uma eira deserta,
uma eira de vinil girando na noite...
e o sonho,
e o lugar que me
falta alcançar antes de morrer,
a escola morta, a
escola um amontoado de escombros,
cadernos
apodrecidos,
quadriculados
momentos que ficaram sob a árvore de sisal,
um menino brincando
com um velho “chapelhudo”...
e um triciclo com o
assento em madeira,
o mar, o mar do
Mussulo em tracejadas rotações de amar,
no sonho, no sonho
de voar...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 14 de
Agosto de 2014