quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O perplexo sentido da fuga do corpo em translação


O perplexo sentido da fuga

Do corpo em translação

O abraço submerso

Nas marés de ninguém

Acordar

Acender o último cigarro da vida…

Escrever o poema nas tuas pálpebras incendiadas pelo desejo

Que só a minha mão o sabe fazer

Ler-te o último parágrafo do meu livro

Oferecer-te um beijo

E partir sem regresso

Ao teu olhar

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 25 de Novembro de 2015

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Querido Novembro


Esta jangada que me transporta

Para os teus braços de alento

Sem água

Sem vento

Esta jangada morta

Na planície do pensamento

Espera o regresso da noite

Ergue-se no limiar da pobreza

Como se a beleza do corpo ardente

Fosse uma estrela em papel

Desfeita em pedacinhos

Na solidão fogueira…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 24 de Novembro de 2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio

Tínhamos uma nuvem de silêncio no nosso quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio, alguns caixotes desaromados, alguma roupa e um sonho, acreditávamos no amanhecer junto à geada, a esfera do caos esbranquiçada poisada na nossa mão, eu era uma criança mimada, filho único, Africano de nascença, apátrida e desapontado pelas raízes do poder, tinha medo, meu pai, tinha medo da tua terra…
E sem o perceber
Assim temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão salitrarem sobre a cancela da noite,
E que noite, meu amor, e que noite,
E sem o perceber acordei junto a um dos caixotes, sentia o vento do mar a entranhar-se nos meus frágeis ossos, chorava, gritava… nem um mabeco em meu auxílio,
E sem o perceber, tínhamos uma nuvem de silêncio no nosso quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio, e soníferos beijos, lembras-te, meu amor, o cheiro intenso da madeira envelhecida e triste, os pregos enferrujados de tédio, e algumas frestas de solidão, ninguém, ninguém imagina este concerto de sons melódicos e metálicos do sofrimento, a morte, a ressurreição e a alvorada,
A tristeza de não saber quem és…
 
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira, 23 de Novembro de 2015