Que o teu sorriso
Seja sempre o sol de cada
manhã
Quando acorda
Que o teu sorriso
Seja sempre o poema
Em cada dia
A cada poesia.
22/09/2023
Que o teu sorriso
Seja sempre o sol de cada
manhã
Quando acorda
Que o teu sorriso
Seja sempre o poema
Em cada dia
A cada poesia.
22/09/2023
O que posso eu oferecer-te no primeiro dia de Outono,
A não ser, um pedido,
Que te dispas,
lentamente,
Devagarinho,
Que poises aqui uma
pétala,
Ali, outra pétala,
Mais além…, uma outra
pétala.
Que te dispas, como se
despe o poema,
Ao cair da tarde,
Junto ao rio,
O que posso eu
oferecer-te no primeiro dia de Outono,
A não ser, um pedido,
Que te dispas,
suavemente,
E as restantes pétalas…
lança-as ao vento,
E guarda apenas uma,
Para te recordares de mim.
22/09/2023
Perguntavam-lhe o que ele queria ser quando fosse grande,
E ele,
Costureiro.
Como ele ainda não sabia
o significado de estilista, respondia que queria fazer vestidos para o chapelhudo,
Criança parva, aquela.
Um dia quando acordou,
olhou pela janela e decidiu que queria ser guardião de barcos, que felizes eles
eram, quando se cruzavam, apitavam e beijavam-se…
O mar agitava-se, às
vezes, outras, outras parecia um lençol de linho deitado sobre a tua pele, até
que descia a noite e levavam-me para o camarote.
Cheirava a Nafta e eu
gostava daquele cheiro, daquele silêncio da meia-sucata, alguns envenenados pelo
tempo, ali parados, parados a olharem-me. Deitava-me. De barriga para o ar, olhava
o tecto e desenhava círculos de luz com o meu olhar,
E ele nem percebia porque
acordavam os mabecos durante a noite a chorar…, quanto mais que ia para Portugal,
para a Metrópole. Raios.
E depois de desenhar os
pequenos círculos de luz, imaginava a lua a descer, a descer, até poisar sobre
a minha cama, pelo óvulo da janela, o mar, o salgado mar das tardes de poesia
junto ao rio, enquanto me deixa ir pela preia-mar e só acordava numa qualquer
pensão recheada de piolhos e afins,
Criança parva, aquela.
Um dia, qualquer dia,
percebeu que valia mais ter ficado no mar.
Era frio. Às vezes, às
vezes o cobertor não dava para os três, e mesmo assim, queria fazer vestidos
para o chapelhudo, descia a calçada, e virando à direita, aterrava num qualquer
aeródromo com cadeiras de ferro, e mesas de ferro. Ficava ali até acordar o dia…
até o dia se fartar de mim.
Um dia, qualquer dia,
quando se ia deitar descobriu que queria ser o silêncio,
Já sei o que quero ser
quando for grande,
Quero ser o silêncio.
E eu expliquei-lhe que
nunca poderia ser o silêncio porque ninguém pode ser o silêncio e que o
silêncio é quando Deus está… em silêncio.
Não percebeu, o miúdo.
Parvo, este miúdo.
Aos olhos da neve sou um
pedaço de alegria embebida em quadradinhos de ausência, já aos olhos dele,
Criança, parva.
Criança, parva.
O rio fartava-se dele,
pedia-lhe desculpa, despedia-se e só ao outro dia, por volta das onze é que
regressava, eu, lá, esperando que ele voltasse.
Talvez me pagasse o
almoço.
Olhava-o, pedia-lhe um
cigarro, e conservávamos sobre coisas banais, coisas simples, coisas de mim e de
para um rio; o cobertor parecia uma folha de papel vegetal, e sentia os meus
ossos em pequenos rangeres como gonzos loucos sitiados e revoltados numa
qualquer clinica psiquiátrica.
Durante muito tempo
acreditava que tinha deixado lá o sono em detrimento de trazer outras quaisquer
bugigangas. Depois um parvalhão ofereceu-me um par de botas, pesadas,
pesadíssimas como chumbo. Chorei.
À meia-noite ouvia o sino
e acreditava que ao outro dia, um qualquer dia, todos os pássaros seriam
livres.
Todos.
Estilista.
Quero ser estilista.
21/09/2023
Sento-me
Pego num cigarro
E penso
Penso que todos os loucos
têm razão
Quando dizem
Que não estão loucos
Sento-me
Ausento-me
E penso
Penso que um dia
Qualquer dia
Alguém vai encontrar uma partícula
Com velocidade dez vezes
superior à velocidade da luz
E a luz
Deixará de ser o limite
Penso
Sento-me
E fumo o que penso
Penso que um dia
Qualquer dia
O pequeno-almoço serão
dois gramas de poesia
E uma colher de
literatura
Sento-me
Ausento-me
E penso
Penso que um dia
Um qualquer dia
Não haverá noite
Não haverá dia
Haverá apenas fios de loiro
Inverno nas mãos de uma criança
Penso
Ausento-me
E sento-me
Sento-me e fumo
Fumo do que me ausento
E bebo o que fumo quando
me sento
E penso
Que um dia
Um qualquer dia
A chuva será de prata
E o Sol de oiro
E mesmo assim
Haverá gente
Gente que não sente
E infeliz
E triste como quem mente
Um dia
Sento-me
Ausento-me
E penso
Penso que não devia
pensar
Que pensar dá trabalho
Cansa
E dá sono antes de adormecer
E mesmo assim
Penso
E fumo
E bebo o que penso
E penso o que bebo
E não bebo o que fumo.
