quarta-feira, 9 de outubro de 2013

os vampiros da paixão

foto de: A&M ART and Photos

são intensos
são mórbidos como sílabas de falsa prata
são comestíveis como os peixes do teu lago
no centro do teu jardim
são invisíveis
são caracteres desconhecidos que descem dos teus lábios...
são tristes as noites tua chuva
quando os alicerces de uma canção
caiem na escada de acesso ao sótão da solidão
são tristes
os corredores do teu coração
os olhos sem cor

tristes
de ti e em ti
são intensos
lindos
cansados
castanhos belos
apaixonados
como gargantas volúpias em desgovernados uivos

e beijos loucos nas cavernas dos púbis encarcerados
são intensos
são complicados
distantes noites
manhãs sem literatura
poesia adormecida
sem ternura
vadia
mendiga
são intensos
lamentos
os silêncios da insónia mergulhada na tua mão de cinza depravada

são rios
mares com algas voando entre as rochas
são frias
nocturnas
sexos evaporados nas lanternas de cartão
são destemidos
intensos
os vampiros da paixão

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 9 de Outubro de 2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

letras e letras e uma mão sobre o teu rosto envenenado pela insónia

foto de: A&M ART and Photos

não sei como és
não percebo das tuas sombras a neblina das rosas ao amor
não entendo a tua presença nas andorinhas em flor
não o sei
como és
ou... se o és
também
tu
uma flor
não sei como és
nuvem
ou simples pedaço de xisto

não como és
não percebo o porquê dos teus sete pecados mortais
das avenidas embainhadas
nas madrugadas
como és
ou se... és o que eu acredito que o sejas
uma gaivota disfarçada de veleiro
muitas fotografias esquecidas nos jornais
e no entanto
não sabendo como és...
acredito nos espelhos com abraços em aço Janeiro
não como o és

mas... seres o vento
uma janela mal fechada
um pérfido edifício em ruínas
como tu
eu
o és...
somos esqueletos vagabundos mergulhados no mosto cerâmico da paixão
mas... seres o vento
o amanhecer construído por jangadas de vidro
montanhas encarnadas
ribeiras
feiticeiras

ou... simples palavras
adornadas nas esquinas prateadas
não sei
como
o
és
não percebo as acácias em flor
os julgamentos complexos por aviadores com capacetes de cartão
escrituras
letras e letras e uma mão sobre o teu rosto envenenado pela insónia
não sei como és
não percebo das tuas sombras a neblina das rosas ao amor


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 8 de Outubro de 2013

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Um corpo submerso nas sílabas do desejo

foto de: A&M ART and Photos

Um corpo estaticamente só, um corpo submerso nas sílabas do desejo, um corpo entre montículos de saudade e rochas de insónia, uma luz alimenta este corpo, um espelho alimenta a luz que alimenta este corpo, um corpo... não é um corpo, um corpo vazio, solidificado, um corpo voando sobre a montanha da solidão,
Vens à janela, abres-te e sentes o vento em ti,
Um corpo inocente coberto pela espuma volátil do incenso, um corpo de água, só, um corpo cintilante, um corpo
Ausente?
Dorido, que não sente o corpo em corpo das flores...
Um corpo estaticamente só, um corpo submerso nas sílabas do desejo, um corpo entre montículos de saudade e rochas de insónia, um corpo poisado sobre o peito de um homem...
A imagem emagrece o corpo, a luz que alimenta este corpo, é alimentada por um outro corpo,
E o espelho depois de ser corpo.
Imagem, flutua sobre as vértebras do cansaço, e és transparente como as noites vestidas de negro, e és desejada como os pilares de areia das madrugadas em delírio, despes-te e olhas-te no espelho
(alimento a luz que alimenta o corpo)
O teu,
Quero ser um pedaço de montanha, ou um veleiro agasalhado de lareira acesa, caminhar junto a um rio com dentes em marfim, um corpo belo, desejável, um corpo em decomposição, a parte física sobre a mesa-de-cabeceira e a parte invisível dentro de mim, dentro da trovoada, das nuvens envergonhadas quando a luz ejacula sobre o abajur da tristeza e eu
O teu corpo é teu?
(alimentado pela luz que alimenta o corpo)
Desculpem... morri,
Um corpo de água, só, um corpo cintilante, um corpo
Ausente?
Quero ser o vestíbulo que habita no teu quarto secreto, a cabeça onde poisa o ombro, também ele... secreto, todo o corpo teu não existe, nunca apareceu à janela do meu castelo, o teu corpo é um embuste, falsificado, o ilustre Doutor das clarabóias domésticas que a tua mão abraça,
Quero o ser como são as palavras antes de escritas, aquelas que são pensadas e que por
Vergonha?
Pudor?
Um corpo belo esconde-se no interior de um cobertor, invento marés e mesmo assim
Não o consigo, não sou capaz que te dispas e fiques só corpo, só
Pudor?
Vergonha das palavras que tenho medo de escrever, vergonha dos beijos que tenho medo de desenhar na parede dos teus seios, o teu corpo, meandro sabático das sandálias em couro, os calções parecem perdizes brincando nos patamares no coração do Douro,
Vamos jantar?
Comer o teu corpo, ele, apenas ele... dentro do prato cerâmico, outrora em alumínio, hoje mendigo, o espelho que alimenta a luz ou a luz que alimenta o teu corpo, e uma corda feliz saltita nas mãos de uma criança...

(ficção – não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 7 de Outubro de 2013