sábado, 26 de novembro de 2016

Aborrecido de ser


Me encontro neste caixote em cartão

Que a vida me deu,

Esta casa fictícia que só as madrugadas absorvem

Nos confins da tristeza,

Amanhã, amanhã uma árvore em despedida

Entranhar-se-á no meu corpo ósseo…

Do esquelético desejo

Entre os beijos desenhados

E os beijos… e os beijos aprisionados.

Sou uma planície sem nome

Mergulhada na solidão dos meus medos…

Me encontro

Neste esconderijo de cartão

Como um sonâmbulo desconhecido,

Triste…

Triste e aborrecido.

 

 

Francisco Luís Fontinha

26/11/2016

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Escolho-te


Escolho-te pelas desventuras dos segredos proibidos.

Escolho-te pela vaidade das madrugadas sem dormir,

Quando no horizonte se esconde uma andorinha selvagem, triste, sonolenta…

Escolho-te pelas nuvens de prazer que sobrevoam as cidades desertas, e cansadas.

 

E dos fantasmas as alegrias do teu olhar,

Escolho-te pela luminosidade da alvorada antes de acordar,

Golpeando a terra abandonada,

E fria da solidão…

Escolho-te porque nascem estrelas no teu sorriso de silêncio adormecido,

Quando não vêm as lágrimas do destino.

 

Escolho-te quando na minha mão poisas, brincas, saltitas como uma criança.

Escolho-te nas tempestades do deserto,

Ou nas ribeiras descendo a montanha…

E quando te escolho… acorda o dia no meu relógio sentado à lareira.

 

 

Francisco Luís Fontinha

23/11/2016

domingo, 20 de novembro de 2016

Incertezas


Não sei o que fazem estes pássaros desajeitados no meu quintal.

A pobreza tomou conta deles,

Adormece-os enquanto não regressa a noite

E a doçura da paixão sobrevive ao luar,

Alimentam-se do meu cansaço que vive desassossegado na minha mão,

Insiste na nobreza do espaço,

Inventa tempestades de açúcar

Como se fossem nuvens em papel.

O sono é um livro de despedidas,

Palavras à solta nos socalcos da solidão,

O prazer construído na cidade invisível

Que imagina horários abstractos e doentes…

Não sei,

Não sei o que fazem estes pássaros desajeitados no meu quintal.

 

 

Francisco Luís Fontinha

20/11/2016

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

vozes


vozes

a camuflagem nocturna da paixão

nos meandros do sono anunciado…

os gritos

o subscrito lacrado

que o Doutor recebeu

do dependurado luar

enquanto escrevia

viu

viu o milagre acontecer

desceu as escadas

começou a escrever

sem recordar o espelho que envelheceu

numa tarde de Outono… mais adiante

lembrou-se da corrente

que trazia suspensa no pescoço

morreu

e via

as madrugadas

e a estrela que lhe mente

quando as vozes

vozes

adormecem no caixão

da paixão

vozes…

nas profundezas do poço

que o corpo não sente.

 

 

Francisco Luís Fontinha

17/11/2016

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Amoradas


Viajo entre linhas sombreadas

e nortadas,

corpos falidos,

corpos doentes,

palavras enfeitadas de tristeza

nas profundezas da solidão,

viajo entre linhas afogadas

nas defuntas madrugadas,

quando o silêncio morre…

quando o silêncio parte para outras moradas,

a triste fotografia do teu olhar,

a simples canção fundeada no porto da saudade…

um poema inventa-se

e corre

e morre nas amoradas

das simples palavras,

oiço-as,

oiço-as quando dos livros acordam as personagens da noite quebrada

e elas partem para o infinito amor…

sem perceberem a razão de viver.

 

 

Francisco Luís Fontinha

11-11-2016

sábado, 5 de novembro de 2016

Este medo que me vai matar


Do silêncio do sono

as amoras silvestres do destino,

do silêncio menino

as pálpebras quebradas da solidão

que só o sofrimento alimenta

em noites de traquinice…

a velhice,

enfeitada de clarão,

descendo a calçada cinzenta

que vive na cidade sem tino…

sentindo a voz que alenta

os cigarros da escuridão.

 

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 5 de Novembro de 2016

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Alvorada


Odeio a alvorada

em descidas bruscas

quando oiço no longínquo amanhecer

o cantar dos pássaros,

regressa o silêncio,

ergue-se a morte do esconderijo da montanha

sem que tu percebas o significado de envelhecer…

odeio a alvorada

no meu pulso transversal

escrito no quadriculado papel da ausência,

e da loucura do teu olhar

que também odeio

aparecem as imagens prateadas do sono…

odeio a alvorada

em descidas bruscas

no alpendre tua solidão,

a seara arde,

a centeio aconchega-se no teu colo

como uma criança perdida,

desorientada

e triste,

odeio,

odeio a alvorada

que traveste o teu sorriso de grinalda

quando lá fora chove torrencialmente,

a as lágrimas são pedacinhos de sombra

galgando o areal,

odeio a alvorada

em descidas bruscas

quando oiço no longínquo amanhecer

a pobreza de viver,

e não sentindo…

sentir o sofrer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 1 de Novembro de 2016

sábado, 29 de outubro de 2016

Sentindo o décimo sexto livro da paixão e da morte


A locomotiva da paixão

entre curvas e montanhas agrestes

há um apito na minha mão

um som esquisito e confuso

nas despenteadas tuas ventes

o fuso

sangrento do destino

quando galga o muro em xisto

o meu querido menino…

desisto

assisto…

impávido ao descer da madrugada

existo

pensando ser este o meu desatino

nas vozes á desgarrada

sem tino

o meu corpo ensanguentado

nas planícies do amor solidificado

meu olhar desapontado

do casebre abandonado.

 

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 29 de Outubro de 2016

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Aqui…


Aqui me deito

sobre o teu peito caiado

pela solidão das náuseas doentes,

aqui me vejo inventado

nas mandibulas das espadas inocentes,

saltitando no sorriso sem jeito…

que as marés transportam entre dentes…

aqui me deito

aqui me vejo,

voando sobre a cidade proibida,

e só.

 

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 27 de Outubro de 2016

sábado, 22 de outubro de 2016

Manhãs utópicas


Regressam os barcos das manhãs utópicas do sono

inventando marés de tristeza

nas profundezas da solidão.

Sinto-me tão pequenino nas mãos do sofrimento

como um fio de luz quando acorda o anoitecer…

mar adentro,

o meu olhar desaparece nos braços da lua,

e finjo não pertencer a esta cidade,

a esta rua.

 

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 22 de Outubro de 2016