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foto de: A&M ART and Photos
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Sinto-me verdadeiramente encaixotado nos aranha-céus
que o teu querido pai me prometeu, entre um deles e um qualquer
livro, escolho um qualquer livro, e entre um qualquer livro e um copo
de vodka, escolho obviamente...
Um qualquer vodka, porque dispenso o livro, porque
dispenso um qualquer poema, porque dispenso o copo, sinto-o e
sinto-me encaixotado nas tuas mãos vendadas pelo sono, cerras os
olhos dos ténues pulsos de areia, pertences aos corpos clandestino
como os pequenos grãos e as distintas óbvias gotículas do suor tua
pela, cerras os olhos que jazem nos teus pulsos, suicidadas-te como
uma menina mimada, singela, como uma flor vagabunda num qualquer
palco, onde se ouve, uma qualquer banda, o piano melódico, e da voz
poética, ela, ele, transformam
“Demito-o obviamente”,
E demiti-me,
Deixei se ser o amantes nocturno das noites de
Verão, deixei de ser o clandestino mendigo passeando-se pela Avenida
ribeiro das Naus, enquanto escrevo, oiço a melódica voz de “Joana
Gomes” e dos “Fingertips”, e obviamente
Recordo, as saudades, de Carvalhais, e de S. Pedro
do Sul, e dizem-me que o rio ainda corre como corria, e dizem-me que
a eira ainda é a eira de ontem, pouca coisa mudo, apenas que o avô
Domingo deixou de passear-se de bengala e dorme debaixo da lápide
granítica onde alguém escreveu
“Eterna saudade”,
E demiti-me,
Hoje, hoje não amante, hoje, hoje não escravo do
amor “Slave to love”, STOP, e na primeira rotunda a segunda
saída, a respectiva plana de sinalização
“Precisa-de amor”,
Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns
míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra
como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por
dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz
melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente
apanha um chupa-chupa, lembro-me de quando ainda era eu, muito antes
de me demitir, lembro-me do Baleizão, lembro-me dos palhaços e dos
malabaristas, lembro da tenda do circo dançar sobre a minha cabeça
de menino
Mimada, tu
Eu, eu mimado, filho único, tinha um cavalo em
madeira, saltava o portão de entrada e entrava cidade adentro, a
cada machimbombo que encontrava gritava
Avô Domingos?
Nada
Avô Domingos?
Nada, nada de nada
Outra vez... Avô Domingos?
E encontrava-o numa transversal em Luanda com um
cordel na mão a puxar um machimbombo com olhos azuis e missangas no
pulso esquerdo, no direito
Machimbombo? Outra vez... Avô Domingos?
Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns
míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra
como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por
dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz
melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente
Triste,
Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns
míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra
como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por
dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz
melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente
Infeliz,
Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns
míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra
como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por
dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz
melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente
Cansada de ti,
E obviamente... demito-me.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha