Olha para mim
Enquanto o sol brilha na
tua mão.
Escreve em mim
As palavras estonteantes
Do desejo.
Olha para mim
Enquanto o meu pobre
coração,
Em pedaços de beijo,
Voa em direcção às
estrelas cadentes.
Suplico ao silêncio
Que se despeça do meu
corpo,
Sabendo que lá fora,
Entre sombras e murmúrios,
As palavras estonteantes
Comem-me os duzentos e
seis pobres ossos.
Duzentos e seis pedaços
De nada.
Olha para mim
Depois de acordares e abrires
a janela,
Olha para mim
Enquanto o luar se deita
na tua cama,
Olha, olha para mim
Sabendo que da tua voz
tão bela,
Há um poema em chama,
Há um poema em trapos,
Com as palavras da
alvorada.
Olha-me.
Olha para mim
Montanha esbelta da minha
terra adormecida,
Com as árvores em papel
colorido,
Olha para mim
Montanha minha amada
querida,
Olha!
Olha para mim,
Corpo sofrido.
Olha para mim
Enquanto o sol brilha na
tua mão.
Escreve em mim
As palavras estonteantes
Do desejo.
Olha para mim
E ouve esta pobre canção;
São palavras que não
vejo,
São palavras que vão…
São as palavras dos
amantes,
Dos amantes em construção.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 03/12/2021