E se despede de ti como
se fosses uma lágrima de luz,
Desce a tempestade sobre
a solidão dos dias, em poucas horas, depois do entardecer, a ribeira desparece
da imensidão dos socalcos laminados do desejo; todos somos pedaços de nada, quando
o nada se enforca no triste silêncio da alvorada.
Amar-te, como se fosses o
oiro da manhã.
À hora da despedida, como
sempre, a alvorada embainhada no perfume envenenado das sanzalas de prata, a
voz das árvores corria montanha abaixo e, pequeníssimos orvalhos adormeciam na
tua mão.
Tínhamos no sorriso dois
Oceanos de luz e, depois da espera, víamos o cansaço dos triângulos assassinos
que se despediam do luar, depois, alguém nos trazia as últimas nuvens de Março,
ao fundo o rio fundia-se com as palavras não escritas.
Ouviam-se os gritos
melancólicos das esplanadas de prata, o beijo alicerçava-se na tua mão depois
de percorrer todas as ruas da cidade, o uivo cansaço impregnado num simples
telegrama; morreu de quê, questionava ela.
Luzes clandestinas,
telhas de vidro, abstractos farrapos nos teus braços, como sempre,
nas aguarentas planícies do
prazer. E sabíamos que um dia tínhamos o mar encurralado como se encurralam os
pássaros nas gaiolas de sombra.
Um dia, outro dia, ontem,
hoje, a vaidade abraça-se nos lábios do lírio, o poema enforca-se nos lábios do
poeta, enquanto o poeta desaparece no cacimbo da vergonha. Que da lareira
emerja um pedaço ti, como emergiram os pássaros dos quarteis sitiados depois do
toque da alvorada. Depois disso, afagávamos os loiros cabelos do poema que
brincava no parque-infantil da aldeia. Escrevo-te;
Escrevo-te nas mãos
envenenadas que escondes na algibeira, saltitavas de pedra em pedra, de sorriso
em sorriso, escrevo-te recordando as lágrimas das mangueiras que voavam sobre
as lápides da saudade, enquanto lá fora, debaixo das sílabas lunares, as
palavras mergulhavam nos teus seios poéticos.
Ai a lareira, meu amor!
À hora da despedida, como
sempre, sabíamos quando os pássaros adormeciam, como sempre, sabíamos que
depois das árvores, os sítios se tornariam frios e escuros.
Sabíamos.
Como sabíamos quando
descia a noite.
Como sempre.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 11/04/2022