Ao cair da noite
Ouvem-se os tristes gemidos
Do gato negro,
Logo eu
Que confesso a Deus que odeio
gatos
(e Deus sorri, olha logo
tu… um coração de manteiga)
Que fiquei muito chateado
Muito triste
Quando me convenci a
adoptar um…
E depois
Coitado
Tal como o senhor Mário
de Sá-Carneiro…
Perdeu os miolos algures,
Ao cair da noite
Gemem as mulheres e os
homens em tristes pedacinhos de cio…
Quando uma gaivota
Nas mãos de uma vagina
Que vem de longe
Me abraça
E quase que come todas as
quadriculas do meu corpo,
Vou à varanda
Ao longe
A Nossa Senhora dos
prazeres
E logo eu
Um verdadeiro Ateu
Pensa
Sei lá em quantas coisas
penso eu
Penso que às vezes
Não penso
Penso que se eu tivesse
asas
Era um instantinho…
Até lá,
Depois penso em tudo o
que semeio numa branca folha em papel
E daí nada de novo
Como o Senhor Grande Luiz
Pacheco…
Puta que os pariu,
Ao caiar da noite
Sentem-se os orgasmos
lunares
Que brevemente acordarão
sobre cada alpendre
Das cabeças pensantes
E não pensantes,
Cai então a noite
E as mãos de um corpo
Procuram a saliva
nocturna do desejo
Há um púbis desenhado
Algures por aí
Junto ao Tejo
Ou junto a outra coisa
qualquer
Se Deus quiser
Amanhã será Sábado,
Cai a noite
Sobre todos os meus
papeis
Uns já dormem
Outros passam a noite
acorrentados a um pigmento de silêncio
Enquanto um marialva
resolve pela calada…
Roubar a lua
O luar
E todas as estrelas desejadas,
O corpo esconde-se
Dentro de uma mão
Junto ao rio
O corpo mergulha no outro
corpo
E um só corpo
Permanecerá junto ao
jardim dos poemas,
Enquanto o meu corpo
vagueia
Procuro nos poemas de AL
Berto
O silêncio
A paixão
A arte de mandar foder
Ou então
Ser eu o ofendido
(digamos: fodido)
E o corpo que transporta os
pássaros da noite
Passeia-se
Vende o corpo do vizinho
E habita num rés-do-chão…
Sem janela para o Tejo,
O corpo não sabe
O corpo desconhece…
Que dentro de cada corpo
Há um lápis de sonhar…
Quer de dia
Quer durante a noite…
Deixará sobre uma tela…
O teu nome.
07/07/2023
Francisco