Não sabia que o teu
corpo era um rochedo sem asas
que tinhas nas mãos
um barco em papel
sem marinheiros
sem passageiros
depois
acreditei que
habitavam no teu peito os beijos nocturnos dos pássaros
sem árvores
sem... sem
marinheiros
a tua casa parecia
uma cidade de mendigos
recheada de sombras
e cordas invisíveis
havia o ruído em
pedacinhos gemidos dos teus lábios
o sangue que
vagueava nas tuas veias...
dormindo como dormem
os rios e as ribeiras
sem passageiros
depois...
sem árvores
despindo as montras
iluminadas das ruas acrílicas
doentes
e cordas
acreditando nas tuas
fáceis palavras
deitavas-te no meu
cadáver ausente
encostavas a cabeça
na ombreira da minha língua
e esperavas
sonâmbula
humilde
como uma porta
apaixonada
fumávamos os
cigarros dos jardins de vidro
entrelaçávamos as
mãos no luar
e mais nada...
e esperávamos pelo
acordar da manhã
trazias na garganta
um petroleiro
sem gaivotas
a morte
os cães inquietos
nos socalcos dos teus seios...
voavam como
silêncios de nata
tenho pena do teu
corpo de rochedo sem asas
a tília embriagada
na sucata diurna da solidão
havia sempre no teu
corpo
uma chama
claridade fundeada
na lentidão dos círculos
que a madrugada
desenhava no teu púbis
tínhamos a paixão
na algibeira dos corvos
o negro
as paredes
cintilantes do teu sorriso
voavam
alegremente em mim
como um diário sem
rumo...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de
Janeiro de 2015