domingo, 21 de julho de 2013

Sílabas de papel

foto de: A&M ART and Photos

Pertencer-me-ás sílaba de papel que deixei suspensa em teus lábios cerâmicos
depois de adormecer sobre ti a noite com cinco estrelas de marfim?
Pergunto-me sem perceber que há muito perdi a esperança de levemente pegar em sílabas
que há muito me esqueci das rosas que roubavas nos jardins junto ao Tejo...
pertencer-me-ás, tu, sílaba em papel mergulhada em beijos de tinta?

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 20 de julho de 2013

Bailarino, tu!

foto de: A&M ART and Photos

Projecto-me tridimensionalmente no muro onde poisas, todas as noites, os cotovelos, seguras a tua doce cabeça com as pequeníssimas mãos de menina apaixonada, olho-te como se fosses uma imagem prateada tingida com pedaços de azuis cerejas que numa tela simplesmente mergulhada na noite desgovernada, ela, absorve-te, alimenta-se de ti como as abelhas do feminino pólen com sabor a masculino desejo, e depois de saber que és uma imagem prateada tingida..., os pedaços de azuis cerejas borbulham-se-te com cobertores suspensos numa janela dançarina, bailarina eu?
Bailarino, tu!
E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa, baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?
Bailarino, bailarino sem profissão conhecida, artista sem arte, Tímido, eu? Que me dera ser como tu, uma triste alga dentro do rio sonolento das varandas com gradeamentos enferrujados, tristemente, eles, dentro de ti, às sílabas farto eu escrever, Tímida ela?
Perdia-se-lhe os mínimos sons da sua voz nas pétalas doiradas das rosas transeuntes das ruas prostituindo-se como reles bancos de jardim, onde todos se sentam, e eles... apenas estão lá, não pelo prazer, apenas estão lá porque os obrigam a estar, porque se não fosse dessa forma...
Tímidos?
Os corpos reluziam como gaivotas, e das ripas em madeira dos teus ombros, as alegres asas de porcelana, meu amor, Tímida? Quando sei que o teu corpo é incenso que arde num prato de cobre, música alimenta-se em ti, e os versos
Bailarino, tu!
E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa, baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?
Versos no cardápio ao preço de vinte e cinco euros a dose, aprece muito, isenção de IVA, e com a oferta de uma bebida branca...
Bailarino tímido, eu, ou tu?
Tenho uma vida cúbica, tenho sonhos quadrados e sofro em círculo, sou um perfil geométrico, alimento-me de senos e cossenos, fumos tangentes hiperbólicas, e faço o amor com as equações diferencias..., afinal, quem sou eu? Um pedinte matemático? Um bailarino/Bailarina, Tímida? Um hipercubo com braços de esperma descendo escadas de cinzentos soníferos com orifícios a imitar as janelas de luar?
Bailarino, tu?
És um triste, és uma integral tripla sobrevoando o momento fletor dos teus livres seios na viga do desejo... oiço-te gemer, a musicalidade da tua boca é uma pauta com sons débeis, difíceis de engolir, fáceis de mastigar..., textos, palavras, livros bolorentos entre vacas e carneiros no centeio do tio Joaquim, vivíamos como dois palhaços embriagados pelos sorrisos das marés envergonhadas dos longínquos mares que descobrimos nunca terem existido..., e o vento
E o vento vai desalicerçar a tua singela estrutura de bailarina rodando em redor do teu centro de massa cuspindo momentos angulares como fazem as nuvens antes de adormecerem nos teus braços...
Ainda acreditas, que, eu, Bailarino... Tímido?

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

… um sonhador travestido de mendigo

foto de: A&M ART and Photos

Objectos complexos
quiçá dos número perfeitos que o corpo absorve
objectos como serpentes venenosas enroladas na garganta da morte...
e o teu novíssimo esqueleto de chita vagueia sobre os zincos telhados
que a noite esconde quando das estrelas vêem-se os alicerces da solidão,

Ove-se em ti o círculo de sombra que a madrugada esconde
vivíamos embebidos no pânico das amendoeiras em flor
percebíamos que um dia também seriamos flores com braços de xisto
e no peito um pequeno sorriso de rio elevar-se-á até ao cimo da insónia...
ouve-se que o teu corpo amarrota papel pedaços como palmas de sofrimento nas ardósias das tardes de suicídio...

