(desenho
de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
Mastigava
as palavras nocturnas do sono,
Enquanto
do outro lado da rua,
Alguém,
Alguém
gemia,
Uma
rosa nua?
Uma
pétala de rosa tua?
Alguém,
Enquanto
eu dormia,
Alimentava-se
dos meus sonhos entre círculos e triângulos rectângulos,
Acariciava
os catetos,
Beijava
a hipotenusa,
E
enquanto eu dormia,
Alguém,
Alguém
vestido de musa…
Nua
a rosa,
Pétala
a tua,
Mastigava
as palavras nocturnas do sono,
Desenhava
na ardósia negra do sentido proibido
Os
teus seios mendigando o meu peito,
Nunca,
Nunca
tive jeito,
Vontade…
E
alguém,
Sem
eu saber,
Entranhava-se
nos meus tristes ossos,
Alguém,
Alguém
gemia,
Do
outro lado da rua,
E
eu,
E
eu sentia,
A
lua,
O
mar agachado nas tuas coxas silenciadas pela amargura,
Tanto
tempo perdido,
Em
pequeníssimas folhas de papel quadriculado,
Chorava
e gemia,
Do
outro lado da rua…
O
poeta suicidado,
Uma
rosa nua?
Uma
pétala de rosa tua?
Alguém,
Enquanto
eu dormia,
Roubava-me
a tela da agonia…
Acorrentava-me
às paredes pinceladas de bolor…
Colocava
sobre as minhas pálpebras um cubo de gelo,
No
meu cabelo,
Uma
rosa,
Tua,
Uma
tua rosa nua,
Sem
sentido,
Os
livros que li,
As
palavras que escrevo e escrevi,
Não,
Não
eram para ti,
Porque
alguém,
Não
sei quem,
Injectava-me
nas veias finas lâminas de saudade,
Cerrava
os olhos, fingia estar vivo quando os barcos da alvorada subiam as escadas da sufocada
pensão,
E
eu,
E
alguém…
Gritava,
Chorava,
Sem
saber a razão,
Do
poeta suicidado
Subir
e descer as escadas da pensão,
Quando
a pensão estava deserta,
Morta,
Sem
janelas,
Sem
cortinados nas janelas…
E
todas as portas,
Também
elas,
Todas,
Todas
mortas,
E
alguém,
Não
sei quem,
Inventava
fotografias para eu folhear…
Enquanto
a pensão,
Enquanto
a pensão se afundava no meio da rua,
Mesmo
em frente ao meu cadáver descarnado pelo tempo,
Havia
vento,
Havia
lágrimas nos lábios do vento,
E
alguém,
Sem
saber porquê…
Ou
razão…
Deixava
o meu nome nas ruinas de uma pensão.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sábado,
5 de Setembro de 2015