quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Musseques da solidão…


Encosto o meu cansaço aos sons nocturnos das tuas lágrimas,

Sinto o silêncio do teu coração,

Fogem-me as palavras,

E o medo embrulha-se em mim,

Não tenho alma,

Não tenho fôlego para gritar aos pássaros…

Que habitam no teu cabelo,

E o rio que brinca nas minhas veias,

Aos poucos,

Cessa de correr para o mar,

Senta-se,

Lê… e desaparece nos musseques da solidão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 13 de Agosto de 2015

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O amor de tão pouco…

(Francisco Luís Fontinha)
 
 
O amor entre quatro paredes em vidro
Pincelado por um louco,
O amor de tão pouco…
Em nada satisfaz a luz da solidão,
Um coração dilui-se na madrugada semeada nas palavras,
O livro que o louco tem na mão…
Arde como ardem os cigarros das quatro paredes em vidro,
Esqueci como era o mar,
Esqueci como enferrujado está o meu corpo,
Sem perceber a mendicidade nocturna das pontes entrelaçadas nos petroleiros do luar,
O meu relógio cessou de gritar,
Afogou-se numa esplanada de vento…
 
Quando o rio brinca nos meus lábios,
Sinto-te correndo em direcção às quatro paredes em vidro,
Escondes-te no meu peito,
Sofres,
E não sabes o nome da minha cidade,
O amor de tão pouco…
Louco travestido de alvenaria,
Entro, sento-me… e fico até encerrar a livraria,
A paixão é uma tempestade de saudade,
E nunca sei se hoje há literatura nas tuas coxas,
E nunca sei se hoje há coxas embrulhadas em literatura…
Porque tu és um quarto escondido entre quatro paredes em vidro.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Agosto de 2015
 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

 
 (Francisco Luís Fontinha - Alijó)

Prisioneiro das marés vadias


Permaneço impávido em frente a este cadáver espelho,

 

Olho e sinto o mar enrolado nos meus braços,

Sou um prisioneiro das marés vadias,

Sem flores na minha algibeira,

As abelhas trazem-me os tristes beijos da madrugada,

Nos rochedos habitam os ossos da noite,

E nunca tenho tempo de sorrir para as estrelas…

Permaneço sentado,

De corda ao pescoço,

Como um boneco em palha…

Enlatado,

Vagabundo rosto,

Que ninguém consegue desenhar,

 

Que ninguém sabe consolar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 11 de Agosto de 2015

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

E desta carta… pó


Desta carta escrita

Nada restará

Será pó

Melodia desencantada

Como triste

A madrugada

Como triste a noite magoada

Desta carta…

Nenhuma réstia de silêncio sobejará

A enjoada jangada que transporta a solidão

Cai sobre a sombra desorientada dos meus braços alicerçados à terra

E eu sonharei,

 

Um dia

Uma cidade inventada

Nascerá no meu peito

Com ruas

Casas desabitadas

Gente cansada

Crianças à volta das árvores…

Gritando junto aos barcos em papel,

 

Não tenho medo

Não pertenço a esta melancólica avenida

Irritada

Sangrenta


E desta carta…

 

Pó.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 10 de Agosto de 2015