Um dia
Qualquer dia
Ninguém vai saber
O que é um orgasmo,
Quando dois corpos
Se fundem nas lágrimas de
uma estrela
E uma pequena sombra do
luar
Entra no peito
(centro de massa)
E um silêncio de prazer
Explode nas nuvens do
desejo.
O orgasmo
Quando os dedos tocam
docemente nas páginas de um livro
Quando a mão acaricia a
capa de um livro
E dentro do corpo daquele
que toca e acaricia
Uma tempestade de
estrelas acorda
E um lençol de sémen é
lançado contra a madrugada.
O orgasmo de quando o
poeta termina o poema
E quando o escritor
termina o texto
E todas as personagens do
texto
Movem-se com ovelhas no
prado
E do prado,
O orgasmo do poema
O desejo do poema
O beijo
O orgasmo do beijo
Sobre uma cama de
amêndoas doces.
O orgasmo de quando uma
criança pergunta à mãe
Mãe como cantavam os pássaros
Quando ligavas o
interruptor da manhã
E uma melodia poética entrava
pela janela
E tu afagavas-me o
cabelo,
O orgasmo de quando um
menino pergunta ao pai
Pai como brincavam as
acácias da tua infância
E me levavas a ver os
barcos
E dos meus olhos um
infinito orgasmo de pequenos gemidos
Eram lançados ao mar.
E do mar
Regressavam a mim as
finas lâminas que só o prazer consegue fazer acreditar
E uma janela vaginal voa
sobre as esplanadas da inocência
O sol poisava sobre os
corpos fundidos em aço prazer
E às vezes o laminado silêncio
da noite
Pareciam pássaros
envenenados
Como abelhas perdidas no
mel.
O orgasmo quando uma mulher
abre a janela
E olha o mar
Como se fosse o seu
primeiro beijo.
O orgasmo quando o luar
brinca sobre a noite
Comendo palavras contidas
num pequeno cartuxo de medo
E sem aviso nem agrado;
O grito da tua boca
Quando o gemido inventa o
prazer.
Alijó, 25/12/2022
Francisco Luís Fontinha