Esqueces-me como se
eu fosse um papiro em combustão,
um corpo suspenso na
fogueira da madrugada,
sinto-te dentro de
mim,
afogada nas minhas
lágrimas,
alicerças-te aos
meus braços de madeira prensada,
és o espinho
volátil do derradeiro amanhecer,
a válvula
incandescente dos meus sonhos...
na esplanada da
solidão,
Esqueces-me desde a
noite preenchida com quadriculadas manhãs invisíveis,
dizias-me que nunca
terminaria a luz dos olhos verdes,
e eles, morreram,
morreram como morrem as andorinhas,
como morrem as
árvores sonâmbulas dos cinzentos planetas,
Hoje sei que sou um
cansado verme de pano,
uma caneta de tinta
permanente que derrama sangue em vez de palavras...
Os cinzeiros do
adeus mergulhados nas planícies coloridas de amar,
Esqueces-me como se
eu pertencesse aos cadernos negros,
aqueles onde
escrevia poemas parvos,
textos esmiuçados
com sabor a Primavera,
sinto-te dentro de
mim,
e não consigo
assassinar-te,
viverás como uma
prisioneira...
e eu, e eu que
constantemente me esforço para te libertar...
e gritar,
Só, só me alimento
das triste sombras do teu olhar!
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 18 de
Outubro de 2014