foto de: A&M ART and Photos
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havia suspiros na tua voz de chocolate
lanternas diurnas embrulhadas em finas
mãos de silêncio
escrevem-se nas palavras dos teus
braços
oiço as teclas dos teus dedos na
máquina do meu corpo
onde te espera uma folha de tristeza
para rasurares como uma tempestade envenenada
havia suspiros uivos nos teus doces
lábios
e dos beijos amargos o poema
envaidece-se
cresce
e torna-se homem
mulher
apaixonado
apaixonada
o amor morre como um esqueleto de vidro
amado
amada
desamada
desalmada
o amor desaparece dentro dos círculos
verdes das marés de incenso
havia suspiros nos olhos dos
crisântemos
sobre a térrea campa do desejo
na lápide uma límpida manhã ensonada
conversando sobre esplanadas
rios como cemitérios de ferrugem
e barcos como mulheres ansiosas pela
chegada dos corpulentos marinheiros do abismo
tínhamos uma algibeira recheada de
geada
tínhamos no peito uma mísera
envergonhada madrugada
húmida
comida pelo suor das palavras loucas
tínhamos no sexo uma fiada cinzenta de
cinza
que sobejava dos tristes cigarros em
papel crepe
havia suspiros nos olhos... e sempre
que chovia ouvíamos os comboios suicidarem-se nos carris do sonho
o sonho morreu junto aos arbustos em
Belém
o rio galgou as montanhas de gelo
e entrou na tua vida alimentando-a de
ossos e pedaços de sombra
havia suspiros
lágrimas
desajeitadas mãos na face de um busto
granítico...
havia suspiros de chapa doirada
nas sanzalas avenidas que sentíamos
das janelas de verniz
tínhamos uma lareira em cada suspiro
inventado no teu ventre
havia rosas vermelhas nos confins das
tuas coxas
migalhas de xisto entranhavam-se nos
teus seios borbulhantes
e nós que parecíamos crianças sem
infância
brincávamos como bonecas de trapos
e folhas de mangueira
ouvíamos o pulsar garrido do cavalo
branco
e sabia dos teus cabelos clandestinos
onde escondias o verdadeiro amor...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 31 de Outubro de 2013