foto de: A&M ART and Photos
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Excelente título para qualquer coisa com
palavras...
O que pensas da paixão em dias de chuva, meu
querido?
Excelente, divinal sorriso em silêncios brancos, os
lenços de linho e bordados pelas tardes infindáveis das suas mãos
de pergaminho, sentava-se no meu colo e abraçava-me, pedia-me
Posso beijá-lo?
Respondia timidamente que
Sim... talvez... silêncios brancos, lenços em
linho, e nos lábios seda pura como lágrimas de Outono nas videiras
nocturna dos socalcos virados para o rio, tudo parece existir, não
existindo, as janelas de xisto
Abriam-se nas clandestinas jangadas com velas aos
braços cansados nos Domingos depois do jantar, sabia-a apetecível...
mas a senhora dona sobre mim absorvia todas as cores do arco-íris,
comia-me a madrugada, e eu, nem com o amanhecer conseguia brincar,
acariciar, nada, como se ele fosse um corpo desejado e intocável
Posso beijá-lo?
E havias as janelas de xisto suspensas nos cabelos
da montanha, e havia as perdizes voando sobre os cachos
ensanguentados pelo suor de quem os apanha, carrega-os, e
As janelas de xisto
E
As janelas de xisto
E
Posso beijá-lo?
E ele beijava-o e víamos o amanhecer pregado aos
lábios da manhã...
E
Posso beijá-lo?
Perguntávamos-lhes se os beijos tinham açúcar, e
perguntávamos-lhes se o amanhecer tinha desejos como os homens, como
os homens, e como as mulheres, e as mulheres em outras mulheres,
depois e os tristes homens em outros homens,
Posso beijá-lo?
E depois
As janelas de xisto
Vinham as sombras da noite anterior, entravam-nos e
levavam-nos
Como crianças pela mão?
Como xistos em janelas de correr, guilhotinas
simplificadas,
Quer factura?
Guilhotinas transparentes entre rochas e ruelas
mergulhando a aldeia num frenesim de loucos, aviadores esqueléticos,
aviadores sobrevoando imagens a preto-e-branco do teu corpo
amargurado, absorvido pelo sémen nocturno dos esteios em palavras
cansadas que a mão dele deixavam ficar nos lábios de outro ele,
amavam-se
Amo-o, dizia-lhe entre sorrisos brancos, e no
entanto hoje procura moedas de cêntimo na Calçada da Ajuda, ouve os
apitos de um barco que partiu há vinte e cinco anos, para onde?
As janelas de xisto?
Beija-me,
E ele beijou,
Abraça-me...
E ele... timidamente... não abraçou... e
desapareceu dentro do cacimbo como se houvesse um túnel secreto no
peito dele, onde supostamente
As janelas de xisto?
Posso beijá-lo?
Que supostamente
E ele... timidamente... não acordou, e
desapareceu... que supostamente lhe tinham cortado com a tesoura da
dor...
O quê, o quê?
A vontade de amar, de amar como se amam as paixões
envenenadas em suicídios de amêndoa...
(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Setembro de 2013