quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O que é o amor?

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


quando o corpo se despe das palavras
e os ossos se vestem de sombras
o amor existe ou não existe dentro de um copo com água...
o que é o amor?
uma palavra
um sorriso
ou... um transeunte olhar reflectido no espelho da madrugada
com asas em papel flamejante...

não respondas!
não pronuncies a minha alvorada
quando eu nunca tive uma alvorada só minha...
nada
nem cidades
nem nomes
abstracto este retracto esculpido no tronco da árvore dorida
que só o silêncio consegue abraçar,

e o amor
amar...
mar
barcos com lábios de azimute embriagado
a água que habita o vidro sulfuroso... dorme
inventa plataformas de vinil
e a corda transparente do desejo
enfestada de vírgulas e traços e riscos e... e pontos de interrogação...

O que é o amor?


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2015


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Poema de luz

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


a náusea palavra aprisionada nos lábios da dor
trazes nas veias o poema de luz
que dorme nas raízes do medo
o silêncio do teu sofrimento
folheando um livro sem imagens
melancólico
abstracto
a ilha
sem árvores
sem casas de pano
como tínhamos no Inverno
sem percebermos o que era a saudade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015


Clandestino


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


não imagino a tua ausência
meu amor
sou o espelho do sofrimento
da tua luta
imagino as tuas lágrimas de silêncio
no pergaminho sono da clandestinidade
vais morrer
e nada tenho para escrever na tua lápide....


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Jardim de pedra


Esta paixão não arde
não termina
não existe,

e teima em suicidar-se...

ausente
sinto-me
árvore
pássaro doente
sinfonia
caixão...
melodia enfaixada nas palavras do Adeus
não pensa
e não quer
beijar o mar
como se o mar fosse os lábios de uma mulher
sem nome

e teima em suicidar-se...

o poema
o poeta
e todas as flores do jardim de pedra.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O cansaço da noite

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Encosto-me a este infeliz candeeiro
com sorriso de néones,
percebe-se do seu esqueleto enferrujado
o cansaço da noite,
há nele as carícias invisíveis do pavimento térreo
e das flores aprisionadas aos seus braços,
uma corda acorda
e passeia-se junto ao rio,
fumam-se cigarros nas sombreadas alvenarias de verniz
que o vento transportará para o silêncio dos teus seios,
uma lágrima de enxofre cai suavemente sobre o meu peito...
e amanhã não haverá alvorada,
encosto-me...
e escondo-me das tuas garras,
dos teus lábios com sabor a palavras,
e...
e encosto-me ao teu corpo
das canções à lareira,
hoje... hoje é Domingo?
não sei... meu amor!
uma corda acorda
e dança dentro da madrugada cinzenta
como uma balança...
velha e rabugenta.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2015