Está escuro
no exíguo espaço
dos teus braços
mantenho-me aceso
como uma fogueira invisível
no meio do campo
deserto
sem árvores
pássaros
ou... enforcados
marinheiros
procuro a enxada do
silêncio
e gemem as pedras
xistosas dos lábios da alvorada
escuro
nada
como o transeunte
sentado
na Calçada da Ajuda
procura
procura o carteiro
carta escrita
sem remetente
vem a morte
e leva-o para a
biblioteca
abre um livro
folheia-o como se
fosse o teu corpo adormecido sobre as lágrimas do veneno...
afugenta as palavras
e a tempestade
alicerça-se-lhe no peito
começa a voar nos
cortinados da noite
acende o seu último
cigarro do dia...
e pergunta-se
quando?
quando terminará
este dia...
a morte dos sonhos
envergonhados
lânguidos nas
janelas sem vidros
o mar dança-lhe na
algibeira da solidão
bebe um uísque...
e acredita que a
poesia
habita no terceiro
esquerdo dos teus seios...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de
Março de 2015