quarta-feira, 15 de junho de 2016

Noite de ninguém


Uma fotografia sem ninguém

Dorme sobre a minha secretária,

Do lado esquerdo, deitada, a sonolenta caneta de tinta permanente…

Assustada,

Ausente,

De mim,

 

Que pertenço às imagens prateadas.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 15 de Junho de 2016

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Crianças de sombra


Morrem os dias de tédio,

Envenenam-se as horas com o tédio dos dias,

Desmoronam-se os castelos de areia

Sobre os corpos carbonizados,

Que os dias aprisionam aos barcos embalsamados,

Divide-se o silêncio pela insónia,

Subtrai-se à paixão a solidão…

E multiplica-se o desejo pela noite adormecida,

E assim, os dias de tédio,

Habitam-me como janelas acorrentadas ao sofrimento…

Morrem,

E divertem-se como crianças de sombra.

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 13 de Junho de 2016

sábado, 11 de junho de 2016


Lanças de paixão


Trago no peito

As ruas da minha cidade

Cravadas como lanças de paixão

Desejando o regresso do pôr-do-sol,

 

Trago no peito

As palavras dos teus lábios

O sussurro do teu Inverno

Quando lá fora descem as lágrimas do teu olhar,

 

Trago no peito a dor

A solidão das noites sem dormir…

Trago-te no peito

Deusa do meu sorrir,

 

Livro do meu amor…

 

Trago no peito

O teu sofrer

E os rios da minha ausência

E o medo de morrer.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 11 de Junho de 2016

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Simples palavras


Não. Não quero nos meus braços as tuas mãos de pérola adormecida.

Não preciso dos teus beijos de rochedos envenenados…

Antes da alvorada.

Não quero escrever nos teus lábios as minhas palavras de cianeto

Que trazem na garganta a madrugada,

Simples,

Tão simples como as flores abandonadas.

Não… não quero a tua sombra no meu olhar…

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 10 de Junho de 2016

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Só como os poetas da madrugada…


Ninguém morre sem primeiro experimentar o veneno da saudade,

O cintilante cansaço dos dias

Nas veias do condenado transeunte,

A cidade…

Ausente,

Meticulosamente só como os poetas da madrugada…

Sem nada na mão

Sem palavras escritas ou cantadas…

A caneta da solidão

Cravada no peito,

A espada do silêncio

Voando sobre as aldeias insignificantes

Do poema,

Como eu

Esperando o regresso do deserto

Sobre esta cama em chamas.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 8 de Junho de 2016

terça-feira, 7 de junho de 2016

Velas ao alto… mar adentro


Recolher a âncora e zarpar até ao infinito

Enrolar os cordéis do sono na alvorada

Velas ao alto… mar adentro.

 

A noite insemina-se nas mãos do marinheiro de pano

Descem as estrelas até aos rochedos da dor

Como espadas afiadas no peito do mordomo…

E sua ama

A dona do Palácio de papelão…

Expressa a ordem de condenação

Do triste sem-abrigo

A morte atormenta-o

E entranha-se-lhe nos ossos

O cansaço diurno dos espelhos cinzentos

Nas paredes de vidro

Que o palácio absorve antes de adormecer.

 

Amanhã este barco estará morto

Fundeado na tua mão como uma pedra de arremesso…

Velas ao alto… mar adentro.

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 7 de Junho de 2016

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Os sonâmbulos


Amanhã não estarei nos teus braços

Amanhã vou ser um sonâmbulo invisível

Passeando no jardim dos pecados

O meu corpo transformar-se-á em gaivota

Coisa pouca para os tempos que correm

Poderia ser um avião

Sem motor

Ou um barco sem quilha…

Com uma bandeira colorida

Amanhã não estarei nas tuas palavras

Que incendeias antes de eu acordar

O dia terminará com a minha ausência

E o destino adormecerá nas clarabóias do sofrimento

Levante-se o Réu…

E eu

Eu levanto-me dos teus braços

Escrevo o meu nome na parede da saudade…

E vou esperar pela sentença

Como um condenado ao prazer

Antes de adormecer…

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 6 de Junho de 2016

sábado, 4 de junho de 2016

todas as noites


todas as noites

entre segundos de espera e minutos de silêncio

o derradeiro sofrimento do relógio de pulso

sem tempo

imenso longínquo abstracto do corpo submerso no vazio

a alma desesperada suspensa num cabide de prata

e nas mãos sangrentas poisa o amor…

todas as noites

ossos em fotografias esquecidas no sótão da saudade

todas as noites

perdido na idade

a palpitação sonolenta do cansaço

quando os astros se sobrepõem aos anéis geométricos do beijo

infinito secreto amar

que deambula nas metáforas da montanha desesperada

pela infinita solidão

o sentir não tocando a tua mão

todas as noites

vagabundas auréolas de açúcar

sobrevoando o teu sorriso…

no pulso

um relógio enlouquecido pela tempestade das palavras

todas as noites

o medo

a palavra da palavra

brincando num caderno de nata…

e todas as noites

a lata

o zinco telhado da casa húmida

no triciclo de chapa…

morre lentamente

sufoca na janela sem vista para o mar

todas as noites

os barcos na algibeira da vaidade

prisioneiros do meu perfume

entre segundos de espera e minutos de silêncio

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 4 de Junho de 2016

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Sou tão feliz… sou tão feliz meu amor…


Sem tempo. Morro acreditando na serpente do movimento,

Que invade o silêncio do corpo.

Esqueço-me de mim,

Esqueço-me de ti…

E das tardes junto ao rio,

Sou o profeta do abismo,

O cansaço da tristeza…

Sem tempo.

Sem tempo alicerço-me à tua mão

Regressando de um outro poema não escrito por mim,

A tarde rompe a poeira do teu olhar,

Poisa cuidadosamente no teu peito…

E eu,

E eu fico sem saber se amanhã haverá estrelas no teu sorriso,

Porque o Universo cessa de chorar,

E dentro de ti,

Profundamente no poço da amargura,

As lágrimas do mar.

Cerro os olhos e finjo a morte do poeta sem ninguém…

Aflito enquanto a noite se aconchega na parede do amor,

Como uma tela aprisionada à manhã sem nome.

O eco dos teus anseios perfilados na escuridão,

Uma palavra em transe,

Senta-se no limite da paixão…

Sou tão feliz… sou tão feliz meu amor…

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 2 de Junho de 2016