foto de: A&M ART and Photos
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A imagem tua estampada no rosto inverso
do vidro
vêem-se de ti os cabelos da madrugada
trigonométrica procurando senos e cossenos
e dentro do círculo trigonométrico
os teus tristes lábios em três
quartos de pi radianos
a imagem acorda em ti e cansa-se do
silêncio transferidor
e as lágrimas envergonhadas como
pedras fundeadas na ribeira do Adeus
desaparecem ao amanhecer
tenho medo confesso-lhe
e ela desesperadamente
desenha-me na ardósia manhã como
beijos tangenciais ao quadrado do Amor
o rio flui até encostar-se à fórmula
fundamental da trigonometria...
e percebo que o seno ao quadrado de
alfa mais o cosseno ao quadrado de alfa é igual à unidade... a
(imagem tua estampada no rosto inverso do vidro...)
Imagino-te nua sem saberes que no
espelho encarnado vivem gaivotas veleiros
e pernaltas petroleiros
A imagem tua estampada no rosto inverso
do vidro
a equação da Saudade desfaz-se em
pedacinhos papeis...
que voam em direcção ao infinito onde
se abraçam rectas paralelas e ventos circunflexos
corpos incandescentes ardem como
ângulos adormecidos
há lareiras em desejo na janela da
noite
quando os versos transformam-se em
sanduíches de nada
e do nada
a tua imagem sem saber que as integrais
triplas são amantes dos cossenos hiperbólicos...
a matriz transposta invade o púbis da
matriz inversa
choras...
dormes... como uma criança deitada na
equação diferencial da paixão
e a tua imagem... e a tua imagem
esconde-se na lixeira do inferno.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2014