foto de: A&M ART and Photos
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Eu deixo a conversa fluir... como a água da chuva a
cair sobre o teu nu corpo, saboreando as partículas de desejo que
descem das nuvens..., ouvem-se as bolhas de sabão a cair nas tuas
costas, ouvem-se as sílabas mergulhadas nos teus lábios coloridos,
e aos poucos desces pelas minhas mãos como sandálias envenenadas
por uma calçada íngreme, e ao fundo, o rio, o Tejo, ele que te
espera, e te acaricia entre as medusas de olhos castanhos, sinto-te
dentro de mim, e sei, sei que amanhã não estarás na minha cama...
Vamos juntos... enrolados como duas serpentes
envenenadas pelo sémen do amanhecer... e lá fora uma maçã acaba
de tombar sobre os teus seios, afago-os e mordo-os com os meus finos
dedos, e sabes que penetrarei em ti como se fosses um livro de poemas
dentro da algibeira do espelho encarnado que acorda antes de acordar
o teu orgasmo, é tarde, o relógio da sala cansou-se de ouvir-nos em
latidos estranhos que atravessam as paredes de gesso e ripa, o tecto
olha-nos, e inveja-te, porque permanecerás eternamente nas suas
mãos, como um candeeiro suspenso e que ilumina a noite derretida em
pura seda como lençóis sobre o teu corpo de areia, é tarde, lá
fora dormem os homens e as mulheres, nós, nós permanecemos
eternamente acordados, e procuramos entre os estilhaços dos líquidos
sobejantes e adormecidos sobre a cama a saudade, e os beijos,
É tarde, para ti, quase que dormes, olho-te como se
fosse o tecto, e vista de cima, tu, pareces um jardim com flores em
papel... que voam quando tocas no meu peito, e fincas os lábios
ficando entre eles... uma pétala de orvalho,
Estás loucos, oiço-te,
Louco porque a poesia derrete-se como a manteiga
sobre os teus seios, louco porque mergulhas na chuva diluída em
pequenas lâminas de fogo, tu, tu ardes como um livro depois de lido,
folheado, manuseado cuidadosamente, e o papel da tua pele cola-se-me
como uma borboleta desesperada depois da tempestade, oiço-te
Estás louco,
Louco porque inventaram o amor, louco porque
inventaram o desejo e os jardins junto ao Tejo, e louco, louco porque
oiço os uivos teus beijos de encontro à prateleira onde moram os
livros de António Lobo Antunes, e louco
Estás louco,
E loucos, loucos barcos em gaivotas saciando o cio
nas noites que atravessam o Tejo, e do outro lado, os edifícios em
esqueletos vadios, que correm e comem,
Meninos, meninas,
Debaixo da tenda do circo que aportou por aquelas
bandas, o vento dá-lhes força nas velas e começam em corridas
vagarosas como palhaços velhos, e de bengala, e sorrisos nos seus
rostos
Meninos, meninas,
Procurando a fome nos vultos zumbis da avenida
adormecida, debaixo da tenda do circo, e todos os sonhos
realizáveis... O encontro – A chuva e o nu corpo dela.
(não revisto - Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Agosto de 2013 /
Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013