terça-feira, 19 de agosto de 2014

Beijo desassossegado


Cintilava na fragrância manhã o beijo desassossegado,
Tinha na algibeira alguns grãos de pólen,
Quatro ou cinco abelhas…
E um sorriso nos lábios pincelados com o desejo,
Havia no seu olhar uma pequena cabana,
Junto a ela… uma ribeira, e uma cama,
Cintilava na fragrância manhã o beijo…
Quando da montanha começaram a ouvir-se os sons poéticos da madrugada,
Toda a aldeia iluminada,
O beijo desassossegado… dançou, brincou…
E quando a mulher onde ele habitava foi à janela…
Viu… viu outros beijos iguais aos dela, correndo para o mar…


E,
E ela percebeu que todos os beijos desassossegados,
São caravelas,
São a saudade entranhada na fragrância manhã,
(Cintilava na fragrância manhã o beijo desassossegado,
Tinha na algibeira alguns grãos de pólen,
Quatro ou cinco abelhas…)
E um sonho para acordar!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 19 de Agosto de 2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Imaginar


Imagino o teu corpo uma límpida folha de papel,
Lapidá-lo com as minhas mãos todas as palavras,
As possíveis…
E as impossíveis,
Meus Deus…! Tenho tanto onde escrever…
Imagino os teus lábios ao acordar,
(Húmidos, tranquilos como um veleiro à deriva no mar),
Suspensos nos meus, como se fossemos dois triângulos interlaçados no infinito,
Imagino os teus seios fundeados no meu peito,
Sem pressa de zarparem,
Esperando que regresse o amanhecer,
Esperando que eu termine de escrever,


(só… só não consigo imaginar,
O que tu imaginas com as minhas mãos de brincar…!)


Imagino o teu olhar,
Escondido na sanzala dos gritos,
Uns dias quer voar…
Outros…, outros deseja poisar no silêncio nocturno dos pássaros,


(só… só não consigo imaginar,
O que tu imaginas com as minhas mãos de brincar…!)


Imagino os teus gemidos dançando na seiva embainhada,
Como uma jangada,
Como uma palavra…
Imagino os teus cabelos suspensos na alvorada,
Livres,
Tão livres como o pensamento…


Imagino o teu corpo uma límpida folha de papel,
Lapidá-lo com as minhas mãos todas as palavras,
As possíveis…
E as impossíveis,
Meus Deus…! Tenho tanto onde escrever…
(só… só não consigo imaginar,
O que tu imaginas com as minhas mãos de brincar…!)
Imaginar…



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 18 de Agosto de 2014

domingo, 17 de agosto de 2014

O alicerçado enforcado


Há nesta árvore nua e ensonada,
uma vida sem alma,
um corpo fusco com odor a embriaguez,
há nesta árvore um sorriso,
uma varanda com fotografia para o mar,
o silêncio é contagioso,
doença que invade o alicerçado enforcado...
o homem que inventa tristezas,
o homem que escreve insónias,
há nesta árvore estórias,
madrugadas sem nome,
o homem...
o homem das asas negras,
esperando o regresso da jangada de granito,
ele não resiste,
e insiste...
desenhar na tempestade o infestado grito,
há...
há nesta árvore nua e ensonada,
um poeta em chamas..., um poeta que arde na fogueira...!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 17 de Agosto de 2014

Beijos de papel


Embrulhados em pura lã virgem,
acordam os lábios do entardecer,
há uma estrela que finge viver...
há uma estrela amarga voando em direcção ao mar,
uma mão que se esconde na neblina,
uma mão com olhos de menina,
embrulhados,
acordam...
os fictícios beijos de papel,
uma sombra que se esquece de adormecer...
na cidade dos coqueiros envergonhados,
nos lábios..., nos lábios embrulhados!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 17 de Agosto de 2014

sábado, 16 de agosto de 2014

Línguas de fogo


Tracejadas línguas de fogo,
sinto as mandíbulas da solidão a alicerçarem-se ao meu peito,
há um cansaço travestido de silêncio que alimenta este corpo de madeira,
que anda à deriva no rio nocturno da dor,
os livros divorciaram-se de mim, os livros parecem tentáculos de sílabas agarradas ao meu pescoço,
não me deixam respirar,
eles não o permitem...
sentar-me junto ao areal das cornijas de cartão,
sorrateiramente escondo-me no quarto envidraçado,
onde habita uma gaivota de porcelana,
e há nas fresta da insónia crucifixos doirados, algumas telas embriagadas e néons apaixonados,
… não consigo levantar-me deste rio, e eu não sei como sair deste círculo cinzento...

Sou todo absorvido pelas janelas da paixão,
embrulhado ás línguas de fogo, pareço um caixão de zinco descansando na despedida,
há uma madrugada em fuga, há uma rosa embalsamada que chama por mim...
hesito,
vou...
não vou...
aprisionados marinheiros de vodka em revolta,
oiço a voz dos agrestes pinheiros balançando na montanha do amor,
hesito...
vou... não... não vou...
não quero,
desisto da poesia!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 16 de Agosto de 2014

O corredor da mendicidade


Inventava no teu olhar barcos de esferovite,
desenhava nos teus sonhos rios sem nome,
vinhedos,
socalcos...
e tantos medos,

Inventava no teu corpo soníferos de verniz,
casinhas de papel onde brincávamos,
escrevia em ti o desejo sem giz,
inventava na tua almofada com bolinhas encarnadas o beijo...
uma porta que batia, lá longe, muito longe,
onde habitava o corredor da mendicidade,
tínhamos os cigarros suspensos no espelho do guarda-fatos,
e sentíamos o vento latir sob a janela da insónia...
éramos dois pássaros poisados num abraço de madrugada,
éramos duas rebeldes nuvens em direcção ao mar,
e sentíamos...
e tínhamos...

Amanheceres disfarçados de traição,

E inventava nos teus cabelos uma canção,
percebia-se na musicalidade das tuas mãos os tristes Invernos...
a lareira acesa e dois copos recheado com vinho do Douro,
os teus seios de diamante lapidado entretinham-se com os meus lábios...
e eu nunca entendi o significado amar,

Vinhedos,
socalcos...
e tantos medos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 16 de Agosto de 2014

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Triângulo equilátero


Estes quatro caminhos térreos,
que descem o teu corpo de montanha argamassada,
os rochedos verdes que poisam no teu olhar,
como se eles fossem grãos de desejo a planar nos lábios do silêncio,
o fingimento das palavras quando a boca do inferno se cerra hermeticamente,
a chuva que se alicerça nos teus ombros,
estes quatros caminhos..., estes quatro caminhos sem nome,
perdidos nas tuas coxas de arame,
que descem,
que sobem...
ao cimo do luar,
esquecendo o triângulo equilátero do sofrimento...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 15 de Agosto de 2014