sábado, 16 de maio de 2015

Amor invisível


Falta-me qualquer coisa,

Sem razão,

Acredito na morte do amor

E da paixão,

Dos pássaros

E do cacimbo,

Pego melodicamente no meu cachimbo,

Sabes, meu querido…

O amor é uma “merda”,

Uma farsa

E uma mentira de trapos,

Como o nosso olhar

 

Em dias de transeuntes embriagados,

Descendo a Calçada

E fundeados no rio,

Gritam,

Gritam pela liberdade do corpo,

Gritam pela ambiguidade dos beijos

E das caravelas em flor,

O imperfeito,

Amor,

Paixão,

Deslumbramento,

Enterro

 

E…

E a separação,

Madrugadas em papel,

As milícias do cansaço

Subindo as escadas da tristeza,

Penso,

E acredito,

Não aguento mais…

Não sinto as palavras

Nem percebo os teus desenhos no espelho do meu quarto,

Não tenho janelas, em mim,

Meu amor invisível…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 16 de Maio de 2015

sexta-feira, 15 de maio de 2015

O fugitivo clandestino anoitecer


Fujo de ti,

Transformo-me em cinza

Ao anoitecer

Sem perceber

Que na minha mão

Morre,

Um cigarro,

A arder,

Fujo de ti

E sei que da noite apenas regressam as sombras

E o cheiro do capim,

Entre sílabas e imagens,

 

Entre barcos

E

E náufragos sem identidade,

Ignoro-me

E fujo,

Como fogem os lírios em cada pôr-do-sol,

Como fogem os corações em cada solstício,

Perdi-me,

 

E fujo.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 15 de Maio de 2015

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Nas horas das horas


Nas horas

Das horas

O dia em morte lenta

Esvoaça-se pela sombra do infinito adeus

Uma mão assombrada

Acena

Grita

Chora…

Nas horas

Das horas

Regressa a noite

Sem hora

Nem nome

Para ser recordada…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 14 de Maio de 2015

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O poema abandonado


Há-de nascer nos teus lábios

A madrugada em papel

Com desenhos em lágrimas de silêncio

Depois

Descerá a Lua

E todas as estrelas de sorriso monótono…

Sobre ti

Com o perfume do desejo

Suspenso na tarde húmida do teu corpo

Há-de nascer

Um dia

Uma noite,

 

Qualquer

Indivisa

Sem fim

Nos parêntesis da paixão,

 

Há-de nascer

Sobre ti

E em ti

O poema abandonado

E esquecido

Que o poeta escreveu

Antes

De acordar

Em ti

E sobre ti

Há-de…

Crescer na tua mão,

 

E só com a morte irá partir!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 13 de Maio de 2015

terça-feira, 12 de maio de 2015

Desenhos no Tejo


Podíamos navegar na tempestade do sonho

Quando todas as nuvens dormiam

Quando todas as palavras

Em uníssono

Sussurravam nas pálpebras laminadas do medo

Eu… eu amo-te

Amar uma pedra

Com sentimentos

E da dor

As ingrimes escadas do cansaço

Não pertenço a este Rio

Não és o espelho do meu sorriso

Narciso escrito

Nas frestas do xisto amargurado

As gaivotas

Regressam

E em uníssono…

Eu amo-te

Pensavas tu

Pensava eu

Não sei

Quem sou

Quem és

Ontem

Ontem

Enquanto borbulhavam as sílabas do prazer

O livro que se lê

E vê

O corpo nu sobre o poema

E dou-me conta que faltam as personagens

O cenário

E o texto

E tu…

 

Eu.. eu amo-te

 

A Astronomia

A Física

E o teu corpo

Nu

Pensava eu

À janela

Podíamos desenhar no Tejo

Todas as crianças do Universo

E não

Nem crianças

Nem palavras

Na despedida.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 12 de Maio de 2015

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Pálpebras de estanho


Perdidamente só

Nos corredores da esperança

Acreditar

Sabendo que a mentira

É a verdade

De ser

E sentir

As correntes do desassossego

A melancólica palavra

Nos teus lábios

Ensanguentados de sílabas

E de orgasmos

Literariamente

Infinitos

Perdi os sonhos

E a vontade de desenhar o teu corpo

No meu corpo

Escrevo

Sem saber o que escrevo

O que sinto

Não sentido

A mentira

Transformada em verdade

Cerro os olhos

E acredito nas pálpebras de estanho

Que a madrugada constrói no teu olhar

E não consigo transpor o cortinado do sofrimento

Perdidamente só

Enquanto a montanha se abraça no medo

O papel fumado

Ardido

Consumido pela tempestade

Dos tormentosos alfinetes da sanidade mental

A loucura

Travestida de mulher

Escondida nas catacumbas da solidão

O que sinto

Não sentido

A mentira

Transformada em verdade

Cerro os olhos

E vejo-te deitado num caixão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 11 de Maio de 2015

domingo, 10 de maio de 2015

A enxada do silêncio


Tínhamos na enxada do silêncio

A esperança de uma nova madrugada

Ouvíamos todas as noites

O ranger do xisto contra os corações de sombra

E ninguém percebia

Que aquele

O rio

Que aquela

A cidade

Pertenciam-nos

Como crianças

Brincando

Sem destino

Ou vaidade

Como sonâmbulos de pedra

Dormindo

Num qualquer jardim

Entre beijos

Abraços

E palavras sem fim

Tínhamos na enxada do silêncio

A vergonha do cansaço

Porque habitava na noite um barco de sémen

Descendo pausadamente

A Calçada

E morria

E morria

Junto ao teu corpo

E morria

Enquanto te abraçavas às estátuas da solidão

Que caminhavam

Caminhavam

Que caminhavam na tua mão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 10 de Maio de 2015