Objectos cansados pelos sons poéticos dos teus lábios
dizes-me que sempre fui um louco
… um sonhador travestido de mendigo voando nas transversais ruelas da cidade
eu... sou a cidade
prostituindo-se com a poesia invisível dos trapos pincéis que o mar alimenta.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Participação na logos nº 3 Julho 2013



És uma chata quando me perguntas...

foto de: A&M ART and Photos

Três dias após beijar os teus lábios de andorinha, cessei os braços nas tuas mãos de porcelana... e morri, recordo-me de ter cerrado os olhos, o verde em mim transformou-se em cinzenta neblina sobre o cansaço dos veleiros estacionados junto ao Tejo, amar-te-ei, pergunto-me? Quem és tu, se todas as flores vivem e morrem... quando o vento se alicerça nos minguados dias de tristeza, alimentas-te de orgias fumegantes e de gemidos lareira desvairada, líamos em conjunto os livros não lidos, virgens, e vivíamos como se tivéssemos acabado de nascer,
És uma chata quando me perguntas...
Amas-me?
Não o sei, porque esqueci-me o significado do amor, porque me esqueci o significado das palavras... porque me esqueci que ainda vivo, pouco, mas vivo miseravelmente como um pássaro que percebe que no próximo cruzamento uma munição será disparada em sua defesa...
Levante-se o réu
Levantei-te e gritei o desejo por ti, das tuas tristes flores, dos teus alegres lábios... e gritei das tuas sulfurosas lágrimas de enxofre..., e dizem-me que sou um miserável, um triste, um quase vagabundo percorrendo veredas e caminhos encruzilhados entre migalhas de centeio e palhaços de pedra, um rio renasce nos teus olhos
Não fiques riste minha amada indefesa e sonâmbula das tarde de Domingo, Amas-me? Sabendo eu que não sei o significado de amor, dos sonhos apenas trago em mim as pobres imagens vagabundas com purpuras sílabas semeadas no meu peito, saber-me-ás um dia converter em arbusto de Belém?
Um rio renasce nos teus olhos, de mim parece-me infinito o adormecer e a insónia, lembro-me das tuas imagens decalcadas em pequenos muros de betão que dividem a velha cidade da nova cidade, e são tão lindos os teus olhos de luar que percebo o significado da tua tristeza, sinto-o rosnar junto ao meu pobre tornozelo, porque tudo em mim é pobre, e percebo, que ele, o meu canino... sem dúvida... o meu melhor amigo, viver como as flores?
Lembras-te de mim, ainda?
E vivo, como se hoje fosse o meu último dia a pensar em ti...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Das laranjas embalsamadas

foto de: A&M ART and Photos

Pareia em teu dúctil corpo de incenso
a melodia poética das flores em construção...
vivo-as como se fossem gaivotas sobrevoando o desejo dos teus lábios
enfim... como se fosses uma nuvem de chocolate com doces morangos
pareiam em ti as palavras silenciosas dos minutos travestidos
que os calendários transformam num jejum incompleto e disforme...

Alimento-me das tuas cansadas dores íngremes nas plataformas inclinadas dos discos voadores
aos pratos sobre o teu peito que uma mesa de quatro pernas dorme e vive na praia dos teus seios
incongruente porque lá fora mesmo debaixo das árvores do nosso invisível quintal...
barcos
guindaste de areia
urgem como rugas na madrugada sumarenta das laranjas embalsamadas...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A insígnia lágrima vestida de alegria

foto de: A&M ART and Photos

Trazias no olhar límpido a insígnia lágrima vestida de alegria
sentavas-te sobre mim e de longe ouvíamos as cansadas palavras
que migravam entre as madrugadas
mórbidas das manhãs sem marinheiro
galgando vales e campos aráveis como barcos em papel
subindo a montanha dos desejos às gargantas insolúveis da dor amanhecer,

Havia uma simples escada que terminava no segundo andar com vista para os lábios nocturnos
comendo morangos com pequenos cachos de brancas uvas...
trazias de mim a roupa pele em tonalidade de branco sujidade e sombras de torrado silencio...
mergulhávamos nos abraços que um velho esquisso transparecia através da luz da doente janela
com o coração salteando rochas de enxofre e ninguém conseguia pegar na tua doce lágrima
e fazer dela uma canção de amor ou... uma cancela com passaporte para a insónia,

Fazíamos as malas com os pedaços de tecido sobejantes das tempestades de areia
e sabias que na minha algibeira vivia um miserável humilhante verme com dentes em marfim
um transeunte em formato crocodilo que alguém trouxe de Angola...
e por engano vive
grita
ruge durante as noites de sexo sobre o tapete da casa de banho...

Trazias no olhar límpido a insígnia vergonha do corpo misturado em pequenos vidros
que desciam da nuvens embebidas em orgasmos vegetais das plantas de verniz...
escrevias nas paredes do alpendre palheiro as equações da eternidade
e um buraco de minhoca percorria-te o corpo sonolento dos soníferos de resina...
e inventavas noites a cada hora diurna...
como imagens desgovernadas a subir as escadas para o segundo andar onde habitava o nada

….

Ninguém percebe a tua boca quando se masturbam os teus lábios nas lágrimas do sofrimento...
confesso... e ninguém percebe as brechas de água que jorram dos teus lábios
confesso que a princípio pensei que eras uma lágrima voando sobre as escadas sem destino...
trazias... e gritavas... e rangiam os dentes em marfim dos esqueletos em flor
como tu e eu
dentro de um hipercubo apaixonado por rectas paralelas... fazendo o amor... algures no espaço vazio dos púbis em cacimbo quando mabecos e serpentes venenosas... derramavam sobre ti os uivos das sílabas das miseráveis algibeiras do mendigo com chapéu de bruma cor à tela desmaiada...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha