sábado, 5 de abril de 2014

Eternamente sonhos


Os muros da tua insónia servem para me ausentar dos teus beijos,
tenho medo das tuas mãos, e do teu sorriso, e dos... medo dos teus olhos de andorinha de papel,
os muros da tua pele são como o Pôr-do-Sol..., sento-me e imagino-me dentro do Oceano,
procurando algas, procurando barcos em esferovite... e coisas sem sentido, como os teus lábios,
cansados,
tão cansados que são eternamente sonhos,
pedras,
janelas com figurantes vestidos de neblina,
sandálias,
pernas,
as mãos da andorinha de papel...
procurando-me enquanto imagino o meu corpo prisioneiro no Luar...

Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 5 de Março de 2014

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Esqueletos cinzentos


Imagino-me embrulhado nos suspensos olhos dos teus lábios,
sinto-os a alicerçarem-se aos meus,
imagino-me acorrentado ao teu olhar,
pálpebra infinita da madrugada,
sinto-a e imagino-me em círculos verdes com braços de prata,
uma louca locomotiva entra-me porta adentro e finjo habitar nas tuas mãos de pérola adormecida,
imagino-me longamente só esperando as personagens dos teus sonhos,
os vivos, os mortos, sonhos... e os impossíveis de realizar,
como as tuas palavras,
difíceis de escrever,
impossíveis... impossíveis de pronunciar,
e depois regressam todos os esqueletos cinzentos da neblina,

Imagino-me sentado no teu ventre desgovernado,
sílaba cansada da literatura que poisa sobre os teus seios de sanzala,
imagino-me um menino apaixonado,
triste,
tão triste que... tão triste que acredito pertencer aos sisudos livros do luar,
imagino-me filho da noite em construção,
um menino rebelde, sem pátria, sem pão,
e à minha volta gravitam as tuas perdidas caricias perpendiculares aos relógios de pulso,
derradeira e desamada paixão, esta, viver não vivendo, amar... amar... não amando,
e no entanto,
eu, eu invento, eu corro em direcção aos rochedos das tuas coxas em silêncio...
imaginando, imaginando estrelas de papel nos teus cabelos de gaivota.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 4 de Março de 2014

Texto de Francisco Luís Fontinha – Divulga Escritor