Entre o Sono e o Sonho – Com
participação de Francisco Luís Fontinha
terça-feira, 21 de agosto de 2018
domingo, 19 de agosto de 2018
Camarada das noites perdidas…
O
que eu estranho na tua voz,
Os
musseques de Luanda, ao longe, a praia e o mar…
Sinto
o velho capim embrulhado nos meus braços,
Assobios,
Abraços,
Sinto
no meu corpo o sorriso dos mabecos, enfurecidos pela tempestade,
Chove,
a água alicerça-se no meu peito,
Estou
morto, nesta terra sem fim,
Dilacerada
como um cancro de chumbo poisado no meu sorriso…
A
morte é bela,
E
passeia-se pela minhas mãos.
Ouves-me?
Camarada das noites perdidas…
O
que eu estranho na tua voz,
O
silêncio das flores,
As
raízes do cansaço em frente ao espelho, sinto e vejo… o susto,
O
medo de adormecer no teu colo,
Meu
cadáver de lata,
Recheado
de lâmpadas encarnadas…
Ouves-me?
Camarada das noites perdidas…
A
jangada laminada,
O
sorriso de uma pomba, correndo a Calçada,
E
no final da tarde,
Antes
da alvorada,
Uma
pedra se parte, arde na minha mão, como uma faca de sombra…
Cravada
no corpo.
Assobios,
Abraços,
Enquanto
eu o que estranho na tua voz,
São
as sílabas do desespero.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
19/08/2018
domingo, 12 de agosto de 2018
Ausências
O
tempo não passa.
O
tempo é uma ameaça, um rio sem nome,
Escondido
na minha infância.
Mãe,
tenho fome,
Sinto
o vento na tua lápide imaginária…
No
fundeado Oceano,
De
pano…
Mãe,
me aquece antes que adormeça,
E
esqueça,
O
telefone,
Que
não me larga,
Durante
a noite,
A
desgraça,
Os
ossos envenenados pelo tédio da esplanada mal iluminada,
O
empregado,
Coitado,
Cansado…
Já
não me atura,
Foge,
Mistura,
O
tabaco com outras substâncias, folhas mortas, ausências…
O
tempo não passa, mãe.
E
sinto constantemente, em mim, esta miséria,
Que
me alimenta,
Mente,
Como
um Planeta adormecido,
Senta,
Senta
em mim as sombras das tuas lágrimas.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
12/08/18
domingo, 5 de agosto de 2018
Que sítio é este, meu amor!
Que
sítio é este, onde me trazias lágrimas e palavras,
Ao
final do dia,
Quando
o meu corpo sentia,
A
saudade desorganizada da fantasia,
Que
corpo é este, onde me alimentavas a poesia,
E
ao nascer do dia,
Uma
gaivota apaixonada,
Me
dizia…
Amanhã
não serás nada,
Que
amor é este, que trazes na lapela,
E
afoguentas o Verão…
São
palavras, senhora,
São
vírgulas envenenadas pelo vento,
Que
vem e vão…
Que
silêncio é este, menina das tardes perdidas…
Entre
rochedos e riachos, entre parêntesis e lâminas de incenso,
E
lágrimas vendidas,
Numa
qualquer feira, numa qualquer cidade,
Incendiada
pelos teus seios, numa qualquer madrugada,
E
searas.
Que
triste, meu amor, as amoras selvagens,
Dormindo
nos caminhos pedestres,
Descendo
até ao rio…
Setadas
na penumbra liberdade,
De
um beijo amaldiçoado…
Na
triste saudade,
Que
sítio é este, meu amor desgovernado, triste e cansado…
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
05/08/2018
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