Somos servomotores
Em dentadas rodas,
Temos nas mãos rotores,
Em passo motores,
Correias,
Correntes,
Vidas passadas
E vidas presentes,
Díodos de zener,
Amplificadores,
Montes e ventoinhas
E grandes amores,
Somos motores,
Suspensão,
Vielas e supositórios…
Tudo o que o senhor
doutor queira…
Em todo o caso,
Pega-se num circuito integrado,
Uma pobre espingarda
apaixonada,
Depois…
Lá vem a merda do
silêncio
E da madrugada
E mais nada,
Controladores,
Drivers,
Cabelo cortado,
E quando damos conta,
Uma pobre chapa em zinco,
Foge,
Corre,
Desce do telhado,
E senta-se junto ao rio,
Porra – que frio,
E para quê tudo isto,
Se amar uma mulher é mais
fácil de que construir uma ponte,
Uma cabeça zangada,
Um triste monte,
Aquele monte das árvores
alegres,
O motor roda,
A roda fode a cabeça ao
mecânico
Que coloca o motor no
caixão,
(o caixão da pedrada)
O caixão fecha-se,
Deita-se,
E morre,
E o mecânico,
Num ápice,
À dentada,
Corta os fios eléctricos
da alvorada,
A cachopa geme de desejo,
E do desejo,
Uma volta completa,
Deste e daquele
servomotor,
E fodidos estão,
Todos aqueles que pensam
que o díodo de zener
Não serve de apelido ao
menino;
A senhora professor grita
- Menino zener,
E quando a professora
gritava,
Eu, o coitado dos
calções,
Apanhava mais porrada,
Do meu pai não, porque
era um bacano…
Mas ficava com os cornos
a arder
Com as chapadas da minha
mãe,
E quando a minha querida
mãe me perguntava
- Menino dos calções,
correu bem a escola?
Eu respondia que sim,
Pois claro,
Porque mentir para mim
Significava o perdão de
uma carga de porrada,
E assim eu me librava.
Alijó, 30/01/2023
Francisco Luís Fontinha