foto de: A&M ART and Photos
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Sem muros, a seara livremente em movimento, a seara
alegremente voando como os teus doces dedos quando se entranham no
meu branco cabelo, e algumas das minhas folhas, ainda por escrever...
vão-se alicerçando nos braços da madrugada, venho de ti chorando
porque percebi que as cadeiras da vida, algumas, não muitas, estão
a morrer, primeiro o maldito bicho, depois... depois... a maldita
morte, e depois, bom, depois a tua aspereza dos violinos em flor,
havia sons que mal distinguíamos nos soníferas luzes da noite, e o
castanho corpo teu... amaldiçoado pelo cansaço
Tomba,
O musseque engorda,
A sanzala incha como pequenos frascos em vidro
quando miúdo colocávamos grilos e outros bichos, nãos os que matam
as cadeiras da vida, estes, estes apenas nos roubam os sonhos,
roubavam, porque hoje, nem bichos, nem sonhos, nem... nem o teu corpo
castanho,
Tomba,
Entre os charcos acabados de preencher como o
impresso de candidatura com o respectivo currículo, depois de
entregue
Lixo,
Depois de entregue
Nem para limpar o cu serve,
“Brancooo é papel e só serve para limpar o cu”,
gritavam elas,
E a sanzala inchava, crescia, multiplicava-se,
Lixo,
Sem muros, como vértices de areia engolidos por
sexos baratos, regressava da feira da Ladra apenas com as cuecas e
pouco mais, a vida de difícil passou a horrível,
E a diferença
Está no número, de autocarro é um, de
eléctrico... talvez seja outro, mas todos vão dar ao mesmo, e todos
me levavam de regresso, entrava em casa, subia as escadas tão
devagar que nem as ratazanas davam pela minha presença, mas ela
Isto são horas de chegares?
E eu perguntava-me se existem horas certas para
regressar a casa, mesmo apenas em cuecas, se existem horas certas
para as refeições...
Horas, tem horas?
Não, não as tenho, sou alérgico,
Mas ela entre perguntas e respostas, entre o vai e o
vou, fui e nunca mais voltei à sanzala, cansei-me das viagens
nocturnas pelas avenidas transatlânticas com bancos em madeira e
pássaros de pedaços papel, fartei-me da cubata apenas só com uma
porta de entrada, e juro
Detesto,
Juro que me irrita entrar e sair sempre pelo mesmo
sítio, parece de loucos, e de loucos, juro, preferia entrar pela
porta e sair pela janela, mas a cabra da cubata nem janelas tem, nem
cortinados tem, nem tecto onde suspender um par de calças
Tem?
Não, não tem não,
E entro em casa de cuecas na mãos, ela
De onde vens tu'
Venho da lua, venho do mar, venho de onde não te
interessa,
Adeus,
Era Domingo, acordei cedo, sem muros, a seara
livremente em movimento, a seara alegremente voando como os teus
doces dedos quando se entranham no meu branco cabelo, e algumas das
minhas folhas, ainda por escrever... vão-se alicerçando nos braços
da madrugada, venho de ti chorando porque percebi que as cadeiras da
vida, algumas, não muitas, estão a morrer, primeiro o maldito
bicho, depois... depois... a maldita morte, e depois, bom, depois a
tua aspereza dos violinos em flor, havia sons que mal distinguíamos
nos soníferas luzes da noite, e o castanho corpo teu... amaldiçoado
pelo cansaço
Tomba,
E O musseque engorda...
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Agosto de 2013