21/09/2023
Porque te escondes num
pedacinho de silêncio,
E não,
No meu olhar,
Porque te escondes nos
lábios da manhã
Desenhando sorrisos na
lua,
Porque te escondes nas
primeiras palavras da manhã…
Sem perceberes
Que as palavras que escondes…
São as palavras que te
escrevo.
Porque te escondes num
pedacinho de vidro,
Na página de um livro,
Nos olhos de um poema…
Porque te escondes, musa,
Quando o dia, quando o
dia sem o teu sorriso…
É um dia perfeitamente
estúpido,
Sem sentido.
Porque te escondes num
pedacinho de silêncio
E não,
No meu olhar,
Porque te escondes Princesa
da poesia,
Porque te escondes dos
meus poemas,
Porque te escondes,
Nesse pedacinho de
silêncio,
E não…
No mar do meu olhar.
21/09/2023
(desenho de fontinha)
Éramos o tojo
Nas mãos de Deus
Calejadas pelo silêncio
de uma qualquer madrugada
Quando o poema desenha o
seu orgasmo
Numa pequenina folha em
papel
Fez-se luz
Acorda o dia
Abre a janela
Puxa de um cigarro
E pensa,
Fuma um dos pedacinhos do
pensamento.
Éramos o tojo
A silva agreste nas mãos
do agricultor
A fome e o frio
As vidraças todas
partidas
Todas
E eles
Eram felizes
Com Deus o é.
Éramos o tojo nas mãos de
Deus
Criador do Céu e da Terra
Da mulher e do homem
Das árvores e dos
pássaros
Que voam
Sobre ti
Numa noite de Inverno
Junto ao rio
Debaixo do rio
O segredo imensurável da ausência.
Perdidos.
Eles.
Naquela triste escuridão
Dentro daquele malcheiroso
quarto
Horrível
A janela para um jardim
pobrezinho
Que nem pássaros tinha,
Perdidos
Perdidos de algibeira na
mão
Perdidos no pão
E perdidos
Mesmo de louco-perdidos
Ou perdidos de louco
Sem saberem que a loucura
é a saliva de Deus
E Deus…
Não o sei!
20/09/2023
Não sei se me perdoarás de todas as merdas que te fiz
Mas era difícil ser
diferente
Sempre fui diferente
Para ti
Não
(a merda de um filho
nunca cheira mal…, disseste-me tantas vezes…)
Não e talvez sim
Quem sabe
Um dia
Eu voarei,
Sobre o teu cabelo
ausente
No esplendor branco
invisível
Que quando nascia o sol
Brilhava como uma rocha
de mármore cinzento…
Depois…
Depois contávamos estórias
de mentira
Eu, prometia-te
Tu, que estavas muito bem
Eu, mentia-te e que
estava tudo bem
Tu, mentias-me que estava
tudo bem
Quando
Nada
Nada estava bem.
Ausente sempre o fui
De mim
De ti
De todos
De toas as coisas
visíveis e invisíveis…
Aí está
DEUS…
O teu deus
Pequenino
Mesquinho
Arrogante
Sim
Sim
Quando chovia… corríamos
em direcção ao capim.
E éramos felizes
Felizes
(e falta-te aquele toque
feminino da beleza)
O capim
Morreu com o estilhaço de
uma granada
Tu
Estás no teu altar-mor e
que não passas de uma foto
Nada mais do que isso
E eu
Procuro aquela cidade
A cidade do encanto
Do cheiro
Da terra quando cheirava
a terra…
Queimada.
Não sei se me perdoarás
E tão pouco estou
preocupado
Se perdoaste ou não perdoaste
De toda as merdas que te
fiz
Quero lá saber de Santa
Apolónia
Do Cais do Sodré
(e agora marchava)
Em direcção ao nada
À cidade perdida
No espaço
Na algibeira de um transeunte
Ausente
Sem ninguém…
E no entanto
Tudo perdoaste.
Tudo.
Coitado do magala
Escreve lágrimas em
cartas sem remetente
Fotografa com o olhar
todos os barcos que entram e saem da barra
E fuma compulsivamente
qualquer coisa esquisita
E sabes?
Não interessa
Tu sabes tudo,
Um dia
Eu voarei,
Sobre o teu cabelo
ausente
No esplendor branco
invisível
Que quando nascia o sol
Brilhava como uma rocha
de mármore cinzento…
20/09/2023
Luís