O
objecto luminoso que acerca o meu corpo, são sete horas e ainda não acordei,
imaginei-me nocturnamente um cubo de vidro com faces pinceladas pelo desejo do
orgasmo invisível que a madrugada nos oferece
Amanhã,
meu amor?
Nos
oferece a cada tímido minuto de solidão, nos oferece a cada minuto de
desespero, amanhã, meu amor, amanhã
Do
amor?
Amanhã,
os contíguos cortinados do medo embrulhados na atmosfera gasosa do abismo, o
objecto, luminoso
Do
amor, as canibais palavras que me bombardeiam diariamente, o amor, o amor envergonhado
pela minha miséria e pobreza,
Não
faz mal… sou feliz assim, diz ele todas as tardes junto à taberna, lá dentro
meia dúzia de cadáveres embalsamados pelo álcool, os ossos rangendo como
serpentes no acordar do amanhecer, desisto,
Luminoso,
desisto do teu corpo, alimento-me de pequenas drageias e alguns uivos teus, nos
oferece, e engana, o som da morte, rodopiando as tenazes aventuras como
acontecia em Lisboa, íamos ao Tejo, vomitávamos as palavras do Sol que
iluminava a parada, o amor, o corpo do amor, nos meus braços,
Do
amor, a vergonha da miséria, a miséria alheia, a minha, a que aqueles que me
odeiam preferem proferir a todos o acordar, deixam-me louco, sem palavras,
amargo, invisível, snobe e encabeçado nas alegres manhãs de Primavera, amanhã,
meu amor, amanhã
Do
amanhecer, da preguiça de me levantar, tomar banho e lavar os dentes, o frio, a
geada, a tua ausência, todas elas argumentos para eu
Amanhã,
amanhã meu amor, amanhã vamos ao beliche dos sonhos ressuscitar a alegria,
amanhã estarei no teu esconderijo, só, eu, para eu adormecer, fazer amor com o
teu silêncio, amar-te como o olhar das serpentes, nunca e nunca te dizer
Amo-te!
O
objecto luminoso que acerca o meu corpo…
Francisco
Luís Fontinha
domingo,
21 de Fevereiro de 2016